Prólogo

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Devo ter colocado umas 5 camisetas pretas na mochila, parei e o olhei para as roupas espalhadas na cama sem saber direito o que deveria sentir. Tirei duas blusas pretas e troquei-as por outras cores, sentei na cama e peguei o porta retrato em cima da cabeceira. Nós tínhamos 5 anos, e na época ainda usávamos roupas iguais, ainda não sabemos quem é quem na foto. Sorri lembrando da nossa discussão sobre isso. Ouvi passos e me levantei rápido encarando as roupas como se estivesse analisando alguma coisa.

- Sua mãe quer falar com você - Tia Natalie entrou no quarto estendendo o telefone para mim.

- Por que ela não ligou no meu número? - falei pegando o celular da mão dela.

- Ah por falar nisso estou confiscando seu celular e seu computador - me virei para Nat confusa enquanto ela ia para a minha mesa e pegava as minhas coisas.

- O que? Por quê? - Percebi que estava falando alto de mais. Ela já havia me deixado de castigo antes é claro, mas isso não era uma das coisas que ela fazia. Minha mãe deve ter dito a ela . Sentei na cama pesadamente me lembrando que ela estava na linha.

- O que raios está acontecendo?

- Oi para você também, mocinha - ela falou com aquela voz irritante de quem pode fazer o que quiser comigo "Eu sou a mãe e você é a filha esqueceu?" Já podia até prever ela falando isso em alguns minutos.

- Oi, mãe, tudo bem? O que diabos está acontecendo? - falei com a minha melhor voz de cínica.

- Eu não planejava já começar nossa conversa com você brava mas como não tem jeito vamos mesmo assim. - Ela deu uma pausa como se esperasse que eu dissesse algo. Como não o fiz ela continuou - Eu conversei com a sua tia e nós concordamos que está na hora de você voltar pra casa.

- Você não pode estar falando sério, nós já conversamos sobre isso você disse que eu...

- Eu sei o que eu disse mas eu sou sua mãe e sei o que é melhor para você, e isso significa ficar com a sua família.

- Tia Natalie é da família!

- Eu estou falando sério, Aurora! Você e sua irmã eram inseparáveis, até que você inventou essa criancice de se mudar.

- Eu inventei? Não fui quem arrumou um emprego idiota em outro buraco de cidade. A nossa vida estava ótima aqui.

- Para de pensar só em você por um segundo, Aurora - Minha mãe gritou. Ela não fazia isso desde que eu era criança. Se bem que como não moramos juntas aposto que ela continua fazendo isso. Ouvi ela respirar fundo.

- Eu já conversei com seu pai e com a sua tia, está resolvido. Natalie já foi na sua escola e pediu a transferência, você volta pra cá semana que vem, se despeça dos seus amigos - abri a boca para falar que nenhum deles estava aqui. Haviam viajado, voltariam em 2 semanas para a nossa festa, mas lembrei que ela não liga. Escorreguei no chão apoiando as costas na cama.

- Tudo bem, te vejo em 8 dias - ouvi ela falando o meu nome entre cortado. Desliguei o telefone antes que ela pudesse falar mais alguma coisa, eu estava sem chão. Não podia acreditar que ela havia feito isso. Tia Natalie havia entrado e se sentou perto de mim, me puxando para um abraço.

- Ela só está fazendo o que acha certo, Aurora - Abracei ela de voltando lembrando que em pouco tempo não vou mais vê-la com tanta frequência - Além do mais 2 anos e meio é muito tempo fora de casa. - Olhei para o meu quarto, todas as minhas coisas ali, minha vida, meus amigos. Tudo iria embora. Inclusive eu.

- Mas tenho muitas coisas aqui, não vai dar pra levar tudo no trem e...

- Eu mando pra sua casa depois. A sua passagem já está paga, sua mãe não quer discussões sobre isso - ela bagunçou meus cabelos uma última vez e levantou. Quando já estava na porta parou e olhou pra mim - e a ideia de pegar seu celular e o computador dessa vez foi minha. Pra você não arquitetar nenhum plano de fuga.

- Eu nem tinha pensado nisso! - Exclamei, levantando os ombros e sorrindo. Ela saiu fechando a porta atrás de si. Me levantei abri o zíper da mala e deixei tudo cair de volta na cama. Joguei-a  com força contra a parede e empurrei as roupas para o chão, senti meus olhos arderem. Pisquei várias vezes olhando para cima, não iria chorar, não por isso. Separei todas as minhas coisas mais importantes em cima da cama e coloquei cuidadosamente em uma bolsa menor. 

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