Capítulo 09 - O Fim e o Começo

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Kvin nos acordou propositalmente. De certa forma isso era bom. Eu adiantei meu despertador e cheguei mais cedo à escola. Mais cedo do que qualquer outro aluno. Desta forma, eu poderia impedir Kvin antes que ele tomasse qualquer ato imaturo, nem que eu precisasse usar a força.

Os alunos foram chegando, enquanto eu ficava encostado logo ao lado do portão, parecendo um porteiro, vigia ou segurança da escola. No momento que vi Kvin, eu desgrudei da parede e atravessei aquela pequena multidão de alunos.

– Kvin, você não vai fazer isso! – Eu nem tinha chegado nele e já havia começado a falar.

Ele deu um sorriso assimétrico. Pôs a mão no bolso, retirou o celular e me mostrou a tela. – Tarde demais, Adin, eu já fiz. – Na tela, um histórico de conversa entre ele e Trois, com a mensagem de ultimato de Kvin. – Por mensagem? Ele terminou com ela por mensagem? O quanto escroto você pretende se rebaixar, Kvin?

E, como uma manifestação do meu sexto sentido ou a abertura do meu terceiro olho, eu instintivamente olhei para trás, justamente para encontrar com os olhos de Trois, que me cruzava pelas costas, carregando sua bicicleta nas mãos. Olhos ausentes de emoção, ou melhor, olhos incertos de sentimentos. Os olhos trocaram de alvo, mirando em Kvin. Neste momento, através de seus olhos, eu pude sentir a agonia e aflição de um alfinete atravessando o coração.

Virando os olhos, virando a cabeça e sem dizer nada, Trois continuou seguindo em frente. Eu, tomando a dor de Trois, como se por radiação, tornei-me a Kvin com uma cruzada de direita.

Fraco que sou, meu soco foi só suficiente para derrubar o celular de sua mão e fazê-lo recuar alguns passos. Ele calmamente agachou, pegou e guardou o celular e partiu para cima de mim em seguida. Brigamos selvagemente, com a vantagem física clara de Kvin, e logo uma comoção se formou em volta. Até que fomos separados por alguns alunos e finalmente enviados à secretária da escola pelos funcionários.

Kvin foi o primeiro a ser ouvido pelos professores. Sem saber o que ele alegou, ele saiu da sala em que estava confidencialmente sendo interrogado e subiu direto para a sala, sem olhar para minha cara. Eu fui chamado para entrar na sala em seguida.

Ao me questionarem dos acontecimentos, eu, que mantinha o título e a vantagem de ser considerado um aluno exemplar e que, por isso, eu poderia me livrar de qualquer punição sem muita dificuldade, resolvi omitir completamente a história, dizendo apenas que fui eu quem começou o ato e, portanto, detentor de toda a culpa. Fiz isso para ser legítimo e justo. Dessa forma, mesmo que algum professor quisesse me amparar, ele seria incapaz de tal. Inevitavelmente isso acabou rendendo-me uma suspensão de um dia para aquele mesmo dia. Ainda assim, eu podia ver que meu histórico escolar influenciou na amenização de minha punição.

A me ver assim, somando as encrencas com Zwei e a minha frequente ausência escolar durante um pequeno período de tempo, percebi estar decaindo a uma imagem de delinquente. Eu não estava nem perto disso evidentemente, e nem me preocupava também.

Com meu dia vago, resolvi dar uma volta pela cidade. O primeiro local que visitei foi o shopping local. É... não tão local, por eu ainda ter que pegar uma condução para chegar lá.

No caminho, já dentro do ônibus, meu celular vibrou em meu bolso. Por dois segundos eu rezei para que não viesse uma segunda vibração, que significaria numa ligação indesejada. Felizmente, ela não veio.

Uma mensagem de um número estranho a meu celular e a mim mesmo chegou, identificada pela Zwei. Desde quando ela tem meu número? Ela continha a seguinte mensagem: "ei, o q aconteceu hj de manha? kd vc.?".

Adin: "Você sabe que Kvin terminou com a Trois? Por isso eu briguei com ele, fisicamente e eu acabei suspenso pelo dia. Vou até dar uma passada no shopping agora com meu tempo livre... E como está Trois? E como você tem meu número?".

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