Capítulo 1

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    - DIOGO!!! EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ JOGOU ÁGUA EM MIM!! - peguei meu travesseiro e comecei a correr atrás dele dentro do quarto, ele era bem mais rápido que eu, maldita hora em que eu faltei as aulas de educação física.

    Como eu não tinha escolha, tentei  jogar o travesseiro nele, ele estava próximo a porta do meu quarto, mas nessa hora, bem nessa hora, a porta se abre e minha mãe aparece, e o travesseiro a acerta em cheio. Primeiro ela se assusta, depois lança um olhar furioso para o Diogo e para mim.

- Mas que diabos está acontecendo aqui? - ela observa o quarto todo bagunçado, a cama revirada, livros, roupas, papéis e outras coisas jogados pelo chão, ela vai observando cada detalhe com seus olhos de águia, que não deixa passar nada. Dona Marta é do tipo de pessoa aficcionada por limpeza, ela odeia bagunça, sujeira desorganização, e ver meu quarto todos os dias a deixa furiosa. Ela olha atentamente o quarto, até que seu olhar pousa sobre mim, e sua cara demonstra um certo espanto  - Glória, por que você está molhada?

- O meu querido "amigo" - usei todo o meu sarcasmo - jogou água em mim DE NOVO!

   O cara de pau do Diogo, só sabia rir.

- Mas foi por um bom motivo, eu juro.

- Como foi todas as outras vezes - ele sempre dizia isso, mas insistia em jogar água em mim.  Mas eu não podia ficar com raiva, ele era meu único amigo.

    Diogo era o tipo de cara que todos queriam ter como amigo, era divertido, engraçado, inteligente, sempre tinha os melhores conselhos, conversava com todo mundo, e, quando eu digo todo mundo, é todo mundo mesmo, até com os animais ele conversava, o que era estranho, e ainda por cima era lindo. Eu sempre dizia a ele, que a genética dele era boa. Tinha porte atlético, era bronzeado, seus cabelos eram cacheados e negros, e seus olhos eram os mais lindos que eu já vi, azuis, mas de um azul que eu nunca havia visto.

- Glorinha - ele me chamou, pelo meu apelido (golpe baixo esse viu), me tirando dos meus pensamentos - Me desculpa tá, é só que eu fiquei preocupado porque você não despertava e ...

- Você sabe melhor que ninguém, que os transes que ela tem não passa de dez minutos - foi a vez de mamãe se pronunciar - era só ter esperado.

- Eu sei, mas esse foi o segundo transe dela só essa semana e eu... - ele foi interrompido mais uma vez

- O quê?! - mamãe olhou para mim preocupada - O que você está me escondendo mocinha?

Eu lancei um olhar de reprovação para o Diogo e ele apenas deu de ombros. FILHO DA P***, MISERÁVEL, BOCA GRANDE, minha vontade era só de esganá - lo, eu pedi para ele guardar segredo, mas esse boca grande não consegue.

- Mãe, não ouça o Diogo, ele é retardado, não sabe o que diz.

- Glória, olhe nos meus olhos e me diga o que está acontecendo - golpe baixo Dona Marta, golpe muito baixo, ela sabe que eu não consigo mentir olhando nos olhos de ninguém, e sempre usou essa estratégia para arrancar verdades de mim.

- Tá bem mãe. - olho nos olhos dela e falo a verdade - Minhas visões estão sendo cada vez mais frequentes.

- Frequentes, como?

- Uma vez por semana Dona Marta - o boca grande do Diogo respondeu

- DIOGO!!! - eu o repreendi - fica quietinho aí!!! - ele fez um sinal de zíper fechando a boca, e foi para perto da janela.

- Tem algo de errado acontecendo, - minha mãe  me olhou parecendo estar aflita - minha filha, você tinha que ter me contado, eu sou sua mãe e não pode existir segredos entre a gente, ainda mais sobre isso, você tem consciência de que isso que acontece com você não é normal ...

- Eu sei mãe, mas é que... - tentei encontrar palavras para dizê-la  como eu me sentia - Você me trata como criança, tentando resolver todos os meus problemas, mas eu já sou bem grandinha e posso cuidar de mim mesma. Eu me sinto sufocada, você me prende demais, eu não posso ir a festas, não posso conversar com estranhos, não posso beber, não posso ir a faculdade, não posso fazer nada. As garotas da minha idade me olham com desprezo, como se eu fosse estranha, eu sei que eu não sou uma adolescente normal, mas você não me dá opções mãe, deve ser por isso que o papai te largou -  dessa vez eu fui longe de mais, os olhos de mamãe estavam marejados, ela virou rosto para não olhar para mim, e por um instante eu me senti culpada.

- Tenso - o Diogo disse

- DIOGO!!! -mamãe e eu dissemos juntas

- Tá bem, me calei - ele disse e voltou a olhar pela janela

-  Desculpa mãe, eu não queria ter dito isso - eu estava sendo sincera

- Tudo bem... Eu também não sabia como você se sentia... eu nunca perguntei -  ela me olhou com ternura - Olha, eu prometo não ser tão invasiva, mas você tem que me prometer contar toda vez que tem uma visão, - eu arqueei uma sombrancelha - eu só quero saber sobre as visões, você não precisa contar sobre sua vida para mim, e eu te dou um pouco mais de liberdade também.

- Jura de dedo mindinho? - eu levantei meu dedinho

- Juro de dedo mindinho.- ela aproximou seu dedo do meu e me abraçou

- Que lindo! - Diogo disse e bateu palmas, mamãe e eu nos separamos e rimos.

- Glória, nós precisamos sair, chegou a hora de você conhecer uma pessoa. - minha mãe disse

- Eu não vou a uma psicóloga, não sou louca.

- Não é uma psicológica. Digamos que eu também tenho segredos.- eu arqueei uma sombrancelha e a encarei

- Eu posso ir também? - o Diogo perguntou

- Não, você vai ficar aí e arrumar a bagunça que fizeram, e lava a louça também. - minha mãe disse

- O quê!? Mas eu nem moro aqui!

- Diogo, você só não dorme aqui, praticamente sou eu que te sustento, eu deveria cobrar de seus pais.- o Diogo fez uma careta

Eu comecei a rir a da cara que ele fez

- É, sempre sobra pra mim - ele reclamou.

Então, minha mãe e eu fomos encontrar a tal pessoa misteriosa...

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Antes Que As Estrelas CaiamOnde histórias criam vida. Descubra agora