Thomas despertou no dia seguinte com Gabi batendo em sua porta logo de manhã, seu rosto estava amassado apenas de um lado e ele dormira na cadeira dura sob o diário de Luiza, cujo ainda não acabara de ler.
Gabi entrou no quarto antes mesmo dele responder e olhou irônica aquela situação.
- Para quem odeia mistérios você está bastante envolvido em um! - Ela disse.
- Digamos que esse está entre casos e descasos dos tantos outros que já tentei ler. - Falou e então olhou para Gabi com pesar. - Nós estamos nele.
- Não é só isso, Thomas. - Gabi voltou-se para o primo e o fez sentar na cadeira novamente. - Nós temos que prender o culpado.
- Acordei com cara de policial hoje foi?
Ele disse colocando os óculos e sorrindo, tentava claramente disfarçar todo o nervosismo diante aquele assunto, para Gabi parecia tão natural. As oito da manhã ela já estava com um batom vinho nos lábios, cachos feitos por babylis no cabelo rosa e nenhuma olheira sequer. Estava simplesmente plena - como ela mesma diria.
- Não somos os vilões também. - Ela falou mudando o tom de voz.
- O que você quer me contar?
A garota respirou fundo e se jogou na cama como quem se joga numa piscina de bolinhas. Ela contraiu os lábios e enrugou o nariz fazendo uma careta, quando a desfez abriu a boca jogando as palavras em Thomas tão rapidamente que elas se juntaram dificultando e muito a compreensão do garoto.
- Você é um dos suspeitos e eu estou indo para a casa do policial que acha isso.
- É O QUE? – Ele indagou boquiaberto.
Gabi agarrou a coberta e a colocou sobre si escondendo seu rosto como se fosse também esconder a verdade de Thomas, ele levantou-se da cadeira e foi até a cama puxar o cobertor da prima.
– Quanta maturidade para lidar com um assunto sério, não é Gabi?
Ele penetrou seus olhos nos dela esperando por alguma resposta, a garota de cabelo rosa continuava deitada com o semblante congelado na mesma expressão de medo. Thomas colocou a mão sob a cintura, ajeitou a postura e se preparou para entrar na performance de uma de suas vizinhas barraqueiras.
– Escuta aqui querida, eu exijo saber dessa história aí agora! Tá ouvindo bebê? AGORA.
Acreditem ou não, ele até afinou a voz e isso fez Gabi descongelar e sua boca se curvou num sorriso. A linguagem da garota era o drama, então ela com a voz chorosa começou a falar.
– Muundo cruel e sombrio, por que me acordastes para encarar a verdade em profundo alento?
O mundo não respondeu.
- Ô Deus, eu não creio que tenho voz para esclarecer notícia mórbida e desesperadora nessa situação confusa, poderia por favor jogar um raio na cabeça de meu primo e o transformar no flash?
Deus não respondeu.
- Querido universo...
O universo nem teve a chance de responder.
- O que o flash tem haver com isso? - Ele interrompe.
- Se você fosse o flash poderíamos cagar na linha do tempo trazendo a minha bebê de volta.
- Bem pensado, garota. - Thomas sorriu, mas logo sua expressão endureceu. – O que queria me dizer e onde a senhorita vai?
- Eu já disse, vou para a casa do policial que acha que você matou a própria namorada.
Thomas a encarou simplesmente mudo obrigando-a a se explicar melhor.
- O caso da Luiza está nas mãos do investigador e delegado Sr.Campbell, o pai de Caleb. Eu venho investigando cada vez mais, sei que estão de olho em você. – Gabi contou olhando para o primo de soslaio.
- A partir do momento que abri meus olhos sabia que não ia ter um bom dia. - Ele respondeu nervoso batucando os dedos na parede.
- Nós vamos cuidar disso, não precisa se preocupar.
Ele concordou apenas para que Gabi não o consolasse, odiava se sentir tão dependente e frágil. Pouco tempo depois ele a convenceu de que estava tudo bem e de que deveria ir, Gabi passou pela porta sorrindo e apesar de não saber, foi assim que se livrou de ter um dia tão ruim quanto o de Thomas.
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Mais tarde ao voltar da sorveteria com Pedro após o almoço, Thomas avistou um carro desconhecido parado em sua porta. Já estava cansado dessas visitas surpresas toda hora que ele saia, parecia algum tipo de perseguição.
– Você esqueceu a cha-chave de novo né? – Pedro indagou puxando o irmão do transe.
– E quando eu não esqueço?
Pedro levou a mão ao rosto indicando um gesto de desprezo e olhou para o irmão decepcionado. Thomas, por um momento sentiu vergonha de si mesmo.
Ao bater na porta de sua casa os meninos se depararam com um fantasma do passado. Alguém cujo eles não esperavam ver nunca a mais, alguém que nunca se importou.
O rosto de seu pai era quase que irreconhecível, a barba estava por fazer, os óculos de sol rayban escondiam os olhos castanhos exaustos e disfarçavam a expressão preocupada. Era um cara totalmente diferente do que foi embora, um cara que agora estava na sua sala com camisa Havaiana como se fosse um amigo da família fazendo visita.
– O que faz aqui? – Thomas pergunta já sentado no sofá.
– Eu estou sabendo dos últimos terríveis acontecimentos em que está envolvido. – O pai respondeu severo.
Mas não poderia ser chamado de pai, Sr. Álvares não podia nem mais ser considerado conhecido.
– E que não são da sua conta.
– Eu sei que está com raiva, minha terapeuta disse que estaria. – Álvares falou quase que sorrindo – Eu só quero ajudar.
– Está meio tarde para isso! – Thomas gritou.
A mãe havia levado Pedro para o andar de cima, por mais que ele não entenda a situação ela já sabia que aquela seria uma conversa agressiva demais para a criança.
Na sala, Álvares foi até a cozinha se sentindo a vontade na casa e pegou um envelope com vários documentos, depois se dirigiu a Thomas e os colocou sob a mesa de centro sentando-se no sofá também.
– O que raios é isso?
– É um contrato. Escute Thomas, minha empresa tem crescido cada vez mais, eu tenho vários advogados a disposição que podem te tirar dessa. Se você aceitar ir comigo eu te livro de tudo isso, vai poder trabalhar ao lado do seu pai e ganhar dinheiro. Muito dinheiro.
– Acha que dinheiro é o que m interessa? – O garoto indagou desacreditado. – Eu perdi alguém importante e estou sendo acusado de assassinato, ao menos pensou em perguntar se estou bem?
Álvares levou a mão a nuca pensativo, com certeza aquela não foi a melhor forma de interceptar seu filho. Antes que pudesse responder algo sua expressão o denunciou fazendo Thomas entender o real motivo de sua visita.
– Só veio pra confirmar se virei mesmo um assassino.
Sua expressão se tornou vazia e seus lábios formaram um "oh", o filho o acertou em cheio e as palavras fugiram de sua mente. Antes que respondesse, Thomas riu em escárnio e subiu as escadas tentando não deixar a máscara cair, pois se caísse ele perguntaria por que antes nunca foi importante para o pai e dessabaria em choro. A cada degrau ele repetiu mentalmente que poderia aguentar aquilo.
Luiza aguentou coisa pior, e ela era apenas uma criança.
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( EM REVISÃO )
RomanceThomas acabou de perder sua melhor amiga e, possivelmente seu primeiro amor quando se vê arrastado para um filme de mistério muito ruim e o pior é que ele odeia mistérios. Quando Luiza se tornou sua vizinha o mundo virou de cabeça pra baixo, ela ca...