1° capítulo - Efeitos colaterais

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Thomas tinha a estranha sensação que a qualquer momento sua casa se dissolveria e ele acordaria em sua cama depois de um longo e louco pesadelo, mas nada aconteceu. Uma, duas, três semanas e o garoto ainda olhava para trás esperando algum sinal enquanto andava pelos  corredores da não tão interessante faculdade de artes variadas.

Quando se candidatou para essa "grande doideira" como apelidou o garoto, ele esperava algo entediante que fosse desacelerar seu processo de escolha entre o que quer ser e o que deve ser, mas aquele pequeno conjunto de prédios o ofereceu algo a mais. Sua primeira impressão foi a de que não se manteria desocupado, ainda mais quando arranjou uma aliada apaixonada por arquitetura, teatro, instrumentos musicais e um pouco de dança.

Mas mesmo assim uma grande doidera.

Os corredores estavam sempre cheios, alunos carregavam esculturas estranhas como uma de um bezerro e outra de coelhinhos sendo engolidos por cobras, ao longo do tempo ele aprendera a não discutir com artistas plásticos, eles podem ser bem competitivos quando se trata de suas esculturas.

Tinham outros alunos mais rebeldes que vez ou outra pichavam os seus armários com diversas cores, já outros reviravam os olhos para professores descontentes enquanto tocavam violoncelo. Nada rebelde era o nome daquele lugar, Best Art University in The world (Melhor faculdade de artes do mundo), vergonhoso até para os funcionários que tinham a faculdade como experiência em seu currículo, meio desnecessário não?

Buford era uma cidade um tanto quanto peculiar, seus habitantes iam de coreanos a franceses, e de velhos atores cansados a donas de casa que nunca saíram dali. E apesar de bastante quieta ela tem sua reputação por ser a cidade natal de grandes atores e músicos e, por óbvio, ter a melhor faculdade de artes de todos os tempos, como diz o repórter de 20 e poucos anos que passa no pior canal da tv. Luiza tinha a mania de falar que se os et's vissem a programação da cidade desistiram dos terráqueos, o que era estranho considerando o fato de que ela não acreditava em et's e nem no zodíaco.

Uma única lágrima percorreu o seu rosto e então ele se lembrou onde estava, vez ou outra quando as lembranças davam saltos o garoto esquecia totalmente de outras coisas, incluindo um professor com óculos escuro pedindo a prévia de um roteiro que ele deveria ter feito.

Ele olhou para o papel sob a mesa sem título ou palavra alguma, Thomas tentou pronunciar alguma desculpa mas tudo o que pensou foi "por que raios aquele cara está usando óculos escuro?". O professor o encarou por mais alguns segundos como se o desafiasse a dizer algo, então contou mentalmente até três, respirou fundo e prosseguiu também sem se pronunciar.

Sem nenhuma dúvida ele sabia que quando chegasse em casa, teria  e-mails do seu professor contando a mãe do seu mal desempenho na escola. Mas isso não importava muito já que a senhora nem se lembrava da senha do Notebook e ele nunca pensou em tirar vantagens disso tanto quanto agora.

Na volta para casa uma menina de tranças rosas o comprimentou, era o tipo de "conhecida" que você sempre comprimenta mas nunca se falaram de verdade, por duas vezes seguidas ela reclamou que Thomas não a comprimentou e o garoto teve que explicar que não enxerga muito bem sem os óculos, o que é bem ruim para uma pessoa tão esquecida que deixou a própria mochila em casa diversas vezes.

Subitamente ele parou ao ouvir o rangido de um velho balanço, observando a grande casa abandonada o garoto sentiu calafrios percorrendo seu corpo como se seguissem suas veias, até o último verão aquela era apenas uma casa velha normal, mas as coisas mudaram. Thomas ficou envergonhado após se assustar com uma simples senhora da casa ao lado colocando o lixo para fora, ela sorriu para o garoto, provavelmente viu seu mini ataque cardíaco desnecessário. Ele achou melhor ignorar e virou-se retomando o caminho para casa.

( EM REVISÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora