Sessão 2 - Bad News

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- Bom dia, Patrícia.
- Pandora -A morena rolou os olhos ao ter que corrigi-lo novamente, passando uma mão pela própria face, ainda nocauteada pela sessão do dia anterior. Era desgastante ter que trarar de um caso como o de Patrick, que não dava nenhum sinal claro de melhora.

- Onde paramos ontem mesmo? -Patrick tirou o casaco dos ombros desengonçadamente, o jogando por cima do encosto da cadeira onde deveria se sentar.
- Paramos na morte de seu pai.

- Ah sim! Uma ótima notícia, não é?
- Foi uma boa nova para você?!
- Oh, você nem imagina. -Ele se manteve de pé, parecendo estranhamente mais desperto naquela manhã. - Tudo que seguiu após foi um desastre, mas foi um alívio o ver naquele caixão. Pensei que aquele dia nunca chegaria.

- Como isso aconteceu, Patrick? Como foram esses dois dias?

Ele tomou um longo instante para encher seus pulmões de ar e puxou na memória os acontecimentos daqueles dois dias infernais, passando uma mão pela própria nuca.

" Recebi uma ligação de Nicholas, um velho amigo de meu pai. Sempre me recordei dele frequentar minha casa desde sempre.

Ele disse que eu precisava ir até Nova York buscar meu pai, que ele estava morto. Pensei que nunca receberia aquela bendita notícia... Eu não pude evitar uma alegria irracional ao contemplar a realidade.

David Melrose estava finalmente morto.

Eu precisava garantir que ele realmente estava... Talvez, aquela boa notícia, disfarçada embaixo do luto, era um sinal do universo para que eu tomasse as rédeas da minha vida, finalmente.

Heroína sempre foi uma velha amiga, mas era tempo de dizer adeus. É um novo dia e tudo pode acontecer, não é?

A viagem até a América foi especialmente estressante. Os sintomas da abstinência chegaram rápido e nada os diminuia. Nem o álcool, nem a dor física... Foi apenas questão de tempo para a ansiedade e os pensamentos suícidas tomarem conta.

Foram dois longos dias tentando acabar com minha vida e com as cinsas de meu pai.

Descobri, para a minha desgraça, que de ambos eu não podia me livrar. Simplesmente não conseguia.

Do que adianta a porra de uma janela se não posso me jogar dela?

Não sei exatamente dizer o que me é pior: estar sozinho ou saber que sempre estava acompanhado pelo que sobrou de meu pai.

Sempre ouvi falarem incrivelmente bem dele. Jamais conheci aquele homem brilhante que todos olhavam como exemplo. Para mim, meu pai era apenas uma sombra que destruia meus dias, os deixando encobertos numa noite eterna. Ainda consigo ouvir a voz dele ressoando dentro de minha cabeça.

Mas agora seria diferente. Agora seria um novo eu, um novo começo. Eu mereço, não mereço?

Johnny, meu melhor amigo, desconfiou de minha intenção. Não o repreendo por isso, nem eu mesmo acredito no que digo, as vezes. Acho que minha iniciativa o deu gás para fazer o mesmo. O único porém é que meu amigo tem muito mais força de vontade do que eu. Menos demónios por baixo da pele, lhe devorando, eu suponho.

Para mim, sempre foi um tanto mais dificil. Se manter lúcido é como querer ficar sentado dentro de uma sala em chamas. "

- Como você se sente agora? Que decidiu mudar?
- Tudo está monótono e chato.

- Ainda está achando dificil se manter longe das drogas?
- É claro! Está sendo um pesadelo viver lúcido!

- Por que não tenta vir as nossas sessões em grupo? Acredito que...
- Se Johnny não conseguiu me convencer a ir a essas reuniões, você não vai Paula.

- Você não precisa viver isolado, Patrick. Ainda é jovem e, ultrapassando esse problema, a vida vai continuar. - A menor ponderou, erguendo uma sobrancelha. - E, a propósito, eu me chamo Pandora.

O homem se sentou pesadamente sobre a cadeira, passando uma mão pelos cabelos castanhos.

- Pense sobre pelo menos. Começamos as oito.
- Vou tentar pensar, Pandora.
- Patrick?
- Sim...

- Nem sempre você precisa passar por tudo sozinho. A vida é muito mais do que isolamento e sofrimento.
- É bom saber, Pandora... -Ele abanou a cabeça lentamente, lhe fitando em silêncio antes de sair pela porta com passos lentos e pesados.

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