15 de setembro de 1889 - Depois da meia-noite, palácio real.
Estevão e Herbert ainda estavam no mesmo lugar quando Balvo, o baixinho caricato voltou com a prometida garrafa de vinho. Ele estava diferente constatou Estevão, parecia estar mais risonho e animado do que o normal. Ao chegar mais perto já veio anunciando:
- Olha, olha, vejo que algo interessante aconteceu, realmente não sei qual se deve o motivo, mas tenho um convite que na verdade nem é meu.
- Convite? Como assim - disse praticamente em uníssono os dois primos.
- Na verdade não é meu, e é direcionado a Estevão - disse Balvo - Aquela bela moça loira que está próxima da porta dupla deseja dançar contigo - disse por fim, sorrindo de orelha a orelha.
- Comigo? - dissera Estevão apontando para o próprio peito e fazendo uma fisionomia assustada, porém engraçada aos olhos de Balvo.
- Sim rapaz, contigo mesmo. Porque não vais para lá descobrir o motivo?
Estevão ficou parado um tempo, engoliu em seco e ficou olhando para a moça. Ele não estava sem jeito pelo fato de ir dançar com uma bela dama, que cobiçava os olhos de muitos, mas sim pelo fato de receber um convite completamente inusitado, especificamente da irmã de Donovan, o tal homem receptivo. Respirou fundo, olhou para seu primo que estava a seu lado e percebeu que este o olhava como se quisesse dizer "o que está esperando, vá logo" e assim Estevão disse:
- Tá bem, eu irei. Mas primo, qualquer coisa me chame, sabes onde eu estarei.
- Nós chamaremos - disse Balvo de uma forma ímpeta antes que Herbert pudesse responder algo.
E assim Estevão foi. Andando a passos largos e objetivos na direção da bela dama, que o aguardava de forma exageradamente graciosa e sutil. A linda loira estava com um vestido verde-oliva bem marcante, que destacava muito bem os seus seios em um decote volumoso. Em seu rosto loiro, um belo par de olhos verdes, seus lábios eram incrivelmente rosados e Estevão ficou se perguntando qual fora a última vez que vira uma moça assim, tão bela, e tão graziosa.
Ao chegar perto ele a cumprimentou e ela estendeu a sua mão direita, para que o mais novo e atual "cavalheiro" pudesse dar um beijo, também sutil e doce.
- Fico lisonjeada que tenha aceitado meu convite - dissera Emily, a bela loira.
- Que nada, o prazer é todo meu - disse Estevão, um pouco sem jeito - Porém me permite indagar o que se deve esse convite tão inusitado?
- Inusitado? - Emily se permitiu rir - Bem, não diria inusitado, apenas diria que você me despertou vontade, e então decidi chama-lo. Quero ver o que tens a oferecer - disse Emily ao lado de Estevão indo à direção ao grande e bonito salão central, mais especificamente no lugar reservado para danças.
Como era de se esperar, havia um número considerável de casais que dançavam de acordo com a música ao vivo da orquestra que estava ao fundo. Abrindo caminho, o mais novo casal conseguiu um espaço bem no centro da "pista de dança", e assim a bela loira e o robusto Loiro estavam um de frente para o outro, e assim num impasse Emily disse:
- Não vais me chamar para dançar? - disse-lhe dando um sorriso provocador, realmente provocador.
- Claro, mas não antes de uma coisa - respondeu Estevão.
- Que coisa? - meio que disse Emily virando a cabeça, pensativa.
- Espere - Assim ele saiu da pista de dança, das várias duplas de casais e se dirigiu à orquestra, e chamou o violinista principal num gesto. Disse algumas coisas no ouvido do violinista, e assim retornou para Emily.
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Agonie
Romance*PRIMEIRO LUGAR NA CATEGORIA FICÇÃO HISTÓRICA DO CONCURSO "WATTGOLDTALENTS". *OBRA PARTICIPANTE DA SHORTLIST DO WATTYS 2018. Portugal, 1889. Século XIX, e o mundo ainda assiste a escravidão tomar conta de vários lugares da Europa. Negros, mulheres e...