Aurora

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- Ela não pode te forçar a abandonar sua vida aqui! - Josh falou alto me fazendo diminuir o volume do celular.

- Ela meio que pode, é a mãe da Aurora... - Navia tentou convencer Josh mas foi interrompida.

- Navia, você não está ajudando - Charlie falou cantando e forçou um sorriso - Aurora você sabe que pode contar com a gente e, nós vamos dar um jeito, ainda podemos nos ver e tudo mais.

- É ainda podemos nos ver, a cada 6 meses nas férias! A gente vocês não podem estar falando sério, e o nosso plano de fuga? - Sorri me lembrando da tia Nat.

-Minha tia confiscou meu celular e meu computador nessa semana, e além de isso - Virei a tela do celular para a janela - Eu já estou no trem - todos choramingaram e depois fez um triste silêncio.

- Não pudemos nem fazer uma despedida pra você - Charlie não estava mais encarando a câmera e sua voz estava diferente. 

-Galera, Charlie, se você começar a chorar eu vou me sentir ainda pior. Não é como se eu tivesse escolha, mas talvez minha mãe esteja precisando de mim ou algo do tipo. Ano que vem nós vamos para a faculdade e tudo vai se resolver certo? - Ninguém parecia muito mais animado por isso mas eu não podia deixá-los mais tristes - Então, isso é tudo pessoal, hora da minha sonequinha, tchaaau -  Todos falaram de uma vez só e eu desliguei o celular. Não gostava de despedidas e não gostava que me vissem chorando, os dois de uma vez só então nem pensar. Puxei o capuz escondendo o meu rosto e me apoiei na minha cadeira, vendo a paisagem passar rápido do lado de fora da janela. Não sabia o que esperar quando chegasse em casa, eu quase não falava mais com Anna e não falava mais que 2 frases com meus pais. Fechei os olhos com força tentando parar de pensar nisso. Uma coisa de cada vez.      

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O trem desacelerou e eu abri os olhos imediatamente. Senti uma estranha familiaridade com Fort Collins apesar de ter estado lá por pouco tempo. Fiquei sentada por mais alguns minutos reunindo coragem para descer. Assim que eu o fizesse seria como aceitar que eu estava de fato ali. 

- Você precisa de ajuda, senhorita? - Um dos cobradores apareceu ao meu lado me tirando dos meus pensamentos

- Não, está tudo bem eu só...  - Forcei um sorriso me levantando, apontei para cima como se a minha mala fosse uma desculpa para ficar sentada. Agradeci sem jeito e ele saiu indo ajudar os outros passageiros que ainda estavam no vagão.

Dei alguns passos para longe do trem antes de avistar Anna na multidão, acenei para ela, que na mesma hora abriu um largo sorriso vindo correndo na minha direção. Larguei a mala no chão e a abracei forte por mais tempo que um abraço normal levaria. Nossos pais chegaram logo em seguida. Ainda abraçando Anna, olhei com o canto dos olhos para Everly, nossa mãe, para conferir se ela ainda estava brava comigo tanto quanto eu havia imaginado, mas ela parecia normal.  

- Ainda não acredito que você chegou, parece que faz uma eternidade desde que você esteve aqui - Anna finalmente me soltou e minha mãe veio logo atrás dela, me puxando para um abraço. Soltei-a sem falar nada e abracei meu pai também, meio sem jeito. Ele bagunçou meus cabelos e pegou minha mala.

- Bem vinda de volta, querida - Anna me puxou e fomos na frente, começou a falar sobre as coisas novas da cidade enquanto íamos em direção ao carro. Fui direto para um Ford Ka branco quando papai pigarreou.

- Aurora, esse é o nosso carro agora - disse apontando para um Fiat Cronos vermelho. Não havia se passado nem 10 minutos e eu me senti como se estivesse fora de casa a um século. Forcei um sorriso quando percebi todos me encarando embaraçados.

One of twoOnde histórias criam vida. Descubra agora