Dos

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Acordar é um desafio para mim, encarar essa vida não é fácil. Eu queria muito levar a vida de uma adolescente normal, ir pro colégio talvez organizar um baile, pichar o armário de alguém, mas infelizmente não rolou.

__ Ola Cherry, como está nessa bela manhã?

__ Como consegue ter bom humor aqui dentro Lucy?

__ Se eu ficar deprê aqui eu vou pirar, eu não vou sair dessa tão cedo então vou encarar com um belo sendo de humor!

__ Você é inacreditável! -- sorri olhando para seus olhos azuis

__ Seu aniversário está chegando, animada?

__ Você sabe perfeitamente que não, só é uma..

__ Lembrança anual que você está envelhecendo longe da sua mãe,eu já sei -- sorriu para mim com seus olhos brilhantes

__ Você me conhece tão bem Lucy... É estranho o que temos

__ Mais estranho ainda você não estar com fome, porque eu estou faminta!! Vamos logo, não quero perder o horário do café -- exclamou me puxando pelo braço pela longa escadaria de madeira que dava até o refeitório.

__ Da pra você ir devagar? Não quero despencar daqui é quebrar um dente! -- brinquei

__ Ou o pescoço? -- debochou enquanto soltava meu braço.

Terminamos de descer e encaramos a realidade. Um belo café da manhã com mais de 100 adolescentes delinquentes, que bacana

__ Vamos logo, não quero ficar sem lugar e ter que sentar com os esquisitos! -- reclamou Lucy

__ Minha querida, nós somos esquisitas!

__ Sim, mas eles conseguem nos superar - retrucou Lucy.

Enfrentamos a grande fila, com empurrões, comentários desnecessários e pessoas cortando fila, como sempre, home Sweet home. Pegamos nossas bandejas e fomos em direção a nossa mesa. Lucy puxou a cadeira para mim e eu sorri em forma de agradecimento.

__ Uau, o cavalheirismo ainda existe - ironizei

__ Se depender de mim, nunca irá morrer.

Nós comemos sozinhas, sempre. Uma vez ou outra senta algum novato conosco depois ele não senta mais, o motivo ? Não sabemos, mas também não se importamos, aqui dentro é cada um por si, fazer amizades é algo perigoso, mas que eu resolvi correr o risco uma única vez.

__ Essa comida como sempre está..

__ Horrenda! -- completou Lucy batendo a colher com força no prato tentando desgrudar a gororoba da mesma.

__ Queria tanto poder filmar isso -- debochei

__ Senhorita, Hayle Hensem, venha comigo imediatamente.

__ Que merda você aprontou agora?

__ Eu juro que dessa vez eu não fiz nada Lucy, mas eu já volto, cuida da gororoba por mim.

Acompanhei a velha rabugenta até a sala da diretoria, eu pressentia que não era algo bom.

__ Vai entrar ou não? - perguntou a velha para mim, que me encontrava encostada na porta da sala repensando se devia mesmo estar ali

__ O que eu fiz agora? - bufei em cansaço

__ Nada, mas não trago notícias boas para você e sua namorada maluca

__ Ela não é minha namorada!

__ Não é o que parece, enfim.. isso não vem ao caso, É.. então, estamos tendo superlotação aqui

__ Eu percebi, instalando beliches por aí..

__ Então, tivemos que transferir alguns meliantes, e você é um deles, arrume suas coisas e amanhã cedo o ônibus sairá, pode ir

__ Espera? Como é que é? Transferida? Pra onde?

__ Quem faz perguntas aqui sou eu! Agora vá arrumar suas coisas

__ Não, eu quero saber pelo menos pra onde eu vou

__ Para que? Você não vai pra nenhum outro lugar diferente de um reformatório mesmo!

__ Não interessa, você não tem o direito de me transferir pra um lugar que eu não tenho conhecimento.

__ Ah eu tenho sim, está tentando inverter os papéis? Eu sou a autoridade e você a delinquente! Aqui não é um hotel 5 estrelas !

__ Vai se arrepender por isso!

__ Isso é uma ameaça senhorita Hensem?

__ Não. É apenas um aviso - sai batendo a porta com força.

Frustração, frustração me define nesse momento. Aqui é uma merda? Sim, mas existe uma pessoa que fez esse lugar se tornar suportável, e eu só estou aqui ainda por conta dela, mas perante essa situação não me cabe outra escolha a não ser propor a Lucy uma fuga.

Color BlindOnde histórias criam vida. Descubra agora