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Perrie sabia que tinha dezoito anos, porque cada vez que iam abrir seu corpo seja lá pra que tipo de experimento doentio, repetiam as mesmas informações.

042 - Perrie Edwards. Dezoito anos. Raça branca (ariana). Naturalidade Europeia.

Era tudo o que sabia sobre si. E tudo o que tinha de tratamento humano. No resto de tempo, era apenas um numero. Que não podia ao menos escolher qualquer coisa que fosse.

Mas agora tinha muito tempo que estava aqui e nada acontecia além de dois enfermeiros que vinham duas vezes ao dia checar temperatura e coletar sangue.

Depois do que foram provavelmente dez anos sendo repetidamente torturada, ela não sabia se considerava essa calmaria um motivo de alívio ou desespero.

Também não vira mais Doutora Nelson ou Thirlwall e isso não era particularmente uma reclamação.

Tencionou os dedos, notando com estranheza que ao passo em que seu corpo ainda era refém de dores horríveis a cada movimento brusco, os cortes recentes e até mesmo cicatrizes antigas vinham sumindo gradativamente.

O corredor foi preenchido pelo tilintar inconfundível das botas de Jade Thirwall, e Perrie sentiu como um mal pressagio se aproximando. Ela digitou algum tipo de senha, no painel da cela, carregava consigo uma prancheta e pequenos tubos de sangue que possuíam coloração diferenciada cada um deles.

Sem qualquer tato, ela ergueu Perrie, a sentando na única cadeira presente no cômodo que possuía. Começou os procedimentos de coleta de sangue, isolando e higienizando o local da perfuração. A agulha era maior do que uma ponta afiada de lápis, mas isso não foi o que assustou Perrie, e sim os olhos castanhos da doutora que não deixaram os seus por um segundo sequer.

Ao contrario da coleta que esperava, Jade encaixou uma ampola dentro da seringa, pressionando o embolo devagar.

A reação foi imediata. Apesar das dores que se faziam presentes a dias, Perrie se sentia bem. Porém assim que sentiu o liquido entrando, foi como se seu corpo entrasse em combustão, seus pulmões inchassem e tudo começasse a rodar.

— Tão estranho. –ela disse pra si. — AB+ era seu tipo sanguíneo, você deveria poder receber qualquer transfusão. –a doutora mordeu o lábio, segurando a cabeça de Perrie quando essa começou a tremer. — Não deveria ter essa reação negativa, como se estivesse recebendo uma transfusão errada... E a reação não deveria ser tão rápida também, 042. –ela sorriu, vitoriosa. — O que de fato, significa que funcionou.

Perrie não conseguia reagir, porque tudo latejava, como se sua cabeça estivesse sendo martelada. Porem, tão rápido quanto veio, passou. E tudo que ela sentia era uma fraqueza absurda. Jade observou seu corpo tremular, ofegante quando a deitou no chão. Continuou a fita-la fixamente ainda por longos minutos.

— Por que aceitou aquela maçã, 042? – Jade pareceu soltar a pergunta que a esteve sufocando desde que chegara, talvez antes. Ela se virou pra sair, pois não esperava resposta. As cobaias não faziam nada além de gritar na maioria do tempo, pra Jade, como fora ensinada, nem ao menos eram criaturas capazes de pensar.

—Porque eu quis. – as únicas três palavras que Perrie conseguiu pronunciar. Mas foi o suficiente pra que Jade se virasse abruptamente, como se algo extraordinário estivesse acabado de acontecer. Ela logo recompôs sua inexpressividade, mas Perrie notou, e ela levaria pra sempre consigo como uma vitória, a expressão de surpresa e incredulidade que a Doutora possuiu naquele curto momento.

Ela tinha autonomia, afinal. 

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eu nem sei se esse tipo de história tem publico aqui. eu ja sei que no spirit não, mas eu adoro me iludir, então vamos lá né msm.

The Experiment ☣ [Jerrie] Onde histórias criam vida. Descubra agora