Epílogo

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                O treinamento fora bem mais puxado que os assaltos que fizera com Mark. Comparando, aquilo era brincadeira de criança. Eles nos deram armas diversas, nos ensinaram a montar, desmontar, recarregar, atirar. Eu pouco tinha tempo para pensar em meus pais, em Yaya ou em mim. Os outros garotos pareciam bem mais aparvalhados que eu e, segundo Axel, o ruivo me disse o nome dele nos dias seguintes ao Dia C, eu era o que estava me saindo melhor. De fato, um deles, Robert, fora retirado de nosso grupo e ganhara uma coleira no pescoço e foi vendido para alguma ricaça.

Aprendi um pouco sobre a estrutura do lugar. Chamavam-nos de Son's of Anarchy; nosso líder, Júlio, era um homem sério, rígido com seus homens, e possuía um harém com meia dúzia de mulheres, inclusive Rubi, a ruiva que estava escolhendo os escravos naquele dia. Ela e as outras nos chamavam de "jovens mestres" e, passado um mês da minha chegada, as escravas mais novas dançavam para gente. Entre elas duas me chamaram a atenção, havia uma, olhos verdes, aparentava ser um pouco mais velha que eu, dançava, naquele momento, exatamente a minha frente. A outra era uma loira, parecia capa de revista masculina, igualmente loira, mas com os olhos azuis piscina lindos. Vendo meu entusiasmo com as escravas, Axel, que acompanhava-nos, colocou a mão em meu ombro e sussurrou.

- Ela ainda é muito para você, Quicktrig, mas se você quiser, elas podem ser suas por essa noite.

- Obrigado, Axel, mas talvez outro dia... Não sei se já estou pronto para elas.

- Você chega lá, meu amigo! – me abraçou rindo. – Marine, balança esse teu rabo aí pra gente!

Alguns meses se passaram e meu treinamento estava completo. Já saía em algumas missões com outros dois rapazes, e, como uma estampa, o apelido que Axel me dera por conta de eu ter puxado a arma para ele no dia da coleta, Quicktrig, pegou, e todos me chamavam por ele.

Certa noite, enquanto conversava com outros garotos da minha idade, Jade ajoelhada encostada em minha perna, noto a entrada de um homem, mais velho que Axel, talvez mais velho até que Júlio. Ele vestia-se com calças folgadas, e um casaco que lhe cobria parte das pernas. Guiada por uma fina corrente, uma jovem escrava. Seu corpo era coberto por joias e vestia-se uma saia curtíssima, que mostrava toda a curva da bunda que começava a tomar forma de uma bunda de mulher. Nos seios, um tanto infantis ainda, mas tal qual os quadris começavam a se adequar, um pequeno símbolo tatuado, e uma blusa praticamente transparente lhes cobriam a metade. Os olhos pintados com lápis preto misturavam-se com a tatuagem em seu rosto, eram de um castanho intenso que me eram muito familiares; os cabelos presos em tranças estavam mais compridos que no dia da coleta. Ela passou por nós guiada por seu mestre e, quando ele parou um instante para perguntar sobre Júlio, ela olhou diretamente para mim e sorriu. Havia aceitação e felicidade em seu rosto e, ainda que meus planos não tenham dado certo, no final de tudo ambos estávamos de fato com vidas melhores do que jamais teríamos. 

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