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"Perrie não costumava se lembrar de muita coisa. Memórias vinham acinzentadas e ruidosas, como pequenos lembretes de que nada para ela seria além de transtorno e caos.

A pequena menina esfregava os olhos, irritados pelos resquícios da fumaça, a toxidade que inundava o ar desde sempre. Havia uma mulher, ela tinha cabelos dourados como os seus, e seus grandes olhos azulados se apagaram num estrondo dentre tantos outros. Mas Perrie era apenas uma menina, ela nunca chegou a entender o que era tudo aquilo, porque desde então, não houve alguém que a explicasse, porque tudo o que se lembrava era de fumaça e escombros. Ou porque o único laço minimamente afetivo, caiu morto, numa memória que ela sequer sabia se era real. Ela não costumava se importar com o motivo pelo qual fora dopada e trancafiada numa cela tão acinzentada quanto todo o resto que conhecia. E por que, depois disso, tudo o que conheceu foi a destruição de si mesma pela mão de outras pessoas."

Perrie se sentou num impulso, amaldiçoando a si mesma por tê-lo feito. Ela ofegava e ao passar a mão na testa constatou que estava extremamente quente e molhada de suor. Ao tencionar os músculos, cada um deles gritou em protesto e ela olhou pra fora, buscando as grades que sempre estavam ali quando as torturas da noite acabavam, mas não as encontrou.

Bom, encontrara grades, mas agora eram de um metal lustroso e não enferrujado, o lugar onde estava era de um branco estonteante, como as roupas que usava, agora limpas de quaisquer manchas de sangue.

Estranhou. Mudanças era uma coisa da qual não gostava, aprendera que nunca, em hipótese alguma, elas podiam significar algo bom.

— Hey! Você acordou. –a voz grave veio de uma mulher ruiva, do lado de fora das grades, que parecia especialmente interessada em entrar, uma vez que seus braços estavam pendurados pra dentro, deixando marcas de amasso no colete branco.

O colete branco, com o mesmo símbolo da Doutora Thirlwall, o que a tornava automaticamente uma inimiga.

Perrie se afastou.

— Tudo bem, Sweet! Eu só vim te dar algo pra comer. –ela retirou do bolso uma esfera avermelhada. Perrie sabia o que era aquilo. Ela se lembrava de coisas práticas, como seu nome, gramática e identificação de objetos. Aquilo era uma maçã. O que parecia estar vazio pra ela, era toda e qualquer memória afetiva, além de poucas coisas que se permitia lembrar eventualmente, mas que nunca admitira fazê-lo naqueles relatórios escritos. — Você está na Ala Branca agora, mas não significa que a comida será melhor que a da sua antiga "moradia" ela disse num tom debochado.

— Doutora Nelson, não lembro de ter deixado você interagir com meu objeto de estudo. –a voz apática que enviou um arrepio ruim pela espinha de Perrie surgiu de algum ponto atrás da ruiva.

— Doutora Thirlwall, não me lembro de precisar de permissão pra algo. –a outra mulher rebateu ironicamente.

— Eu acredito que a senhorita como cientista saiba que cobaias, principalmente depois de um experimento viral como aquele, não devem ser postas sobre qualquer tipo de toque, alimentação ou até mesmo comunicação suspeita. 042 não irá se alimentar d nada que não seja por mim supervisionado. –A doutora, com seus incisivos olhos chocolate, ergueu uma sobrancelha pra outra.

Que não pareceu realmente se importar.

— Se passaram sete dias, Jade. Se fosse pra ela morrer, já teria. –A doutora ruiva iria continuar a debater, mas fora interrompida pelas mãos tremulas que envolveram a fruta. Perrie havia retirado a maçã das luvas de Dra. Nelson, olhando fixamente pra Dra. Thirlwall.

Mordera com força demais, de modo que sua gengiva escorreu pequenos filetes de sangue. Que estava com gosto muito mais forte que o habitual.

As duas mulheres em seus coletes observaram milimetricamente cada uma das ações de Perrie, que notou quão estupefata Thirlwall parecia.

Para ambas, era apenas uma maçã. Para Perrie era uma revolução. Ainda que não entendesse bem o conceito da palavra.

— Eu disse a você. –Nelson ergueu a mandíbula, vitoriosa e Thirlwall comprimiu os lábios, se virando pra ir atrás da ruiva.

Mas algo dizia a Perrie que as coisas não ficariam assim.


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Caraaaaca [, faz muito tempo, parece até que eu abandonei, mas juro que não. asuhasu eu só queria terminar Losing My Mind pra poder dar atenção a essa, porque eu não podia escrever uma distopia em segundo plano. Preciso dar atenção total a esse bebe <3 espero que o publico faça cosplay de mim e também ressurja das cinzas ausahsygasy

The Experiment ☣ [Jerrie] Onde histórias criam vida. Descubra agora