Pedro

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Há anos, Pedro Aguillar ouvira as pessoas comentarem sobre a cidadezinha vizinha e sua famosa Fogueira Anual. Ele decidiu, quando escutou pela primeira vez os rumores, que, assim que tirasse carteira, seria a primeira coisa que faria. Então lá estava ele, estacionando sua Harley-Davidson 2012 VRSCDX Night Rod Special Maisto ao lado oposto da clareira. Aquela fora uma das únicas coisas que o pai o deu que amava tanto, pensou colocando o capacete no guidão. Ele ajeitou os cabelos e a jaqueta preta de couro e atravessou a ruela. No fundo da Clareira, as pessoas pareciam se divertir e uma enorme fogueira crepitava ao centro. Ele pôde perceber mesmo de longe. Algumas casinhas antigas cercavam a clareira e, ao fundo, uma grande montanha fechava o círculo. O lugar estava iluminado, cheirava a pipoca, caldo e milho verde. Ele sorriu de lado enquanto respirava fundo. Observou uma das casinhas apagarem a luz de um cômodo quando tudo ficou escuro pela janela. Então, avançou em direção à clareira observando as pessoas. A maioria pareciam ser dali, porque se conheciam como ninguém. Havia todos os tipos de coisas típicas de festa junina, o que arrancou um sorriso dele, era incrível como aquele evento em especial fazia parte da cultura brasileira. E foi aí que os pensamentos dele foram interrompidos. Ele estava tão absorto neles que não percebeu uma pessoa sair da casa em que apagaram a luz.

-Ai meu Deus, me desculpa. -a jovem pediu. Pedro poderia ter saído dali bufando. Não tinha um temperamento muito fácil, porém, percebeu que os olhos amendoados dela estavam vermelhos, ela estava chorando. E isso o deixava louco. Por mais durão que parecesse, detestava ver as pessoas chorando.

-Eu que peço desculpas, estava distraído. -ela estava se desculpando quando que havia caído era ela. Ele esticou a mão para que ela pegasse ao se levantar e deu um sorriso de lado. A garota loira batia a mão na saia jeans rodada para tirar a sujeira. A blusa xadrez que usava, típica para a festa, estava amarrada na cintura. Os cabelos, divididos em duas maria chiquinhas e ela nem precisou fazer as famosas pintinhas que as garotas faziam em festas juninas, seu rosto era cheio delas. Calçava uma bota de cano curto preta com um mini salto e, por mais que estivesse de salto, ainda batia no seu ombro. Aquilo o fez sorrir.

-Está tudo bem. -falou abanando a mão e parando para olhá-lo. -Hum, eu tenho que ir. -completou saindo, simples assim.

-Espera, como você -e não houve tempo para perguntar. A garota saiu em direção à clareira deixando só o perfume com cheiro de flores no ar. Não o entenda mal, mas por onde passa, Pedro arranca suspiros e, qualquer garota faria de tudo para chamar a sua atenção. Ela, no entanto, mal o olhou. Não era como se ele fosse correr atrás dela. Ele não era assim. Então, tirou-a da cabeça e entrou na clareira.

Por onde andava, Pedro via pessoas comendo, dançando conversando. Eles estavam se organizando para a dança anual. Algumas crianças brincavam de pescar peixes em potes de areia para trocarem por brindes. Era engraçado ficar observando. E tinha também o tiro ao alvo, ele gostava desse. Brincadeiras de argola, barracas de caldo, quentão, pipoca, milho verde, maçã do amor. Olhou de relance para elas e viu a garota que caiu na fila da maçã do amor. Continuou caminhando e observando o lugar, algumas jovens olhavam para ele e cochichavam entre si soltando alguns sorrisinhos. Isso o fazia revirar os olhos. Parou um pouco distante do que parecia uma barraca do beijo e ficou observando, um casal de aparentemente uns 18 anos cuidavam da organização do local. Pareciam felizes, mesmo com Pedro não indo com a cara deles. Então percebeu que ambos olhavam para a barraca de maçã do amor e sorriam. Aquilo o deixou com a pulga atrás da orelha. O que tinha tanta graça assim?

E foi ai que ele percebeu, quando a garota do tombo passou pelas mesmas garotas que ele passara há pouco tempo e elas fizeram a mesma coisa com ela. Pedro notou que a do tombo se encolheu um pouco, sem tirar os olhos da maçã do amor em suas mãos. Mas não era só isso. Parecia que todo mundo fazia o mesmo. Comentavam sobre ela. Talvez esse seria o motivo do choro?

-Moço, ocê é novo na cidade? – um jovem magrelo se aproximou dele. Aparentemente ele era o responsável pelo correio elegante, porque segurava um arco nas costas com a ponta da flecha em formato de coração.

-Eu não sei se te falaram, mas você é um cupido, você sabe né? Não precisa fazer sotaque da roça para entrar no clima da festa. -foi tudo o que ele falou. Ok, um pouco rude demais.

-Tá, entendi. Novo na cidade. -o próprio garoto respondeu se virando.

-Espera. -ele o chamou pendendo a cabeça de lado. -Como se chama? -perguntou, é a segunda vez que pensava em fazer essa pergunta desde que chegara, mas foi a primeira vez que conseguiu.

-Antônio. -o garoto respondeu indo até ele.

-Antônio. -ele acenou com a cabeça. -Então, Antônio, me conta o que todo mundo tem com aquela garota? -perguntou jogando a cabeça em direção a ela, que estava escorada em uma árvore, quase se escondendo na sombra que as folhas faziam.

-Ela? -Antônio perguntou olhando na direção que ele apontara. -Aquela é Amanda Rocha. Para ser sincero, uma das pessoas mais incríveis que você vai conhecer aqui. Infelizmente, partiram o coração dela há poucos dias, foi bem traumático, se quer saber. Cidade pequena, você sabe, né? Então, todo mundo fica comentando. Um bando de babacas. -Pedro escutou tudo com atenção e, pareceu ponderar sobre o que ele acabara de dizer. Olhou para a mão de Antônio e viu que ele segurava uma caixa com papeis cortados em formato de coração.

-Isso é para o que eles chamam de correio elegante? -Perguntou apontando para a caixa.

-Sim, ocê quer um? -ele perguntou voltando ao entusiasmo do sotaque, o que fez Pedro o encarar com a sobrancelha erguida. -Ok, sem sotaque. Mas você quer? -concluiu sem perder o entusiasmo.

Pedro olhou para Amanda, ela parecia estar querendo sumir. Por que não?

-Ok, me dá um. -ele falou sorrindo com o canto dos lábios enquanto Antônio o entregava um papel e uma caneta para escrever. Ao terminar, ele dobrou o papel ao meio e o entregou ao recém amigo. -Quero que o entregue a Amanda. -ele falou apontando novamente com a cabeça para ela, o que fez Antônio hesitar um pouco e olhar em direção à barraca do beijo. Mas depois de alguns segundos, ele deu de ombros e se virou para ir até ela. -Ah, a propósito, continue com o sotaque. -Pedro completou por cima do ombro para ele, que sorriu e saiu ainda mais feliz.

Amor de São JoãoOnde histórias criam vida. Descubra agora