Capítulo 02 - Os Quinze Minutos

4 1 0
                                    

Zwei saiu correndo de lá, eu me levantei e fui andando para a sala, como se nada houvesse acontecido, antes do intervalo acabar, com um sorriso bobo estampado no rosto, enquanto era encarado pelos olhos daqueles outros seres desconhecidos.

Como previsto, assim que Kvin retornou à sala, ele pediu um relato do que acontecera. Eu ligeiramente me lembrei do sonho de hoje e resolvi não contar o fato de Zwei querer estudar a sós. Eu apenas lhe disse que recusei seu pedido de estudar e Kvin ficou puto comigo mais uma vez, supondo que eu tinha estragado sua segunda chance de dar em cima de Zwei.

Eu prefiro que Kvin fique nervoso por eu ser um indivíduo imprestável e apático do que ele tirar conclusões precipitadas e erradas das intenções de Zwei, e ficar nervoso comigo de qualquer maneira.

Além de Kvin, algumas pessoas da sala, pessoas que eu não havia conversado desde o começo deste ano, falaram comigo e um até bateu palmas e me cumprimentou sem motivos. Absolutamente, eu estava aproveitando meus quinze minutos de fama. Durante as duas últimas aulas, eu não me desafiei a olhar uma vez se quer para trás, à minha direita.

Pensando que aquele dia tinha se finalizado, eu saia pelo portão da escola flutuando, mesmerizado e mergulhado nessa felicidade ilusória e temporária, até que eu ouvi meu nome sobre minhas costas. Eu me virei e dei de cara com Trois.

– Ei, oi – eu disse, meio cambaleando após ter meu transe quebrado, além de eu jamais ter conversado diretamente com ela, ou essencialmente com qualquer garota da escola até esses dias.

– Posso falar com você um minutinho?

– Claro. – Eu fui seguindo Trois, que carregava em suas mãos sua bicicleta roxa e verde, que não estava nas suas melhores condições, mas nem nas piores. Nós viramos a esquina. Presumi que ela não desejava que fôssemos vistos.

– Adin, o que aconteceu com você e a Zwei hoje? – Não sou nenhum vidente, mas já previra que este seria o assunto.

– Por que você não pergunta para sua própria amiga? – Pois nitidamente é a opção mais conveniente.

– Eu tentei, mas ela evitou comentar o assunto e esquivou-se de falar comigo o resto do dia. Curiosa pelo que fez Zwei arrogante e destemidamente calada, minha solução foi vir até você.

Ao contrário de Kvin, eu não precisava mentir ou ocultar nada à Trois e lhe contei a história na íntegra.

– Adin, você não acha que foi um pouco cruel? – Ela falou com uma leve tristeza na cara direcionada a mim. – Eu não me lembro de você ser assim...

Você não é a primeira que percebeu isso Trois, dado que existe uma enorme diferença entre o eu do ano passado e o eu presente. As pessoas mudam.

– Foi cruel sim, mas esse foi apenas um meio de me defender. E um ótimo, se me permite dizer. – Tão ótimo, que eu ainda, mentalmente, aplaudia a mim mesmo, pensando "nada mal".

– Defender–se? Do quê?

– De ser usado. De ser abusado. Só que não adianta eu tentar explicar, você não entenderia.

– É... não adianta eu tentar entender se você não me explicar. – Soou com um tom provocativo, mas sou inatingível por tais técnicas de indução de comportamento ou humor. – Mas então, você acha que a Zwei gosta mesmo de você?

...?

Acho que não nos tornamos assim tão íntimos nesses poucos minutos para podermos começar a conversar sobre nossas inclinações amorosas, mas... ei! Quem sou eu para ditar as regras das interações pessoais? Afinal, não há nenhuma normalização explícita e todo mundo diz o que quer, por isso que há toda essa bagunça e os humanos odeiam uns aos outros.

Dream Area Network - A Rede Global de SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora