CAPÍTULO • 04 (Degustação)

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CAPÍTULO 04

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CAPÍTULO 04

SERENA

DIZEM QUE O cérebro da gente revive as memórias mais especiais da nossa vida quando estamos prestes a morrer, mas tenho certeza de que meu coração se encontra a caminho de uma parada cardíaca e tudo em que consigo pensar é no quanto odeio toalhas. O mundo seria um lugar mais feliz se elas apenas não existissem.

Céus! O homem aparece assim, do nada, no auge da liberdade como se fosse o próprio Adão no jardim do Éden... Fica difícil raciocinar sobre qualquer outra coisa quando se tem o fruto proibido balançando na nossa frente!

Posso ser virgem, mas de santa não tenho nem a raiz do cabelo. Não é como se desconhecesse a aparência de um homem nu, porém, os poucos que tive o desprazer de analisar tão de perto sequer podem ser comparados com o sujeito desconhecido na minha frente.

Mas, como tudo na vida possui um lado bom e outro ruim, esse mesmo indivíduo, que faria muita inveja em Michelangelo e sua escultura máscula e igualmente despida (porém bem menos dotada) de El David momentos antes de enfrentar o poderoso Golias, se tornará o causador da minha nova demissão.

Agora sim, acho que bati o recorde.

Para piorar, a tentativa de esconder os membros inferiores — todos os três — com a toalha, foi uma estratégia ineficaz; ele continua a manifestar o mesmo impacto visual causado pela primeira impressão.

Minha mente faz um giro de trezentos e oitenta graus, revendo os últimos eventos que culminaram em tamanha situação improvável. Por obra do destino, havia realmente uma seleção em andamento para a contratação de funcionários temporários no hotel dourado. Mas, além da vaga como garçonete no jantar beneficente promovido pelo dono do hotel, consegui substituir uma camareira que faltara o trabalho por motivo de doença.

O problema é que alegria de pobre dura pouco, e quando eu nasci alguém decidiu que a minha vida seria como um eterno acidente entre dois veículos dirigidos pelo cúmulo da pobreza e o cúmulo do azar, respectivamente. Uma catástrofe completa!

Quer saber?

Que se dane!

Um homem pelado, maravilhoso e todo trabalhado na testosterona, é de longe o menor dos meus problemas, por mais que esse emprego tenha servido para reerguer as minhas esperanças.

— Então, vai se fingir de muda agora? — pergunta com os braços cruzados na frente do tronco, os músculos flexionados exaltando sua boa forma.

Russos e o mau humor de sempre.

— Tudo bem, já entendi. — Coloco os lençóis de volta no meu carrinho de equipamentos; demoro mais que o necessário, para ganhar tempo. — Só não me sinto confortável, levando em consideração que você vai me denunciar para a gerência.

Entre Acasos e Destinos | LIVRO 2 | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora