Capítulo 1- Saúde também é coisa da sua cabeça

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O trânsito estava realmente infernal naquele dia. Depois de uma jorna-
da de trabalho tensa, com problemas e mais problemas para resolver,
inúmeros e-mails e telefonemas para responder, tudo o que Paulo
mais queria era chegar em casa, comer algo, afundar no sofá da sala e assistir a qualquer coisa na televisão. Porém, os minutos desperdiçados no trânsito se transformaram em horas. Quando chegou a sua casa, já era noite. Entrou, tirou os sapatos, jogou a pasta em um canto, deu um "oi" apressado para a esposa e mal viu os dois filhos que brincavam no tapete. Tomou uma ducha morna,
vestiu roupas confortáveis e sentou-se à mesa de jantar.
- Tem alguma coisa para comer? - perguntou secamente.
- Sua mãe ligou agora há pouco. Reclamou que você não vai visitá-la há
muitos meses.
- Ela sabe que não tenho tempo. Tenho mais o que fazer. Contas a pagar.
Problemas para resolver. E a nova supervisora não larga do meu pé... mulher
complicada! Parece que tem medo do futuro, de que a empresa quebre. É difícil trabalhar com ela. Está me deixando louco!
- É só disso que você fala ultimamente: problemas, contas, a supervisora.
Percebeu ao menos que seus filhos estão ali na sala? O Marquinhos perguntou
a tarde toda a que horas você chegaria.
- Todo dia é a mesma coisa? Só cobrança, cobrança! Me cobram no trabalho, me cobram em casa! Pensa que é fácil sustentar a família sozinho?
Essas últimas palavras atingiram Sílvia em cheio. Não era justo. Ela havia sido afastada do trabalho por motivos de saúde, e ele sabia disso. Claro que era bom passar mais tempo com as crianças, mas ouvir as reclamações do marido
dia após dia estava se tornando insuportável.
- Nossos filhos estão crescendo e mal conhecem o pai. Isso para não falar
do nosso casamento...
- Você pode me dar um tempo? Estou cansado, com dor de cabeça e sem
paciência para essa conversa.
Naquele momento, a filha de Paulo, uma garotinha de seis anos, com ca-
belos encaracolados e belos olhinhos, aproximou-se do casal e entregou um envelope para o pai, que respondeu rispidamente:
- Agora não, filha! Não vê que sua mãe e eu estamos conversando?
Ele colocou o papel no bolso de qualquer jeito, ignorando a menina que se afastava com lágrimas nos olhos.
- Você é um estúpido, mesmo! Não vê o que está fazendo com sua família?
- Pra mim já chega! Vou para o quarto. Perdi a fome - devolveu Paulo.
Ele tinha a nítida sensação de que estava perdendo o controle de seu mundo.
O homem tão seguro, tão cheio de si não estava conseguindo administrar a própria vida. Pensamentos negativos tomavam conta dele. O cérebro parecia ferver,
e lembranças ruins do passado pioravam tudo. O corpo de meia-idade estava excessivamente fatigado devido à falta de exercícios físicos. Como ter tempo para
isso? A supervisora estressada vivia lhe pedindo relatórios. Ele não queria saber
de pensar em nada mais. Só queria descansar, dormir e, quem sabe, nem acordar.
Quando se deitou de lado, sentiu algo no bolso. Pegou o envelope amas-
sado, abriu-o e encontrou uma cartinha escrita com giz de cera. Sentindo o
estômago revirar, ele leu: "Papai, eu te amo."

Buraco negro
Quem nunca se sentiu como Paulo, esmagado por compromissos e inca-
paz de lidar com tantas coisas ao mesmo tempo? Quem nunca teve vontade de jogar tudo para o alto e fugir para uma ilha deserta? Bem, talvez você seja um "sortudo" para quem tudo dá certo, cujos dias passam de maneira tranquila, sem contratempos. Contudo, agora mesmo, milhões de pessoas sofrem sob o peso de uma terrível carga emocional. Ansiedade, estresse e depressão são as primeiras palavras de um imenso dicionário de problemas e transtornos emocionais. Uma declaração do famoso físico britânico Stephen Hawking repercutiu mundialmente. O assunto não foram buracos negros nem teorias surpreendentes sobre universos múltiplos. O tema foi mais corriqueiro e bem "deste mundo": a depressão. Na verdade, Hawking, que vive confinado a uma cadeira de rodas há décadas devido a uma doença neurológica degenerativa, deu
conselhos a pessoas que sofrem com depressão. Depois de falar sobre buracos negros, o cientista comparou a depressão a esses fenômenos, destacando que, não importa quanto eles sejam escuros, é possível escapar deles.
Hawking disse: "A mensagem desta palestra é que os buracos negros não são tão negros quanto parecem. Eles não são as prisões eternas que pensávamos. As coisas conseguem escapar de buracos negros e, possivelmente, para outro universo. Então, se você sentir-se dentro de um buraco negro, não desista: há uma saída."
Talvez essas palavras de ânimo de Hawking não consigam fazer diferença, de fato, para alguém como Paulo, que esteja vivendo em um "buraco negro" de depressão, ansiedade, traumas e até pensamentos suicidas. Existe realmente saída para esses problemas? Existe esperança? Como sair dos buracos negros que a vida apresenta?

O poder da esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora