─ Eu só acho que biblioteca não é lugar de ficar se agarrando. Existem outros lugares para isso. ─ Gabriel e Antonella discutiam ao descer do ônibus, enquanto Eric e Valentina riam.
─ Tipo na quadra da escola?
─ Exatamente. ─ Gabriel fez cara de óbvio ─ Qual é, é arquetípico, pirralha: quadra, jardim e cantina foram feitos para namorar. Biblioteca e sala de aula foi feito para estudar.
─ Nunca achei que ouviria Gabriel Santos usando a palavra arquetípico. Ou defendendo que algum lugar é para estudar. ─ comentou Eric.
─ Para você ver o que o ciúmes desenfreado dessa criatura não faz. ─ Valentina suspirou, observando a amiga destrancar o portão de casa ─ Meio estranho nosso jantar de dia dos namorados ser os quatro juntos, mais os pais de vocês.
─ Agradeça que nós conseguimos convencer eles a não chamar os pais de vocês. ─ confidenciou Gabriel ─ Meu pai está querendo ser jovem e descolado, estar por dentro da vida de nós dois e tal... Tá um pouco assustador, se quer saber.
─ Meu avô usa cueca por cima da roupa, Biel... Nada que sua família fizer vai conseguir me surpreender. ─ garantiu Valentina, provocando risos nos outros três.
Assim que abriram a porta, perceberam que a menina estava errada. Era possível sim ficar surpreso, e muito.
A casa estava cheia de balões de coração colados nas paredes, além de montes de fotos dos dois jovens casais e dos donos da casa. A mesa de jantar estava posta com três toalhas diferentes, três jogos de pratos e três candelabros. No som, uma playlist romântica.
─ A tia Silvana está bem? ─ sussurrou Eric, espantado.
─ Olha, cara, eu achava que sim. Nesse momento, to pensando se eu deveria chamar um psiquiatra. ─ Gabriel tinha os olhos completamente arregalados.
─ A mamãe ficou louca. A gente tá perdido. ─ Antonella gemeu desgostosa.
─ Eu to achando que meu avô andar de cueca por aí é normal. A que ponto chegamos. ─ Tina negou com a cabeça, soltando uma risada nervosa.
Começaram a ouvir assovios, vendo o pai dos gêmeos surgir da cozinha. Heitor usava calça e camisa, mas tinha um avental vermelho com um coração enorme por cima e carregava algumas taças.
─ Ah, chegaram! ─ ele viu os filhos, abrindo um sorriso enorme ─ Gostaram da decoração?
─ Pai, você e a mamãe estão bem? Comeram alguma coisa estragada, inalaram alguma fumaça tóxica, fizeram joias com kryptonita? ─ perguntou Gabriel, se aproximando do mais velho.
─ Kryptonita?
─ A pedra do Superman.
─ Ah, isso. Não, não... Até porque, deve ser bem caro, né? Sua mãe não queria nada assim de presente, não é? ─ se preocupou Heitor, encarando os filhos.
─ Na verdade, kryptonita não existe realmente, tio Heitor. ─ avisou Eric, tentando não rir.
─ Pai, você andou comprando viagra paraguaia? ─ Gabriel questionou, vendo o pai explodir em uma sonora gargalhada ─ Acho que ele ficou louco de vez.
─ Não fale asneiras, Gabriel... Se eu tivesse comprado viagra paraguaia, eu acabar com o pescoço travado, não feliz.
─ E tem algum motivo para você estar feliz assim? ─ Antonella tornou a perguntar.
─ Ah, a parmegiana! ─ o mais velho gritou de repente, voltando a correr para a cozinha.
─ Gente, eu definitivamente acho que meu avô é normal. ─ Tina negou com a cabeça, largando a mochila no sofá e sentando ao lado.
Naquele momento a porta se abriu, revelando Silvana com os braços cheios de compras. Ela olhou ao redor, de olhos arregalados, e negou com a cabeça. Encarou os filhos e seus namorados, sorrindo para eles.
─ Seu pai está tendo uma crise de meia-idade.
─ Está parecendo uma crise de idade inteira. ─ garantiu Gabriel.
─ Ele está tendo problema para assimilar que vocês dois estão crescendo. ─ explicou a mulher, colocando as sacolas na mesa ─ Quando ele deu a ideia de jantarmos todos juntos, percebi isso.
─ A ideia foi dele? Jurava que tinha sido sua. ─ Antonella se surpreendeu.
─ Seu pai é uma caixinha de surpresas, minha filha. Nem todas normais. ─ Silvana analisava tudo o que estava espalhado pela sala ─ Ele nunca me preparou uma surpresa de dia dos namorados.
─ Às vezes ele quer se redimir e compensar o tempo perdido. ─ sugeriu Valentina.
─ É possível, querida. Ou ele só está com medo de os filhos sumirem de casa por estarem namorando e está tentando manter vocês por perto. Do jeito um pouco destrambelhado dele. ─ sorriu a mais velha, vendo os mais novos se alegrarem.
─ Nunca achei que o papai faria isso. ─ admitiu Gabriel ─ Sabe, querer a gente tão por perto.
─ Seu pai é turrão, mas ama vocês, filho... Do jeito dele, ele quer vocês por perto. ─ garantiu Silvana, encarando a cozinha ─ Ele está cozinhando?
─ Parmegiana.
─ 20 anos de casados, e ele ainda me surpreende. ─ os olhos de Silvana brilharam ao falar isso ─ Querem ir tomar banho enquanto terminamos as coisas aqui?
─ Claro. Muito nojento estar fedendo e de uniforme no jantar de dia dos namorados. ─ Antonella puxou Valentina, enquanto Eric e Gabriel as seguiam.
─ Meninos no quarto do Gabriel e meninas no quarto da Antonella. ─ a mais velha gritou, ouvindo resmungos desconfortáveis.
─ Eles crescem tão rápido. ─ ouviu o marido suspirar da porta da cozinha e o encarou, caindo na gargalhada ─ Pode dizer que eu estou um arraso!
─ Se não fosse casada, te chamava para sair. ─ a mulher se aproximou, dando um beijo no marido ─ Feliz dia dos namorados, meu velhão.
─ Aí você me magoa. ─ resmungou Heitor, sendo empurrado pela esposa de volta para a cozinha.
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Amor aos 17 - Coletânea de Contos Baseados em "Amor aos 16"
RomanceColetânea de contos baseados no livro "Amor aos 16". Os eventos aqui descritos ocorrem um ano após livro, no Dia dos Namorados de 2018. Os contos serão postados entre 05 e 12 de junho de 2018.