Cap. 2 - Você tem que parar com isso

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(20 de abril de 2017, Quinta-feira)

Os olhos de Franchesca não saíam da mulher, ela é linda, inexplicavelmente perfeita. Seu sorriso, sua inocência, sua honestidade, tudo é percebido apenas pelo olhar da loira. A morena não faz a mínima ideia de quem é ela, e de certa forma não faz questão de saber, não poderia se envolver sério com alguém, não pode amar, já enterrou pessoas importantes demais.

Ela respira fundo e volta a beber na latinha de refrigerante. Miami, tão diferente da França. Quando decidiu que era hora de partir, Franchesca se perguntava, para onde? Mas então quando abriu aquela revista e viu uma notícia sobre a cidade, não sabe porque, mas algo lhe chamava para o local, sem hesitar, arrumou suas malas e pronto, comprou um apartamento no melhor bairro e ali estava, admirando aquela mulher nos últimos três meses.

- Eu preciso parar com isso, estou parecendo uma psicopata assassina.

Repreende-se, sabe que algumas pessoas já notavam, ela senta ali todos os dias, olha a loira e quando ela vai embora Franchesca também se retira.

A morena não gosta de voltar para casa, porque sabe que ninguém a espera, quem importava estão todos mortos. Ela só tem uma pessoa no mundo que em breve também morrerá.

A eterna observa a loira indo embora, mais um dia terminado, entrega todas as flores no parque com um lindo sorriso e depois vai embora, flores de vários tamanhos e aromas, cores, uma para cada pessoa e se estiver em casal ela dá uma para a pessoas entregar ao parceiro, é lindo o gesto, e foi exatamente isso que chamou a atenção da morena inicialmente. Como sempre, Franchesca também vai embora. Mais uma vez caminhando pelas ruas de Miami, direto para o seu luxuoso apartamento.

A morena conseguiu manter seus bens tendo um "laranja" por trás, na verdade uma empresa. A rede de hotéis Ponctuel, espalhada pelo mundo, é comandada pela família Esme, que sabe sobre a eternidade da mulher e tenta ajudá-la, procurando pelo último descendente da cigana, mas sem sucesso.

É depositado todo mês uma grande quantia de dinheiro na conta da morena. Franchesca também consegue manter a identidade usando algumas vezes documentos falsos e em outras a própria filiação, agora ela é Franchesca Lambert, não a original, mas a tataraneta da original.

- Meu Deus! Você vai me matar um dia sabia?

A morena diz ao entrar no apartamento e dar de cara com a mulata sentada em seu sofá. Eloise Esme, agora comandante dos negócios, uma linda negra de trina e oito anos, casada e com dois filhos.

- Você estava no parque?

- Você sabe a resposta.

Franchesca tira o casaco e o coloca no armário, depois se volta para a amiga.

- Você tem que parar com isso, Franchesca, se ela achar que você a está seguindo, pode chamar a polícia.

- Que chame, de que adianta tanto dinheiro? Ao menos assim eu o gasto com uma possível fiança.

- Você continua arrogante. Talvez precise transar.

- Eu transo, Eloise.

- Com um homem.

- Você sabe que não faço mais isso.

Franchesca diz ao se encaminhar para o bar, pega um copo e coloca uísque.

- Você sabe que não tem mais riscos, não é? Estamos no século vinte e um, camisinhas e anticoncepcionais existem para evitar muito mais do que DSTs.

Franchesca apenas a encara e nada fala. Ela não gosta de falar sobre isso. O fato é, a morena teve que enterrar sua menininha, sua princesinha.

Depois do dia trágico não levou a sério as palavras da cigana, mas os anos foram passando e sua aparência não mudava, até que lá estava ela, no ano de 1900 e com a mesma forma física, já sua filha, bom, a mulher estava mais velha que a mãe, o que comprovava que a maldita maldição era verídica, assim uma tomou o lugar da outra. Vinte anos depois, Franchesca estava enterrando sua filha, como se fosse sua mãe.

Descrever o momento era impossível, naquele dia soube do que se tratava a maldição, aquela cigana queria fazê-lo sofrer, agora ela entedia, aquela dor a seguiria pelo resto de sua vida.

- Eu não vou arriscar, Eloise.

- Você não vai engravidar, Franchesca, só se você quiser.

- Eu não quero e não vou, não se trata só de engravidar, eu gosto de mulheres, elas sabem me satisfazer.

É verdade, não se trata apenas de evitar uma gravidez, mas existe um fato que a morena nunca contou a ninguém, ela acreditava estar apaixonada por Henry, teria ficado com ele se o mesmo dissesse sim, então ela se pune, nenhum homem a tocará novamente.

- Ok, vejo que as mulheres te impressionam.

- Sim, Eloise. Elas são fantásticas. – É a mais pura verdade.

- Uma certa loira também.

As duas se encaram e a morena senta ao lado da amiga no sofá.

- Ela é diferente. Não me entenda mal, mas se um dia eu pudesse me apaixonar, seria por alguém como ela, alguém que apenas com o olhar me mostre pureza, que apenas com um toque ler-se minha alma.

- Fran, você pode se apaixonar.

- Eu posso, mas não permitirei que se apaixonem por mim.

- E se a pessoa quiser isso?

- Eu terei que quebrar seu coração. – Ela levanta e volta a beber do líquido. – Essa maldição é só minha, Eloise, apenas minha.

A mulata respira fundo e deita no sofá, no fundo ela entende a amiga, viver eternamente é uma droga quando não se tem alguém para dividir. 

Eternidade (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora