O Vale da Conquista.

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17 de setembro de 1889 – Cidade alta.

Amanheceu, e numa manhã mais gélida do que o normal e mais silenciosa, estavam alguns homens nobres e com cargos importantes, reunidos em frente da entrada do palácio real. Kramer, Balvo, Dorn, e até o recém-chegado Bryan, permaneciam juntos ao imperador. Todos ali esperavam por seus cavalos, para irem em direção ao cemitério real, para o velório e consequentemente o enterro de George Samuel, o sábio conselheiro.

A entrada não parecia mais a mesma, e a fonte de águas cristalinas que ficava no lado direito da entrada do palácio, também se mostrava diferente. Não havia nenhum pássaro cantando ali, o que intensificou a tensão e o silêncio. As folhas das árvores também balançavam bastante, e o vento soprava causando o único barulho presente, porém suave. Algumas folhas verdes caíam sobre o caminho de arenito.

O silêncio era predominante e profundamente agoniante.

Ninguém ousava a falar palavras ao vento. Todos percebiam que Luíz I se encontrava muito abatido e triste pelo ocorrido de horas atrás.

- Estão chegando meu senhor, os nossos cavalos – iniciara Bryan com uma voz suave.

Todos os homens vestiam-se de roupas pretas, e ao invés do manto real, todos se apossaram do manto de seda preta, o manto do luto.

E assim os homens partiram ao cemitério real. Para um último adeus a George.

Após alguns minutos a cavalo, os homens enfim chegaram a grande capela vitoriana no centro da cidade alta. Uma capela muito bonita, branca com desenhos azuis nas paredes, alguns de anjos velando por seus mortos.

O lugar onde os homens estavam presentes ficava no extremo norte da cidade alta, e era conhecido por nome de Vale da Conquista. Vale, porque realmente esse lugar detinha muitas montanhas altas ao redor, umas com fortes tons marrons, e outras verdes, completamente preenchida por gramas. O termo Conquista se deve pelo fato de séculos passados o império português ter descoberto o lugar, e, conquistado como suas propriedades.

Nos tempos antigos, um pouco antes da descoberta dos portugueses, aquela região era povoada por tribos de diversas cores e gêneros, e não havia uma civilização formal ali. Porém, após a posse, com o passar dos anos e com o poder sendo passado de mãos em mãos, as tribos se viram forçadas a recuar, e dessa forma do alto e potentoso vale, se alocaram escondidas na cidade alta, depois, média, e por fim na cidade baixa, até seus paradeiros se tornarem desconhecidos perante os povos. Com o avanço do tempo, a terra do Vale da Conquista se tornou a moradia dos mortos, um lugar acolhedor para o descanso real, o sono eterno dos nobres.

A bela capela, que ficava no centro de uma pequena montanha coberta por uma coloração verde era muito grande e bonita.

Logo em sua entrada era visível dois lances de escadas com 7 degraus, com um espaço de concreto entre os lances, e havia no meio da larga escada, um corrimão de madeira, para ajudar as pessoas enlutadas a se locomoverem, caso fosse necessário.

No espaço de concreto estavam presentes Anna, que trajava um belíssimo vestido preto, totalmente comprido e fechado que demarcava seu corpo da cintura para cima, ela chorava copiosamente nos braços de uma mais séria e calada Emily. Emily, que vestia um vestido azul mar tão profundo, apenas abraçava sua irmã mais nova e apalpava suas costas com a mão direita, pouquíssimas vezes sussurrava algo no ouvido da morena.

Noutro canto do espaço estava Herbert o engenheiro-chefe, que observava a sua medida disfarçadamente às irmãs, em especial Anna, a morena que mais chorava. A aparência do engenheiro era quase deplorável, seu rosto estava abatido, seus olhos vermelhos, cansados e estritamente fundos como se estivesse num grau avançado de anemia. Seus cabelos pretos e longos completamente bagunçados, dando maior força a uma aparência de um sem-teto. Herbert estava tão cansado que seu corpo se encontrava semicurvado, com seus ombros juntos e um pouco inclinado para frente. Chorara tanto horas antes que não tinha mais lágrimas. Ainda vestia a mesma roupa do banquete de horas antes.

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