Capítulo 9

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Letícia:

- Pode falar Lê.

- Senta aqui comigo.

Sentei no sofá dele, apoiei a cabeça em seu peito e começei a repassar meu passado na cabeça, procurando um ponto certo pra começar, afinal, eu sabia que não seria uma conversa fácil.

- Quando você saiu da minha casa aquele dia, eu fiquei assustada, a gente avançou no que a gente tinha, e eu tive medo. Porque eu sabia, bem lá no fundo a intensidade do que eu sentia por você. No dia seguinte fui pra casa da minha madrinha, na serra. Me isolei pra pensar e estava decidida a fazer aquilo que a gente tinha se tornar algo maior. Mas quando voltei você tinha ido embora. Eu sofri durante dias, não comia direito, não saía, enfim, eu só dormia. Era a única coisa no momento que me lembrava você. A única pessoa que sabia era a Edna, lembra dela? - ele balançou a cabeça em confirmação - Ela era a única que sabia. E aí um dia... - engoli seco - um dia eu estava em meu quarto, era madrugada já, e ouvi passos. Achei que fosse imaginação, até que ouvi a porta se abrir. Ele perguntou se eu estava acordada eu disse que sim e ele começou a falar. Eu não era filha dele Lucas, eu era filha de um desconhecido, de um homem com quem minha mãe teve um caso. Ele disse que quando descobriu que minha mãe estava grávida quis matar ela, mas que não o fez, pois sabia que a hora da vingança chegaria. E tinha chegado. - eu já tinha começado a chorar, e soluçar não me ajudava em nada. - Ele disse que esperou por anos, que ficou só aguardando o momento em que eu perdesse a virgindade, pra que não ficassem marcas do abuso que ele iria cometer. Lembro dele me segurando, lembro da dor que senti, lembro de cada segundo como se fosse ontem. Ele me estuprou durante 6 meses, e quando eu finalmente reuni dinheiro suficiente pra fugir, recebi a notícia do acidente. Eu não sabia se ficava feliz, ou se chorava. Mas nunca contei disso pra ninguém. Nunca tive coragem. A Edna uma vez ouviu meus gritos, veio me perguntar o que houve, e eu contei. Nunca mais tive notícias dela, acho que ele a matou.

Eu já não conseguia parar de chorar e já não conseguia falar. Deus me dê forças, acho que Lucas vai sentir nojo de mim...

Lucas:

Eu não acredito que aquele canalha fez aquilo, minha menina chorava nos meus braços e eu desejei mil vezes poder voltar no tempo e ter ficado, se eu tivesse ficado nada disso teria acontecido, se eu tivesse ficado ela não teria sofrido abuso. Senti as lágrimas escorrerem e deixei.

Ficamos abraçados por cerca de uma hora, e então ela dormiu, eu a peguei no colo, levei pra cama, e quando levantei pra ir tomar um banho vi seus olhos se abrirem tristes. Como eu odiava ver aquela tristeza em seu olhar, se aquele canalha não estivesse morto eu matava ele, juro que ele estaria morto!

- Me faz esquecer? Por favor!

- Faço, claro que faço.

Fizemos amor devagar, sem pressa, com carinho. Eu abri meu coração naquele momento. Depois, fomos dormir, e sonolenta, quase fechando os olhos ela disse o que tanto quis ouvir.

- Eu te amo Lucas.

O Sabor de Uma PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora