Capítulo I

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A moça estranhou sentir algo tão macio em suas costas. Seu corpo estava muito dolorido, mas não se lembrava do que tinha sucedido sua fuga. Será que eu consegui mesmo? Questionou em pensamento.

Abriu os olhos devagar. Estava escuro, não era possível ver onde estava, o que a assustou consideravelmente. Tinha medo de estar de volta ao lugar onde tanto sofreu. Não queria crer naquilo.

Levantou com bastante calma, tomando cuidado para não encostar em nada além da cama. Caminhou até encostar em uma parede e procurou pelo interruptor para que pudesse descobrir onde estava.

A surpresa foi grande. Ela não conhecia aquele quarto. Nada ali lhe era familiar. Seu coração batia forte dentro do peito e as mãos tremiam quase que imperceptivelmente.

O quarto era simples. Paredes com uma cor neutra, cama grande, guarda-roupa e uma cômoda, tudo de uma madeira escura. Não era muito grande nem muito pequeno.

O piso, também de madeira escura, estava coberto parcialmente por um tapete preto e felpudo, que parecia reluzir com a luz - bem forte - da lâmpada.

Enquanto ela observava o quarto, onde havia acabado de acordar, tentando se recordar de já ter estado ali, Guilherme, que ainda se encontrava acordado, apesar de serem quase cinco horas da manhã, percebeu a luz do quarto acesa e ouviu barulhos muito leves de passos.

Levantou-se e seguiu em direção à fonte da luz. Sua respiração já se encontrava mais pesada e o nervosismo se fazia presente em seu corpo. Como explicaria para ela o que tinha acontecido? Como ela reagiria? Essas eram suas perguntas.

Parou em frente a porta de madeira. Seu coração mandava que batesse, enquanto sua razão preferia pensar em uma forma de se aproximar antes de ter o primeiro - segundo, na verdade - contato para evitar constrangimentos maiores do que os de horas atrás, ainda que ela não estivesse consciente.

Bateu na porta, hesitante. Esperou por alguns segundos e voltou a repetir o ato. Não obteve resposta. Estranhou. Será que ela estava realmente acordada? Olhou para baixo e teve sua resposta, vendo a luz que refletia na madeira, a luz que vinha de dentro do quarto.

Eu não deixei acesa, então foi ela. Constatou.

Bateu na porta outra vez, e de novo só teve o silêncio em resposta. Resolveu entrar assim mesmo. Precisava conhecer a moça que estava dentro do "seu" quarto. Respirou fundo e abriu a porta.

O coração parecia uma escola de samba de tanto que batia. Suas mãos suavam de forma que poderiam pingar no chão.

Pigarreou, esperando que ela se virasse. Não aconteceu. Era loucura. Ela o estava ignorando.

— Moça — murmurou.

A negra continuava parada da mesma forma, olhando para a parte da parede que ficava sobre a cabeceira da cama. Seus olhos estavam presos sobre o filtro de sonhos pendurado ali. Nunca tinha visto um antes.

Assustou-se, dando um pulo, ao sentir uma mão grande e quente em seu ombro. Encolheu-se contra a parede percebendo o homem que estava perto demais dela. Quem seria ele?

— Você está bem? Desculpe, não queria te assustar — Guilherme estava envergonhado mais uma vez perto dela.

Ela assentiu com um movimento muito lento da cabeça. Não sabia se sentia medo do homem desconhecido ou se o admirava por tanta beleza. Como ele podia ser tão bonito? Céus! Nunca tinha visto alguém parecido com ele antes.

— Qual é o teu nome? — ele apertava as mãos umas nas outras.

Sem resposta. Estava começando a achar que ela tinha algum problema. Por que não o respondia? Seria medo?

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