Prólogo

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Antes do silêncio, tudo era colorido.
Antes do silêncio, a vontade de viver era imensa.
Antes do silêncio, eu era preenchido por risadas alegres.
Antes do silêncio, o pincel deslizava harmoniosamente pelas telas.
Antes do silêncio, eu tinha ela.

Depois do silêncio, não conheço mais as cores.
Depois do silêncio, não há nada além de pensamentos mórbidos rondando minha cabeça.
Depois do silêncio, som algum sai da minha boca.
Depois do silêncio, o pincel não faz nada além de manchas e linhas desconexas pelas telas.
Depois do silêncio, fiquei sozinho.
Sozinho com minhas telas.
Sozinho com os gritos, loucos para que eu abrisse a boca e pudessem sair.
Sozinho com os pesadelos, e as lembranças que nunca vão embora.
Sozinho em um mundo preto, cinza e vermelho.
Escuro e gelado, como na noite em que a encontrei.


Os pais de Jeongguk haviam conseguido o melhor quarto no sanatório para ele, o trabalho deles facilitou para que o rapaz tivesse os melhores médicos à sua disposição. 

Ele não sabia como reagir quando chegou naquela construção pela primeira vez. Só tinha cinco anos, e ainda estava aterrorizado. Bem no fundo, tinha esperança de que ela estaria lá dentro esperando por ele. Que os dois passariam pelo que quer que fosse, juntos naquele hospital.

Mas ela não estava.

Ela nunca mais esperou por Jeongguk, e sua única companhia até os vinte anos de idade foram as pinturas que enchiam o seu quarto depois de cada episódio. 

O garoto tinha medo de ficar sozinho. Tinha medo dos largos corredores, dos internos que perambulavam por eles como se estivessem andando no próprio inferno. Tinha medo do seu quarto e dos médicos. Até mesmo das suas próprias obras.
Seus pais diziam que era para seu próprio bem, e que quando saísse, estaria falando de novo.

Mas Jeongguk não queria falar. Sentia que se abrisse a boca, não aguentaria a lembrança daquele maldito dia. Toda a culpa viria junto, e até mesmo o choro que não derramou. Não suportava ouvir sua própria voz, porque não queria se lembrar do único som que ouviu naquela noite. Seus gritos. Gritos em desespero por ajuda, que cortaram o vazio escuro enquanto sentia o corpo pequeno tremer. E principalmente a resposta que recebeu por eles: silêncio.


Seu nome é Jeon Jeongguk, vinte anos de idade e não fala uma palavra desde que encontrou a irmã morta dentro de casa, no último andar, quarto final da casa.

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