CAPÍTULO • 06 (Degustação)

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CAPÍTULO 06

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CAPÍTULO 06

SERENA

— ISSO NÃO VAI funcionar, você não pode continuar me julgando! — protesto para a presunçosa gata de pelos negros que me encara no ápice do seu desdém, como se eu tivesse cometido algum crime. — Já faz mais de uma semana, precisa superar. Eu sei que fui uma idiota, mas isso não é novidade, devia ter se acostumado há muito tempo.

Malévola abre a grande boca, exibindo suas presas afiadas no meio de um bocejo felino. Os olhos ímpares me acompanham, cheios de monotonia, enquanto jogo peças de roupas sobre a cama em busca de um casaco quente para trabalhar.

As tempestades primaveris findaram nas primeiras semanas da estação, mas o clima russo continua sendo imprevisível e rígido. A janela do meu quarto se debate por causa do vento assobiando no lado de fora e a chuva intensa forma uma cachoeira na vidraça. Tudo o que eu mais queria era me enfiar outra vez debaixo das cobertas e recuperar o sono perdido.

— Além disso, só considerei o beijar por um mísero segundo — continuo o monólogo. Escolho um sobretudo preto e o coloco na frente do corpo, depois analiso o resultado no espelho. — Biologicamente, seria impossível não me sentir atraída. O cara é maravilhoso, elegante, com aquela voz, aquele temperamento arrogante e misterioso, aquele tudo. A gente não controla como nosso corpo vai reagir em uma situação daquelas. — Minha gatinha vira-se de costas, ignorando meu falatório, mas isso não me impede de continuar. — Além disso, eu não beijo um homem há séculos.

E ele deve ter um beijo maravilhoso.

Mas não! Meu alarme de imbecilidade à vista tinha que disparar justo naquele instante e todos os conhecimentos que adquiri sobre autopreservação pulsaram no fundo da minha mente. Não se tratava apenas de fazer a coisa certa, mas de não me submeter aos caprichos de alguém que claramente não tinha os sentimentos sob controle.

Aquele . Posso estar sendo prepotente, mas no momento em que ele se levantou da mesa e fugiu com a expressão devastada em busca de um lugar vazio, eu escutei o som;. Já me deparei com aquelas mesmas notas musicais vezes o suficiente para reconhecer quando entoada, e essa é uma habilidade que nunca trouxe qualquer benefício para a minha vida.

— No fim das contas, foi melhor assim. Só mais um evento constrangedor para a coleção.

Malévola levanta a cabeça, ergue o rosto peludo e pisca algumas vezes. O azul do seu olho direito é claro e uniforme, mas o esquerdo faz lembrar uma pedra de âmbar amarela e condensada; ambos não alteram a expressão de desinteresse. Por mais que não entenda uma palavra do que eu digo, ela percebe minhas nuances de humor.

— Além disso, consegui uma vaga fixa para trabalhar nos finais de semana no hotel, e esse emprego vai fazer toda diferença na minha geladeira e na sua vasilha de ração.

Entre Acasos e Destinos | LIVRO 2 | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora