Perfeição

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- Já levo as malas! - gritei para Fin, ele não estava me ouvindo. Peguei duas malas de rodinhas que seriam inúteis na pequena escada, coloque-as nos braços e fiz um puta esforço.
- Eu tô bem, obrigado, Jay, por ser esse cara forte e incrível e ajudar a todos nós... - disse imitando uma voz escrota. Quando cheguei no quarto eles estavam lá, parados próximos a janela, se viraram pra mim com um sorriso imenso no rosto.
- Que foi? - perguntou Max notando minha expressão carregada de ódio.
- Nada! - forcei um sorriso derrubando as duas malas.
- Ah, mano! Fica feliz, você sempre sonhou com isso!
- É verdade, e vocês é quem estão quase soltando fogos de artifício.
- Chega aqui, maninho.
Fin me levantou nos ombros e confesso que fiquei muito puto, até ele começar a correr em voltas e eu ver que me debater não ia ajudar em nada.
- Eeeh! - esbocei, sentindo o sangue descer e encharcar meu cérebro.

alguns meses depois

É engraçado a forma como o amor chega nas nossas vidas, já reparou? As pessoas são como vias que se juntam em um trevo, você. É como uma forma expressa de amor, estamos inclusos nessa perfeição do universo, de conectar as pessoas, através do amor.
Laura usava um cropped florido com uma bermuda jeans azul. No seu cabelo loiro, um chapéu preto a deixava ainda mais linda.
- Por que ta me encarando? - perguntou, abrindo aquele sorriso, de novo, aquele sorriso.
- A-ah! Nada, é só que... Caramba! Você é muito linda! - disse como que respirando. Ela sorriu ainda mais, eu estava perdidamente apaixonado, eu sabia disso porque o sorriso dela, abria o meu com uma facilidade quase que automaticamente.
Estávamos numa festa dos calouros da faculdade de direito, o local da festa era bastante aconchegante, um extenso gramado ao redor da piscina, com alguns tijolinhos que davam para a garagem, eu não fazia ideia de quem era a casa, mas Fin e Max estavam se divertindo pra caramba, quem sou eu pra atrapalhar?
- Bem... Valeu! - disse gesticulando com as mãos. Pude notar como ela corava conforme eu a elogiava.
- Aceita uma bebida? - eu estava tentando, sério.
- É que... - ela levantou o copo com algum líquido laranja.
- Oh! Bem, que tal só me acompanhar? - ela riu e concordou com um aceno, se levantando em seguida e andando ao meu lado em direção ao "bar", que na verdade eram apenas dois garotos com uma caixa térmica que estavam distribuindo cervejas.
- Acho que ainda não nos apresentamos...
- Eu sei quem você é, Jay.
- A-ah, sabe?
- Te ouvi tocar no palco livre! - era minha vez de ficar corado. Palco livre era um evento que acontecia uma vez por mês na faculdade e onde bandas pequenas tocavam, eu não tinha uma banda, mas Max e Fin tocavam também, e como eu cantava, acabamos por nos apresentar, foi um dia legal.
- Ok, então você já me conhece, mas eu ainda não. - insisti.
- Ah, isso é quase um insulto!
- É uma faculdade muito grande - sussurrei.
- Laura, faço design. Mas ando com a galera de direito, acho que deu pra reparar.
Àquela altura do campeonato eu não estava mais ouvindo nenhuma palavra, foi quando fitei, inquietante, seus lábios. E me aproximei lentamente enquanto ela explicava sobre as pessoas do seu grupo. Foi um beijo singelo, nada de pegadas, nada muito brutal. Ela gostou porque sorriu, e adivinha? Eu também.
Mas aí ela deixou as bebidas de lado e me agarrou, colocou seu braço no meu pescoço e forçou minha cabeça contra sua, num beijo violentamente bom. Vou precisar te poupar do que fizemos em seguida. Mas aquele, aquele foi um dos momentos de perfeição do universo, uma via que se unia a minha.

hoje

Meus olhos abriam lentamente. Vi as luzes vermelhas e azuis dos carros de polícia. Das cem pessoas que estavam antes ali, havia algumas cinco. Vi o "hóspede" de antes com algemas sendo levado para fora. Procurei por todo canto algum sinal de Fin ou de Max, mas nada.
- Ei, por favor! - olhei para o chão, havia uma garota deitada, estava chorando.
- Calma! Eu tô aqui, o que houve?
- Minha perna! - olhei para a mesma e vi um pequeno corte, estava saindo muito sangue, então amarrei com um pedaço da minha camiseta.
- Calma, a bala deve ter passado perto, mas não entrou. Consegue andar? - ela fez que não com a cabeça.
- Espera! - Com muito esforço coloquei-a no colo e a carreguei para uma ambulância na porta do hotel. Felizmente um para-médico viu meu esforço e correu pra me ajudar - obrigado!
Naquele momento, minha cabeça começou a latejar, não me lembro exatamente onde a bati durante a queda, mas sei que a coisa pontiaguda a fizera sangrar, muito pouco. Sentei um pouco no saguão e esperei a dor passar, dei mais uma volta na procura por meus amigos e então subi para nosso quarto na esperança de encontra-los.

Stay TogetherOnde histórias criam vida. Descubra agora