III.

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6 de junho de 2018

Constança Lopes

Após chegarmos a Kratovo, instalamo-nos nos quartos e eu aproveitei para meter o sono em dia, visto que, no voo não tivera essa oportunidade pois tive numa conversa bastante animadora e numa espécie de jogo das 20 perguntas com os jogadores nas primeiras quatro horas, ou seja, a quase totalidade do voo numa tentativa de os conhecer melhor e segundo eles, me integrar mais rapidamente no grupo.

Após conseguir descansar, preparei-me para o jantar, e para a minha primeira reportagem que consistiria em pequenas conversas com alguns dos jogadores sobre a viagem e o que achavam do centro de estágio onde ficaríamos alojados até 15 de julho, pelo menos era o que esperávamos nós e os 11 milhões de portugueses.

Oiço a minha porta a bater e pego, rapidamente, no meu telemóvel que estava na cómoda ao lado da minha cama e saio do quarto encontrando Pedro, o cameramen. Caminhamos até à sala de jantar combinando quem iriamos entrevistar e as perguntas que eu tinha pensado e que imagens poderíamos utilizar para pintarmos a reportagem.

O jantar decorreu num ambiente de diversão principalmente entre os 23 convocados da seleção nacional, enquanto eu, apenas entrei em pequenas conversas pois continuava a planear com Pedro como iríamos proceder nas entrevistas que se seguiam.

Fazia breves perguntas ao guardião da baliza lusa, Rui Patrício, quando os jogadores deram início às praxes, ou seja, Rúben Dias após subir a uma das cadeiras apressou-se a pegar numa garrafa de água que fingiu ser um microfone enquanto cantava "Anel de Rubi" de Rui Veloso fazendo todos os presentes gargalharem e ligarem as luzes do telemóvel para criar um "ambiente mais acolhedor e intimista", segundo Gonçalo Guedes.

Instruo Pedro para gravar aquele momento que quando chega ao fim é alvo de aplausos e assobios por parte da restante equipa que não hesita em mandar bocas à prestação do membro mais novo da equipa das quinas, apresso-me a caminhar para junto de Rúben assim que este termina a sua atuação para fazer uma entrevista pós-praxe.

- Rúben, como é que acha que correu a sua praxe?

- Acho que correu bastante bem e só tenho a dizer que acabei de ter um contacto do meu manager a dizer que o Rui Veloso já está a planear um dueto comigo - o defesa central brinca fazendo os presentes na sala rirem

- Constança! - o meu nome é chamado e encaro o capitão, Cristiano Ronaldo, que me estica a garrafa que anteriormente tinha estado nas mãos de Rúben, o que me faz arquear a sobrancelha não entendendo o porquê da atitude do número 7.

- Oh sim!! - oiço o grito de Cédric e Raphael que começam a bater na mesa gritando pelo meu nome e é nesse momento que percebo as intenções da restante equipa

- Oh não, não... Eu estou a trabalhar não vêem? - eu estico o microfone dando a entender que me encontrava no meio de entrevistas

- Não seja por isso - Pepe apressa-se a levantar e a roubar o microfone da minha mão o que me fez reclamar e tentar recuperar o microfone o que foi impossível quando o mesmo colocou-o esticado sendo impossível ao meu 1,68 cm "lutar" contra o 1,88 cm do luso-brasileiro.

- Malta, a sério, não.

Ainda tento escapar mas no momento a seguir já tenho Adrien que me quer auxiliar a subir na cadeira que fazia de palco. Relutante pego na garrafa que Cristiano ainda tinha esticada na minha direção agarrando-a.

- O que é que eu canto agora, minha nossa senhora? - os jogadores começaram a dar várias dicas mas das poucas músicas sugeridas que eu sabia da letra era nem mais nem menos do que "A Garagem da Vizinha" de Quim Barreiros.

Após insistirem mais umas quantas vezes acabo por cumprir a minha praxe que acabou por se tornar um típico arraial português, visto que, já contava com os jogadores mais jovens a fazer um "comboio" pela sala de jantar acompanhando-me a cantar. Assim que a música termina faço várias vénias e agradeço aos meus mais recentes fãs.

- Lembra-me de nunca ser teu vizinho. - Bernardo comenta e após alguns olhares de admiração e de risos, devido ao duplo sentido da música, o jogador do Manchester City começa a fazer expressões estranhas com as mãos e as suas bochechas começam a ganhar um tom ruborizado

- O que tu querias era meter o teu carro na garagem dela. - André comenta levando logo de seguida um cascudo por parte de Bernardo e um comentário reprovador de Fernando Santos.

Escusado será dizer que as minhas bochechas já estavam completamente coradas.

Mundial || Bernardo SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora