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...- Sua mãe foi tola, a Morte irá te cobrar... – o demônio sussurrou ameaçadoramente, de modo que a menina escutasse. – A Morte irá sempre te cobrar.

De volta ao lar e tendo que alimentar seu irmão, a pequena ruiva foi para a cozinha trabalhar.

...

A menina acordou no chão, a faca que havia escorregado de sua mão e se enterrado em seu corpo jazia ao seu lado, havia sangue e um buraco em seu vestido, mas não havia ferimento. Ela havia morrido, de novo. E sobrevivido, de novo.

Tentava de todas as formas poupar seu irmãozinho das visões horríveis que eram suas mortes, nem da morte já tentava escapar, ela só receava que ele acabasse envolvido nos seus acidentes.

Já faziam anos que sua mãe falecera e ela ficara daquele jeito. Seu irmão sabia da sua "imortalidade" e ele entendera que precisava guardar segredo.

Ela voltou a lavar bem a faca e continuou a cortar os legumes, era sofrível viver daquele jeito, morrer de vários jeitos, isso não a privava da dor, ela se perguntava se um dia ia se acostumar...

Ela estava fazendo refeições por encomenda para sobreviver, pedia ao seu irmão para entregar os embrulhos e assim evitava que sua "morte" fosse anunciada por aí.

...

Em um entardecer depois da aula o garotinho ficou brincando até mais tarde, a chuva o pegou desprevenido, ele andava ensopado se agarrando a sua bolsa pelas ruas vazias sem encontrar um abrigo e tentando se aproximar o mais rápido de casa, ele já imaginava o sermão da irmã quando chegasse daquele jeito, mas estava tão frio, tudo o que ele queria naquele momento era uma roupa seca e suas cobertas.

Estava se aproximando, faltava pouco.

Mas, naquele dia, a Morte também foi trabalhar ali.

Um único clarão.

Um raio que havia caído.

E o garotinho caído no meio da viela há duas ruas de casa, morto.

Ela estava perto, correu pela chuva, o estava procurando.


Espantou-se que o raio não houvesse lhe acertado.

Correra naquela direção e ao vislumbrar seu irmão caído o agarrou desesperadamente.

O abraçara, implorara para ele abrir os olhos, dava tapinhas em seu rosto.

Nada.

Mas ele estava lá.

O pequeno demônio.

- Pobre garotinho! Tinha tanto para viver e acaba assim? – Ele sorri maliciosamente para ela. – Mas você tem algo moça que pode dar em troca de que eu ressuscite ele. – Seu sorriso se alarga mais. – Sua imortalidade.

Agora ele havia confirmado a ela, nada realmente a podia matar.

Tudo que o pequeno demônio pensava era: "Finalmente! Vou consertar esse erro do passado".

Ela o encarou bem nos olhos com os seus transbordando água na mesma intensidade que a chuva forte.

- Não.

- O-o que disse? – Seu tom era zangado.

- Eu disse não. Não aceito sua proposta.

Ela pegou seu irmão falecido no colo e sem olhar para trás dirigiu-se a sua casa.

A Menina E A MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora