Capítulo 3

7 0 0
                                    


Luiza

"Quero que arrume suas coisas e vá embora dessa casa! Agora!"

As palavras se repetiam com direito a eco em minha cabeça. Sim. Helena estava me expulsando de casa!

--- O-oque? - perguntei atônita.

--- Sim! Você está surda? Quer que eu desenhe ou soletre? - Helena mantinha seu rosto impassível e desprovida de qualquer emoção.

--- Vo-você quer que eu vá embora? - eu perguntava debilmente, ainda tentando absorver o que eu acabara de ouvir.

Não, não, não...

Meu coração batia angustiado no peito e minhas mãos trêmulas, e eu podia sentir um imenso oceano Atlântico em formas de suor escorrendo pela minha nuca.
Ela não podia fazer isso comigo!

--- Tome... Pegue esse envelope. Nele contém dinheiro pra te ajudar por pelo menos uma semana. Depois, você se vira...

Ela me estendeu um envelope pardo, pequeno. Mas eu não o peguei, continuei olhando-a incrédula.

Deus! Ela estava falando sério...

--- Pegue Luiza, antes que eu me arrependa da minha generosidade e te deixo ir com uma mão na frente e outra atrás!

Ela sacudia o pequeno envelope, quase esfregando na minha cara.

--- Mas, você nao pode fazer is...

Antes que eu terminasse de falar ela me interrompe, ríspida.

--- Posso! E vou! Quero você o mais longe daqui possível...

--- Mas essa casa também é minha, Helena isso é louc...

--- Como se atreve a me questionar ou exigir alguma coisa, quando até a comida que você come foram compradas com o MEU dinheiro?

Helena estava furiosa!
Podia ver o brilho de ódio em seus olhos, o ressentimento em sua voz. Seu tom era baixo, mas nitidamente ameaçador.

--- Você só pode estar LOUCA... 

Na mesma hora minha cabeça pendeu para o lado,  seguido de uma ardência repentina na face esquerda e o meu corpo tombou no sofá abruptamente.
Helena havia desferido violentamente uma bufetada em meu rosto.

--- Sua bastardinha imunda! Você tem cinco minutos para arrumar seus trapos e sumir da minha vida! - gritou jogando o envelope de dinheiro em cima de mim.

Passou por mim feito um raio, pude ouvir quando a porta do seu quarto bateu tão forte, que até as janelas estremecerem...
Passei a mão  lentamente no meu rosto, a dor ainda estava lá e ardência também...
Eu não ficava mais surpresa com as ofensas que saiam da boca dela. Na verdade eu já estava bem acostumada a isso. O que eu não imaginava era que um dia ela pudesse me bater.

Levantei do sofá e fui para o meu quarto arrumar as minhas coisas... Eu não tinha muitas. Só algumas peças de roupas, alguns pares de sapatos, pequenos objetos pessoais e o meu celular. Tirei o short que estava usando e vesti uma calça jeans esquine, uma blusa fina de mangas longas branca e um casaco de moletom preto, com um símbolo da Oakley no meio. E por fim calcei um par de tênis branco da Mizuno.

Arrumei tudo o mais rápido que consegui. Não queria ficar nem mais um minuto respirando o mesmo ar que aquela mulher.

Eu não tinha a menor idéia do que fazer ou pra onde ir!
Fazia quase dois meses que seu Ahamed tinha me mandado embora de sua lanchonete, porque eu cuspi no café de um cliente, depois dele ter apalpado  minha bunda!
Humildemente seu Ahamed havia me deixado trabalhar para ele, mesmo seu quadro de funcionários estando completo.

E agora eu estou sem emprego, sem um lugar pra morar e ainda por cima sem dinheiro.

"Droga..."  Pensei.

Suspirei pegando minha mochila e catando as peças do que estava do meu celular no chão, depois de quase ter destruído devido ao meu surto de fúria.
Parei em frente ao quarto da Helena. Observei a porta por alguns segundos tentando encontrar uma razão pra que ela pudesse me odiar tanto assim... Mas nunca conseguia acha-la.

Fui pra cozinha e peguei algumas coisas pra comer quando sentisse fome. Pelo menos ia dar pra aguentar, até eu organizar as coisas...
Quando já estava saindo, me lembrei do envelope com dinheiro. Meu orgulho gritava pra que eu não voltasse e pegasse aquele maldito dinheiro!

Mas minha necessidade me implorava pra voltar e pegar tudo. Então optei por usar a minha necessidade como desculpa e corri de volta pra sala.
O envelope ainda estava lá. Caído no canto do sofá, eu o peguei rapidamente antes que me arrependesse.
Dobrei-o e enfiei no coz da minha calça jeans e então finalmente abri a porta e saí, pra nunca mais voltar.

Bem... estou ofialmente fodida!

Pensei comigo mesma, enquanto caminhava por entre as ruas silenciosas numa noite fria de outono.

****

Mais um saindo agora! Não esqueçam de votar e comentar!













Doce OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora