XIX.

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Dia diferente. A mesma varanda. A mesma rotina. Eu e Bernardo.

A minha cabeça encontrava-se pousada no seu colo enquanto ele brincava com pequenos fios do meu cabelo tudo num silêncio ensurdecedor, algo que não era de todo habitual. Desde que havíamos regressado de Sochi para Kratovo que tanto eu como Bernardo refugiámo-nos no que consideramos ser o nosso sítio desde que havíamos chegado à Rússia e onde tínhamos permanecido praticamente todas as noites nem que fosse para uma breve conversa de quinze minutos ou uma de duas horas.

Mas hoje, hoje era diferente. Tanto eu como Bernardo não havíamos contado uma das nossas histórias de vida ou um facto completamente aleatório que nos fazia conhecer um ao outro cada vez mais. Hoje era a despedida, a despedida da Rússia e a despedida do nosso pequeno refúgio.

Amanhã por esta hora estaríamos em Portugal e tudo voltaria ao que era de antes e estes momentos iriam acabar. Por muito que eu não o quisesse demonstrar isso apavorava-me, a única réstia de esperança eram as palavras proferidas por Bernardo quando estávamos no relvado: "Isto ainda agora começou". Mas o que era isto e o que é que ele queria dizer com isso?

- Constança! - a voz de Bernardo soou pela primeira vez quebrando o silêncio e eu elevei o meu olhar para encarar o seu rosto

Um pequeno sorriso predominava na cara de Bernardo enquanto o mesmo fazia pequenas festas no meu rosto e elevou o meu rosto para deixar um beijo prolongado nos meus lábios. - Era só para esclarecer que isto não é o fim!

Alívio foi o que preencheu o meu corpo e um sorriso apoderou-se do meu rosto, e desta vez fui eu que o beijei. Não sabia o que era isto entre nós mas era bom, demasiado bom, para acabar assim.

Ainda era tudo tão incerto, mas tão certo ao mesmo tempo.

Mundial || Bernardo SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora