Capítulo 06 - Desilusão, Lucidez e então, Morte

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Semanas vieram e se foram, e minha sossegada vida típica voltara ao normal. Ainda sentado próximo a Kvin e Nullus, ainda sem conversar com Trois, ainda odiando Zwei e Yon ainda desaparecida, a única exceção era meus sonhos lúcidos. Eles eram cada vez mais frequentes, mais lúcidos, mais "reais" e mais controláveis e maleáveis. Eu estava literalmente refinando a técnica do sonho lúcido. Inicialmente, eu partilhava com Kvin e Nullus meus sonhos e eles tornaram-se uma ferramenta comunicativa para mim, mas somente por um tempo. Conforme eu fui me aprofundando no que podia fazer, menos eu queria declarar o que eu testava em meus sonhos e às vezes isso acabava em sonhos repetidos ou semelhantes e isso não era interessante. Então, depois de certo tempo, o fato de eu poder sonhar lucidamente foi classificado como sem importância.

Neste dia, Kvin e Nullus discutiam sobre garotas. Eu preferi ficar de fora, porém escutando pelas minhas costas.

– Então você desistiu da Zwei de vez? – Começou Nullus.

– Nenhuma novidade aí. Só me tornei mais um na lista de fracassados atrás de Zwei.

– Já não é hora de partir para outra?

– Quem? Não há mais nenhuma garota especial aqui nessa sala. Quero dizer, tem umas garotas interessantes aqui, mas eu não as conheço pessoalmente e nem terei a mesma sorte de ter a oportunidade de me envolver com alguma delas fora da aula, da mesma forma que tive com Zwei. – Apesar de tudo, Kvin ainda mostrava ter uma gratidão por mim. – E o ano e a escola já estão acabando, há mesmo a chance de algo acontecer?

– Bem, tem a Trois...

– Ah? Mas ela nunca mais voltou a falar conosco...

– Não é possível que a Zwei guarde tanto rancor de vocês dois. Já faz quase um mês desde então. Trois deve estar com receio. Afinal, foi ela mesmo que parou de falar conosco, presumidamente ela deve pensar que consideraríamos como uma hipocrisia dela se, de um dia para o outro, ela voltasse a falar com nós normalmente. Claro, depois do que Adin falou, dá para entender ela nunca ter voltado. – Eu apenas virei minha cabeça para eles e dei a expressão "vocês estão falando sério?" e voltei a olhar para frente.

– De qualquer maneira – continuou Kvin – ela não é meu tipo. Quero dizer, se ela se cuidasse mais e se arrumasse melhor... Ela é um pouco masculina. E há outros motivos pelo qual eu não deveria ir atrás dela, certo? – Eu sabia que os dois me observavam devido à pausa na conversa. Desta vez, nem me dei o desgaste físico de girar meu pescoço.

– E você Nullus... – Kvin se engasgou. Não porque engolira sua própria saliva, mas porque estava prestes a fazer um questionamento indelicado. Havia esse rumor, essa suposição, desde sempre, que Nullus gostava de Yon. Isso ficou mais evidente quando Yon desapareceu e Nullus ficou louco correndo atrás de respostas, mas não havia nenhuma prova conclusiva. Tanto que o tempo que eles foram vistos juntos era quase zero. Eu mesmo só tinha os vistos juntos quando ele devolvera seu caderno. Verdade ou não, evitávamos falar sobre Yon já que, dado seu tempo de desaparecimento, era coerente presumir sua morte. – O que acha de Trois? – Kvin trocou sua pergunta rapidamente e com boa destreza, a fim de poupar Nullus de qualquer ressentimento.

– Eu só a vejo como amiga. – Uma pausa. – Mas para todos os efeitos, Trois ainda é uma garota, Kvin.

– Isso é verdade.

Depois da aula, excepcionalmente hoje, fui à papelaria localizada à esquina da escola, comprar um novo caderno para usar como diário, já que o antigo já estava acabando suas folhas.

Eu escolhi rapidamente o caderno, paguei e já saia do estabelecimento quando eu tive uma visão que me forçou a parar e recuar um passo.

Eu fingi ter me esquecido de comprar algo e voltei às prateleiras de produtos, mas com os olhos para o lado de fora da loja.

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