O Terminal de Vagalumes

5. Sam

Samantha fechou os olhos imediatamente quando se sentou isolada no pavilhão pouco movimentado de sua sala após a reunião do comitê mais cedo. Sentia um vento refresca-la do calor infernal e observava seus colegas brincando com alguma objeto de frente da sua sala. Ainda que Samantha conseguisse evitar os seus colegas naquele dia, ainda que um ataque zumbi apavorasse todos do colégio, ainda assim ela teria que interagir e conversar com eles em algum momento da sua vida.

Ela então definiu suas opções:

1. Poderia apenas parar de se isolar por algum motivo e se juntar aos seus colegas. O lado positivo é que isso a renderia algumas risadas e respostas ácidas. O negativo é o inacreditável fato de seus colegas conseguirem conversar apenas gritando.

2. Poderia ir estudar na biblioteca. O lado positivo é que isso a renderia menos horas de estudo durante a noite. O negativo é o barulho da biblioteca que parece mais uma feira ambulante do que uma maldita biblioteca.

Não seria nenhuma surpresa que em alguns minutos alguém quebraria sua paz perguntando o motivo dela estar isolada. Chega a ser engraçado como as pessoas acham que ficar sozinha é motivo de tristeza, solidão ou até mesmo depressão. Essas mesmas pessoas não sabem o prazer e contentamento que algumas horas sozinha faz consigo mesmo. O descanso da mente, da alma e principalmente do corpo.

É difícil a rotina em um lugar que jamais desejou estudar. A mãe de Samantha havia insistido que a filha buscasse por uma vaga no colégio, mesmo contra sua vontade dela. No final das contas, Bristol High School tinha nome e fama por sua excelência em extrair o máximo de seus alunos. Não é à toa que é o que toda mãe sonha para seu filho. São dezoito matérias anuais, quarenta aulas semanais e quase doze horas diárias ao incluir os intervalos.

Como aluna, Samantha só conseguia enxergar o Bristol High de uma outra forma. Vislumbrava apenas os irresponsáveis professores que nunca dão aula, a ineficiente direção, o calendário escolar mal organizado, a carga horária mal distribuída, a falta de importância com a saúde mental dos alunos e os conteúdos ignorados pelos docentes. Não poderia também deixar de citar os alunos que só se importam apenas com suas próprias limitações, os que só querem adiantar aulas e aqueles que muito menos se importam em assistir alguma aula. Resumidamente, Bristol High School é um saco.

Para piorar, desde que foi adicionada ao grupo de preparo e organização da viagem anual do último ano, sua vida tendeu a apenas piorar. Relutou de início a aceitar o cargo, mas como a Sra. Rodriguez a elogiou tanto por excelência como líder da sala e não esqueceu de mencionar como sua participação iria aumentar a credibilidade do grupo, foi quase impossível recusar. Tudo que ela pensava era em como esse novo cargo a traria mais trabalho.

Ela chegou em casa mais cedo do que os seus pais, o que foi ótimo, pois conseguiu tomar um bom e demorado banho sem se importar com o tempo. Quando entrou no Bristol High imaginou que a volta a casa seria algo totalmente mágico. As saudades dos pais seriam supridas com o festival de abraços distribuídos pelos mesmos ao ela chegar no lar. Entretanto, normalmente o que sempre acontece é a indiferença estampada nos olhos do seu pai e os berros da sua mãe ordenando-a que seque os pratos lavados. Minnie, sua irmã mais nova, sempre corre para abraça-la. Sam costuma pegá-la no colo e enche-la de beijos.

— Oi, pequena — ela disse. A relação entre Samantha e sua irmã mais nova era uma dessas coisas únicas que só se tem apenas uma vez na vida. Para Samantha, a irmã era uma das coisas mais fofas que conheceu, mas também uma das mais sapecas, que sempre vive pulando nos colos alheios.

— Olha o meu olho! Olha meu olho, Sam! — Minnie disse assim que a irmã a coloca no chão.

Ouvira sua mãe a explicando algo sobre uma cirurgia que a menina necessitaria de realizar por conta com algum problema em sua visão. Aparentemente, era algo relacionado a um estrabismo na visão de seu olho esquerdo que a obrigaria usar uma espécie de tampão em tal olho.