CAPÍTULO • 10 (Degustação)

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CAPÍTULO 10

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CAPÍTULO 10

SERENA

AS PALAVRAS DE Vladimir, dizendo que esperava comprar a minha casa, assombraram-me durante todo o final de semana.

Ele se aproveitou do meu choque para escapar dos meus vários questionamentos e retornou para a festa. Minha chefe, assim que ficou sabendo do ocorrido na mesa dos noivos, foi obrigada a me dispensar, e não tive escolha a não ser voltar para casa.

Agora, enquanto subo os degraus do edifício onde Vladimir trabalha, deveria me preocupar com a interminável lista de infortúnios que só crescem na minha vida: a dívida de trinta mil dólares, um irmão degenerado que escondeu de mim a verdade sobre a casa dos nossos pais, uma ameaça de morte com contagem regressiva em andamento, minha constante falta de dinheiro e a virgindade que segue firme por falta de oportunidade; mas, ao invés disso, só consigo pensar no quanto os olhos de Vladimir escurecem quando se rende ao desejo e quais sabores seus lábios escondem.

Há uma mistura exótica da contemporaneidade do prédio que combina com os detalhes sutis da cor acinzentada do concreto. Muitos metros acima, as vidraçarias são como espelhos que refletem pessoas e construções, como olhos que tudo veem. Ninguém se aventura nesta montanha de cimento sem o aviso prévio de que um gigante vive no topo e que ele ruge como um leão faminto exibindo sua enorme juba de rei.

As estações calorentas são as minhas preferidas, pois gosto de sentir o banho morno dos raios solares e de deixar os cabelos livres das toucas térmicas. O vestido preto e sem mangas se molda ao meu corpo até os joelhos; não limita meus movimentos e é formal o suficiente para uma reunião. Meus saltos vermelhos — exagerados e desconfortáveis, há de se destacar — são as únicas peças com alguma cor, e marcam o meu caminho com um som abafado assim que entro no saguão.

— Serena Fajardo? — Antes que eu alcance a recepção, Andrei Volkiov me intercepta e perco momentaneamente a linha de raciocínio. Não que ele desperte em mim as mesmas sensações que Vladimir, mas o homem é bonito de morrer, além de possuir uma sutileza em seu sorriso muito aconchegante; talvez tenha relação com sua personalidade profissional, na maioria das vezes advogados são pessoas habilidosas na arte de transmitir confiança. — Ainda não acredito que depois de tanto tempo te procurando, você simplesmente apareceu dentro da nossa casa.

— Chamar aquele castelo de casa é o cúmulo da humildade. — Estico a mão, entretanto, ao invés de devolver o cumprimento, ele conduz meus dedos até seus lábios e deposita um beijo. Misericórdia! — Eu mesma, em carne e osso! Tenho uma reunião com Vladimir e já estou atrasada.

Andrei indica o caminho como um perfeito cavalheiro. Como pode ser tão diferente do irmão mais velho?

Caminhamos um ao lado do outro. Observo melhor o mais jovem dos irmãos Volkiov e chego a uma conclusão: os quatro não ficariam feios nem se tentassem. O terno tem um caimento espetacular em seus ombros e o cheiro dele preenche todo o elevador assim que entramos, com notas de canela e qualquer coisa cítrica. Seus cabelos, diferente dos demais, tem pequenos cachinhos muito escuros cobrindo sua testa e orelhas.

Entre Acasos e Destinos | LIVRO 2 | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora