UMA NOITE NO RIO

308 11 0
                                    

Trata-se, quero supor, de um gesto simpático de Hollywood, em relação a nós. A gente assiste aquela patacoada toda, vê efêmeras paisagens cariocas, fica furioso de saber como Carmen Miranda procede, e sai em branca nuvem. 

O filme em si não vale nada. É uma velha, velhíssima história de cinema falado, que Chevalier já fez, e que tem sido milhares e milhares de vezes repisada. Carmen Miranda aparece como qualquer coisa de exótico, agreste, escarlate. Fala e faz mais trejeitos que um esquizofrênico sob um choque de cardiasol. Pensando bem, Carmen Miranda é um hindu, mais que uma brasileira. São turbantes coloridos, braços como serpentes, mãos como cabeças de najas. 

É tão prodigioso, que Carmen Miranda não consegue apenas ser o hindu - consegue ser o hindu e a serpente, coisa que em matéria iogue é da mais alta importância. 

O filme tem barões e baronesas, jogadores da bolsa, de sobrecasaca e flor na lapela, e lá de repente, uma batucadinha yankee. É interessante ver os extras dançando um samba de cabaré bem ensaiado, no suntuoso palacete do barão de Duarte. 

O filme tem músicas agradáveis com letras em português e inglês, inclusive uma boa canção plagiada de Uma noite em Capri, que fez furor em tempos e cujo nome não me passa agora, mas que deve ser qualquer coisa como "Moonight Serenade" ou "A Night at Rio", porque Alice Faye diz isso cantando. Está longe de ser cinema. E como propaganda brasileira, chacun sa verité...

1941

O melhor de Vinicius de MoraesOnde histórias criam vida. Descubra agora