Capítulo 01 - Movimento Rápido dos Olhos

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"Para uma única vida, com certeza já morri vezes demais."

Como eu vim parar aqui? Como que eu não possuo memórias nem recordações de como cheguei? Como que eu não estou preocupado com isso? Como eu posso ter percebido e não ter completamente ignorado este fato?

É. Isso não importa. Não aqui.

Após as luzes esmaecerem, escurecerem e finalmente desaparecerem, tudo mergulhou na escuridão, revelando apenas uma fina fresta vertical.

Apesar de escasso, através desta fresta entrava um tímido feixe de luz. Eu me aproximei para ver o que continha o outro lado. Era um quarto iluminado por apenas um abajur ofuscado. Um quarto desconhecido para mim, com mobílias e detalhes femininos que indicavam ser de um quarto de garota.

Foi uma única varredura rápida pelos detalhes do quarto, pois eram apenas detalhes. Pois havia algo impossível de desperceber acontecendo naquele quarto. Um ato selvagem e fervoroso. O ápice do prazer carnal humano e animal. Bem em frente à fresta e a meu olho direito, havia uma cama onde dois seres se entrelaçavam continuadamente em ritmo acelerado e contorcido. O ser que atualmente ocupava a posição inferior eu reconheci de imediato. Era Zwei, mas em uma forma totalmente diferente do que eu já vira e isso me causava um sentimento absolutamente diferente que eu também já sentira. Um sentimento que eu não sei explicar, ou melhor, um sentimento que eu prefiro não tentar explicar.

Esfomeadamente, eu continuei olhando e observando como um horripilante stalker ou um nojento voyeur.

Monotonamente olhando e desejando.

Quando eu comecei a abrir aquela fresta, imediatamente os dois seres cessaram seus movimentos e tornaram seus rostos a mim, fitando-me. Julgando e culpando-me apenas com seus olhos rápidos. Nesse instante, eu reconheci o segundo ser. Era Adin, mais conhecido, para mim mesmo, como eu mesmo.

Dizem que é um fato assombroso saber que você só consegue observar a si mesmo através de uma fotografia ou reflexo e nunca diretamente. Porém, eu estava fazendo isso exatamente agora.

Um outro eu estava em minha frente e isso...

É impossível! Mas claro! Isso é apenas um s...

– Sonho... – Eu despertei sem qualquer sinal de inércia. Ofegante, eu rapidamente acendi a luminária que fica sobre o criado-mudo ao lado esquerdo de minha cama, peguei meu diário e comecei a escrever, com os mais detalhes possíveis, o que eu me lembrava de meu sonho que, excepcionalmente neste, era bastante.

Finalizada minha tarefa pré-matinal, eu peguei o meu celular e vi as horas e faltavam apenas três minutos para ele ativar seu alarme. Minha ilusão de poder voltar a dormir foi rapidamente destruída. Pelo menos, pelo impacto daquele sonho, eu já estava bem desperto.

Eu levantei da cama e fiz agora as minhas verdadeiras tarefas matinais tradicionais antes de me dirigir à escola, que me custava uma viagem tediosa e deplorável de vinte minutos num ônibus público sujo, mal conservado e bem vandalizado. Todos. Os. Malditos. Dias.

Claro, poderia ser pior. Há jovens que percorrem de bicicleta, ou até mesmo a pé, esse trajeto pelas ruas dessa cidade cinzenta e nojenta que cheiram a urina e são infestadas de moradores de rua.

Apesar de esta ser a capital e a cidade mais rica deste país sub-sub-desenvolvido esquecido pelo mundo, viver aqui ainda é uma desgraça.

Eu entrei na minha escola, na minha sala do último ano do último grau do sistema educacional básico, que é basicamente o melhor nível de educação que a maioria das pessoas pode almejar neste país. Acho que posso me considerar privilegiado só por poder ter chegado até aqui.

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