Sessão 4 - Bad Puns

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- O que achou da sessão em grupo, Patrick? -Pandora indagou, observando que a expressão do maior parecia tranquila.

- Conheci uma pessoa... Penélope é o nome dela. -Ele sussurrou baixinho, encarando as próprias mãos. - A conhece?
- Já foi minha paciênte, sim... Fez amizade com ela?

- Eu não diria isso... Diria que... Temos muito em comum.
- Penélope é explosiva, expansiva. Não me parece condizer com suas atitudes

- Acho que é exatamente isso que me falta. -Ele pigarreou, um cigarro pendendo entre os lábios. - Irei tomar café da manhã com ela.

- Soa promissor.
- Você podia me ajudar?
- Como?
- Como devo falar com ela? Não quero fazer merda dessa vez.

- Oh... Penélope parece muito forte por fora, mas ela é extremamente frágil e reservada. -Pandora murmurou, passando uma mão pelo próprio rosto. - Ah, e nunca pergunte do canivete. Nem encare as cicatrizes.

- Que cicatrizes? -O maior pergutou genuinamente, fazendo Pandora sorrir minimamente pelo canto dos lábios.
- Você vai ser, Patrick. -Pandora sorriu minimamente, cruzando os braços na frente do corpo.

- Posso fazer uma pergunta?
- Claro...
- O que espera tirar dessa relação, Patrick?
- Ah... -Ele suspirou fundo, passando uma mão pelo próprio rosto. - Ela se parece comigo. Os semelhantes sempre se reconherem, não é?

- Sim, sim... Mas o que te faz pensar que lhe fará bem estar com Penélope?
- Talvez eu precise aprender a viver com pessoas como eu... Antes de voltar ao mundo real

***

Constrangedoramente, os dois se sentaram juntos a uma mesa num café a frente do centro de reabilitação. Como sempre, Penélope usava um moletom acinzentado e os cabelos presos, um cigarro sempre aceso entre dois dedos.

- Como foi sua sessão? -Ela tentou cortar o silêncio.
- Tediosa. Não sei por que ainda me importo em vir.

- Você está limpo. Talvez isso te incentive a continuar assim.
- Talvez... -Ele ponderou, pensativo. Ambos não pediram nada para comer, apenas duas enormes xícaras de café puro, sem açúcar.

- Posso fazer uma pergunta?
- Prossiga -Ele pigarrou, escondendo o rosto atrás da xícara.
- O que te fez largar tudo?

Patrick pigarreou e quase deixou a porcelana cair sobre o tampo da mesa. Odiava se recordar sobre aqueles dias em NY.

- Quando meu pai morreu. -Ele tossiu. - Eu me senti finalmente livre quando o vi no caixão.
- Oh... Sinto muito.
- Não, não sinta... Ele era um filho da puta.

- Então é de família. -Penélope concluiu com um sorriso, tragando seu cigarro.
- E você...?
- Ah, eu estava esperando chegar no fundo do poço para pedir ajuda, mas nunca cheguei... Cansei de esperar.

Ela deu com os ombros com toda a naturalidade do mundo, passando a ponta de um dedo em torno da borda da xícara.

- Sabe... O vício pode custar sua vida. Mas você a ganhou de graça. Sempre saímos no lucro.

Patrick se manteve quieto com sua afirmação, fitando a própria xícara e absorvendo frase. Ela era louca, estranha e tinha um ar sempre muito pesado, mas parecia sempre estar coberta de razão.

Ele passou os olhos atentos pela carcaça cansada dela e notou como seus dedos tinham cicatrizes quase invisiveis de pequenos cortes, como se tivesse o costume de manusear objetos cortantes. Talvez, ela sempre usasse moletons e inumeras camadas de roupas para esconder o corpo mutilado. Fazia sentido.

- Você acha que um dia seremos como todo mundo, Penélope?
- Eu e você não somos como todo mundo, Patrick.

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