199 dias antes

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Meu desejo de sumir me consumiu completamente, não conseguia pensar em outra coisa, queria me afastar de todos. E foi isso que fiz, fui andando pela estrada, em busca de nem sei o quê. Não sei o porquê de ter saído de casa, mas estava me sentindo sufocada, sentia o meu ar acabando e meus pulmões ardendo implorando por um pouco de ar, senti toda dor da emoção, senti todo o frio dessa noite, nunca imaginei que teria medo do que poderia encontrar na rua, mas dessa vez eu estava sozinha e apavorada.
Alguns carros passavam por ali, não tive coragem de pedir carona, então, assim que avistei a primeira árvore na lateral da pista, sentei e encostei em seu tronco, eu estava tão cansada e frustrada, eu queria, estava torcendo para que um carro me atropelasse mas eu queria viver também. Queria saber onde essa história iria parar, fiquei pensando e pensando sobre, horas e mais horas chorando, até cair no sono.
Acordei antes do sol aparecer, não conseguia dormir e tinha um sensação de estar sendo observada. Me levantei e segui caminho, torcendo pra que atrás de cada morro houvesse um vilarejo não abandonado.
Continuei no caminho, sem olhar pra trás, não valia a pena, não mais. Deixei tudo de mais valioso que eu tinha, abandonei tudo e todos, às vezes a vida não faz sentido. Eu só queria alguém que me amasse e me fizesse feliz, só queria que alguém olhasse pra mim com carinho, cansei de ser o caos na vida das pessoas, cansei de ser inútil e tola, quero conhecer o mundo, quero ser o mundo.
O sol apareceu algumas horas depois, e depois de muito tempo andando eu encontrei um ponto de ônibus. Acho que nunca fui tão grata por isso, pensei que como havia um ponto de ônibus, perto dali haveria alguma cidade/vila, mas me enganei novamente. Encontrei um posto de gasolina completo, deveria ter trazido dinheiro pois já estava morrendo de fome, pensei em ficar na frente da lanchonete esperando algum cliente sair e pedir um trocado, mas ela estava completamente vazia. Fui ao banheiro, fiz minhas necessidades, lavei as axilas que estão podres e arrumei o cabelo. O plano é o seguinte: eu vou lá, lancho e fujo. Não deve ser difícil, nem segurança aqui tem, eu acho. Saio do banheiro.
A atendente era um moça alta, forte e com cara de brava, tremi na base ali.
- A senhorita está sozinha? Aqui é perigoso! -Ela me disse apontando com o olhar para um grupo de rapazes tatuados que apareceram ali enquanto eu estava no banheiro.
- Não tenho medo do perigo de uma estrada deserta, tenho medo de mim e do que posso causar as pessoas.
- Então tá bem, quando você aparecer nos jornais, estarei no seu velório. O que vai querer?
É a primeira fase do plano, lanchar. Pedi alguns salgados e umas garrafinhas de água. Quando terminei, pedi pra ela fazer um balde de frango frito pra viagem, quando ela entrou eu fugi.
Segunda fase e última completada com sucesso. Só via ela berrando na porta da lanchonete, meu primeiro roubo, eu nem podia acreditar. Naquele momento eu me senti viva.
- Fala gracinha, você não tem cara de ser ladra, relaxa que não vamos fazer nada contigo - eram os caras tatuados, eles estavam em motos estilosas pra caralho- sobe aqui na garupa, vou te dar uma carona até onde cê tá indo.
Eu tinha outra opção? Ir andando até achar algum lugar civilizado e morrer de desidratação? Subi na garupa e senti que a emoção começava agora, ali mesmo.

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