Capitulo 1

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Junho de 2007

Luiza

Meus olhos abriram lentamente quando ouvi o despertador "gritando" para que eu acordasse logo. Meu corpo estava pesado como uma pedra, e meu cérebro um tanto lento para pensar. Constatei que eram 6:00 horas de uma manhã de segunda feira. Fechei os olhos novamente e permaneci deitada.

"Só mais alguns minutos...".

Com um esforço insano e preguiçoso estiquei meus braços para desligar aquele maldito despertador que fazia um som extremamente irritante. Senti um arrepio de frio quando finalmente tirei as cobertas e me sentei na cama.

Peguei o celular embaixo do travesseiro e tinha uma mensagem do Diego.
Instantâneamente me lembrei da noite passada... Fechei os olhos e respirei profundamente.
"Filho da puta!"

Meus dias eram praticamente iguais. Acordar, levantar, escovar os dentes, tomar café... Exceto quando seu namorado agia  como um verdadeiro babaca!

--- Namoro a distância é uma merda! - falei enquanto olhava meu reflexo pelo espelho.

Meu cabelo estava uma droga, meus olhos inchados e pra completar, as olheiras que se formaram eram medonhas.

--- Credo! - indaguei fazendo uma careta pro espelho.

Chorar por um cara não fazia parte do meu pacote de personalidade. Bom, pelo menos foi o que eu pensei da última vez em que me apaixonei. Foi uma bela merda!
Conheci o Dih em um chat de bate-papo na internet, conversamos por umas duas semanas, todos os dias. Já tinha visto ele por foto e pela Web cam. Porém ele não sabia como era minha aparêcia fisica, nem por foto, nem pela Cam.

"APARÊNCIAS"

Eu sempre tive um problema com aparências. Na verdade eu nunca gostei da minha...
Perto das minhas amigas da faculdade eu sou o "patinho feio"!
Os meninos mal me olham,  acho que até fingem que eu não existo. Sempre que se aproximam de mim, é só pra perguntar se eu posso apresentá-lo para uma delas.
Cuzões do caralho, eu sei...

Passei pela porta da cozinha e peguei uma maça, na fruteira. Helena, a mulher que se intitulava como minha mãe estava fazendo café, pois o cheiro tomava conta da casa inteira.
Dei uma enorme mordida na fruta e ela se virou ouvindo o estalo crocante.

--- Pensei que não fosse levantar mais hoje madame!

Ironizou ela com uma carranca na cara.

Minha relação com ela era complicada...

Helena se casou com meu pai quando tinha 17 anos, teve 2 filhas, sendo eu a caçula. Ela nunca fora carinhosa comigo. Sempre me comparava com a Isadora minha irmã mais velha. E Fazia questão de demonstrar isso em qualquer lugar que estivéssemos e perto de qualquer pessoa.

"--- Nossa Luiza você está parecendo uma morta viva..."

Quando meu pai morreu, as coisas foram ficando piores. Pensei que ela estivesse apenas triste e abalada com a morte do meu pai, mas as coisas ficaram um tanto insuportáveis. Ela se tornou uma pessoa dificil de lhe dá. Sempre tão orgulhosa, stressada, moralista, sempre brava com o mundo. Me tratando mal, e cada vez mais me deixando pra baixo. Na cabeça dela eu nunca podia questiona-la ou até mesmo expor alguma opinião. Sempre jogava na minha cara que a casa era dela e que se eu não concordasse com as "regras", era pra que eu fizesse o favor de me retirar.

"--- ... Vai aprender umas dicas de maquiagem com a sua irmã... "

Ela reclamava da forma como eu me vestia, vivia dizendo que as minhas roupas pareciam trapos.
Falava sobre o meu cabelo, que estavam horríveis e que eu precisava perder peso porque segundo ela eu estava gorda. Quando eu queria conversar sobre os meus sentimentos ela dizia que isso não passava de um surto de frescura e que não tinha tempo pra escutar as minhas asneiras. E por fim, dizia que se eu quisesse casar com um homem bonito um dia, eu precisaria parecer um pouco bonita.

"--- ... Você sabe que não é tão bonita quanto a Isadora, mas pelo menos você aprende alguma coisa..."

No começo ouvir isso acabava comigo. Chorava em silêncio no meu quarto, tentando não absorver as tantas merdas que ela falava na intenção de me humilhar.
Não sabia o porque ela me odiava tanto...

"--- ... E vê se faz alguns exercícios físicos, pra ver se perde um pouco de peso. Vai ver por isso homem nenhum se interessa por você. Também, que homem gosta de mulher gorda?"

Continuou ela com sua cota de ofensa gratuita mais uma vez, sorrindo com escárnio.

Sentia o desprezo em cada palavra, e isso me dispertou uma fúria tão grande que não tinha mais como controlar a raiva.
Olhei para ela com o olhar mais frio que consegui. Não iria mais deixá-la me machucar.

--- CHEGAAA! - Gritei, quase cuspindo na cara dela.

--- ... Que porra de mãe é você? - ela ergueu as sobrancelhas um tanto surpresa.

Seus olhos piscaram várias vezes, e se arregalaram assustados com os meus gritos.

--- ... Eu juro por Deus que  adoraria acordar um dia e não ter o desprazer de me lembrar a cada maldito segundo que sou filha de uma mulher frustrada, infeliz e desprezível feito você! Pode ter certeza que eu estaria bem feliz se você estivesse dentro daquele caixão ao invés do meu pai! Tenho certeza que mesmo morto o corpo dele fede bem menos do que o seu! Porque você? Você, é Podre e me inoja!

Pude ver o brilho de ódio em seus olhos, Helena tremia por dentro, suas mãos apertavam o pano de prato como se seus dedos estivessem em meu pescoço.
Não dei a mínima para o que ela estava sentindo, não queria mais que ela me tratasse feito lixo. Eu não merecia isso.

Por fim dei as costas para ela, saindo sem me arrepender do que tinha acabado de falar. Meus olhos estavam marejados, porém me recusei a chorar. Estava cansada! Cansada disso tudo. Não queria mais olha-la, eu não queria ouvir a voz dela. Uma mãe não humilha seus filho, não pisa, não maltrata... Deus me livre, ser como a Helena!

Respirei fundo, e fechei meus olhos por um instante. O ar estava fresco e um pouco frio. As ruas ainda estavam silenciosas e havia algumas lojas de comércio que ja estavam abertas, como a padaria e a floricultura que ficava a uma quadra de casa.

Tudo estava calmo, mas dentro de mim tudo estava um caos. Peguei o celular do bolso, e observei o papel de parede na tela. Era uma foto minha e da Helena. Lembro que era meu aniversário de quinze anos, naquele dia estranhamente Helena fez um bolo e me comprou um presente. Eu insisti pra que ela tirasse uma foto comigo, mesmo ela dizendo que eu não ficava bem em foto nenhuma. Naquele dia eu não me importei, eu só queria uma foto com ela. Só queria sentir que éramos mãe e filha.

Eu fiquei tão feliz, porque eu acreditava que talvez ela pudesse me amar e guardei a foto, e mesmo com todas as ofensas eu não conseguia odia-la. O que eu sentia era uma profunda pena dela.

Cliquei na galeria e instintivamente deletei a foto. Não queria mais nada dela, nada!

"Essa mulher definitivamente é tudo o que eu não sou!"

Pensei antes de entrar no ônibus que me levava até a faculdade.










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