VIII - Ainda irei te amar

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Naquela noite eu tive muito mais que sonhos...

Minha cabeça latejava de uma forma horrível e eu tentava a todo custo bloquear a minha mente das diversas imagens que nublavam a mesma.

Mas era impossível. Parece que meu cérebro determinou que já era tempo demais vivendo na ignorância, eu precisava lembrar. Mas eu não queria que fosse dessa forma.

Todos os sentimentos, sensações e lembranças me tomavam de uma vez só.

Mas um dos sentimentos era no mais vivido... A solidão.

Eu vivi sozinho e trancado em um escritório os melhores anos da minha vida. Eu tinha medo de sair na rua e me decepcionar outra vez, tinha medo de o encontrar na rua, ou muito pior, o encontrar com outro.

Chanyeol esteve presente em minha vida o tempo todo, cada segundo, mesmo depois que partiu.

Eu vivi aquele amor platônico adolescente e ainda tive uma chance que muitos não tem, eu pude me entregar a ele, mas do que adiantou? Ele foi embora no dia seguinte, partiu e disse que não lembrava de mim. Eu não fui bom o suficiente, não deixei a minha marca em si.

Eu queria acreditar que a forma que ele defendeu Kim Chanyeol na cafeteria aquela tarde era uma forma de dizer que ele lembrava de mim, que ele me amou mesmo que por um segundo.

Mas ele agiu como se não me conhecesse, então não conhecia.

...

Naquela semana eu fiquei trancado no quarto todos os dias, ignorando todas as mensagens e ligações de Chanyeol, até que minha bateria acabasse e eu não precisasse mais atender nenhuma.

Eu não saia nem para comer, o que deixava Luhan extremamente preocupado e enchendo meus ouvidos com perguntas e sermões.

Mas eu queria ficar ali, refletindo, me perguntando o que fazer... Porquê... Depois que eu descobri que ele era o meu Chanyeol eu me arrependi de não ter aceitado aquele beijo.

E se ele quisesse me beijar? E se lembrasse de mim e se arrependesse de ir embora? Mas tudo tinha um outro lado... E se ele quisesse rir da minha cara outra vez? E se ele fosse embora depois?

Isso estava me deixando maluco. Meus livros estavam me deixando maluco. Só faltavam dois. Um deles parecia até que estava rindo da minha cara "Ainda irei te amar" é o título, coincidência eu lembrar a tempo de chegar neste livro?

Minha cabeça dava muitas voltas, mas como no passado tudo sempre voltava ao mesmo ponto: Park Chanyeol.

A vida é simples de ser vivida, complicada pelas pessoas que a vivem.

BaekYeong sempre viu tudo com uma pureza invejável, amava aquilo que outros nem lembravam que existia. Seus melhores momentos era sentado em meio a um bosque com muitas flores amarelas, e para tantos insignificantes, mas ele amava sentir a brisa, o cheiro da terra e das flores, isso era parte da sua essência.

Chanyeol gostava de correr por aquela mata para fugir dos pais, era um pequeno mimado, um filhote, que encontrou BaekYeong sentado no grama e resolveu se aproximar sem mostrar sua real face, apenas chegando perto, seu fucinho farejando o ar e vendo que a essência das flores parecia vir do menino sentado no campo.

BaekYeong olhou o filhote e sorriu o trazendo para mais perto e acariciando seus pêlos macios. Chanyeol gostava disso, gostava de sentir o mais velho cuidando de si, por isso voltava naquele campo todas as tardes à procura daquele carinho. Vez ou outra BaekYeong também se transformava, mostrando seu pelo branco e raro, para que pudessem brincar como lobinhos. O mais velho achava engraçado que o filhote era mais novo que si, mas muito maior por ser um alfa.

Uma tarde, anos depois, Chanyeol resolveu mostrar a sua face. Naquele dia ele queria muito mais que carícias em seus pêlos. Queria provar dos lábios do ômega, era só nisso que pensavam nos últimos tempos.

O menor era tão doce e inocente que não foi difícil convencê-lo, afinal ele já amava seu alfinha da forma mais pura que podia.

E naquela tarde, quando Chanyeol tinha apenas dezesseis anos ele mostrou ao mais velho uma forma mais intensa de amor, o amor misturado ao desejo voluptuoso de unir os corpos.

BaekYeong acreditou nesse amor puro, aceito-o de bom grado, sorrindo e olhando nos olhos do maior, acariciando suas bochechas a cada estocada, suspirando e sentindo que estava realmente feliz.

...

As primaveras passavam e aquele amor só aumentava no coração do menor, até o dia em que Chanyeol anunciou a sua partida, em meio as carícias que recebia de BaekYeong as lágrimas rolavam por sua face, dizendo que teria que partir.

- Tudo bem amor, eu ainda irei te amar... - Baek disse e selou seus lábios ao do Alfa.

Um selo que levou a um beijo e uma tarde em que os corpos diziam de maneira irrefutável que se amavam demais.

...

Depois daquela tarde BaekYeong esperava por seu alfa toda a tarde, mas a sua volta nunca aconteceu.

O coração do pequeno parecia ser esmagado pelo saudade, pelo amor e tristeza. Ele só queria acariciar os cabelos de seu pequeno alfa, já não tão pequeno assim.

- Ainda que eu morra, eu irei te amar e te esperar. - foi o que BaekYeong sussurrou para si mesmo na última tarde em que esperou Chanyeol voltar.

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- Levanta dessa cama Baekhyun, vamos tomar um ar, tomar um sorvete, sei lá. Levanta!

- Não! Me deixa em paz. - Me afundei ainda mais nas cobertas sofrendo por ter lido aquele livro e agora saber que aquilo sou eu.

- Eu tô falando sério, tem cinco minutos pra levantar e me encontrar lá em baixo, senão eu vou te levantar no tapa.

Eu não dúvido de Luhan, por isso levantei e corri para o banheiro me vestindo e escovando meus dentes.

Pouco mais de cinco minutos eu já estava descendo as escadas.

- Achei que eu teria que subir e te dar uns tapas.

- Pra quê?! Eu tô super com vontade de sair. - ironizei e ele revirou os olhos e foi abrir a porta para que saíssemos de casa.

Pareceu cena de filme, Chanyeol preparado para bater na porta e Luhan a abrindo.

- O que faz aqui, Chanyeol? - Luhan perguntou ríspido.

- Eu preciso falar com o Baekhyun.

- Acho que não é um bom momento, nem nunca será.

- Mas...

- Tudo bem Lu-ge, eu vou falar com ele, tem coisas que eu preciso dizer.

- Baek, acho melhor...

- Tudo bem Lu-ge, sério, se precisar eu te chamo para bater nele.

- Acho bom. - Luhan bufou e saiu de casa.

- Vem, eu prefiro conversar em um lugar mais reservado. - subi em direção ao meu quarto - Não pensa que eu quero te levar pra cama tá?! Eu só não quero que ninguém ouça. - tentei brincar. Entramos e eu fechei a porta me escorriam na escrivaninha e esperei. - Fala.

- Por que não atendeu as minhas ligações? Sabe como eu fiquei preocupado?

- Porque eu lembrei de tudo, por isso não atendi.

- V-você...

- Sim Chanyeol, agora eu só quero saber... Quantas das suas palavras são verdade?

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