Capítulo 6 - Charlie

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Ao sentir o abraço de todos, eu realmente me senti acolhido por eles, e que eles realmente eram minha família.
Eles se separam e ficam em seus lugares, Gustav pega um saco de marshmallow.
- Okay, conte sua história agora Charlie. - Diz Gustav distribuindo os marshmallows.
- Tudo bem. - Diz ele

(1 ano atrás)

Acordo na casa de Caroline, menina que eu estava na época, quando recebo a ligação de minha mãe.
- Tatiana Watson onde você está!?
- Estou voltando para casa.
- São 08:00 da manhã.
- A festa acabou tarde.
- Não importa, quero você em casa em 15 minutos.
- Tudo bem, senhora Amanda.

Saio da cama de Carolina e ela acorda perguntando se eu estava indo.
- Sim, minha mãe acabou de ligar. - Digo colocando minhas roupas.
Ela beija minha nuca e saio.
Pego minha bicicleta e vou para casa.

Abrindo a porta de casa.
- ESSA É A ÚLTIMAS VEZ QUE VOCÊ SAI.
- Calma meu mel, você tá brava?
- NÃO IMPORTA, VOCÊ DISSE QUE IRIA VOLTAR NO MÁXIMO 00:00.
- E vai fazer o que?
- Por ora nada, mas vou ficar de olho em você.

Subo as escadas e vejo Violeta, ela era nossa empregada a mais de dois anos e a única da casa que sabia sobre minha transexualidade.

- Parece que sua mãe está brava. - diz ela regando as flores.
- Parece que sim.
- Seu quarto está todo organizado, tente não virar ele de cabeça para baixo. - diz ela dando uma risada de canto.

Chego no quarto e me jogo na cama e meu pai me liga, meu pai e minha mãe eram separados, eu sempre prefiri meu pai do que minha mãe, mas como a guarda era dela, eu não podia fazer nada.

- Bom dia meu raio de luz
- Bom dia, posso saber a do bom humor?
- Finalmente vamos conseguir fazer a nossa viagem dos sonhos, pai e filho
(sim, meu pai sabia sobre minha transexualidade).
- SÉRIO? EU E VOCÊ, NA CALIFÓRNIA?
- Sim querida, a viagem é semana que vem, avise sua mãe.
- puts.
- Aconteceu algo?
- Cheguei "um pouco" tarde de uma festa e ela está com os nervos a flor da pele.
- Eu sempre digo para você tentar ser compressível com horários com sua mãe, sabe que ela é dessas que acham que você vai usar drogas e beber muito.
- Sim, eu sei, agora pouco ela falou um monte.
- Filho, uma pergunta.
- O que pai?
- Ainda está com aquela garota?
- Carolina? sim, estamos bem, estava na casa dela.
- Bom, pelo menos não passou a noite na rua.
- Pai, eu vou ir tomar um banho e terminar de dormir o que minha mãe não deixou.
- Tudo bem, vai lá.
- Obrigado pela viagem, eu te amo.
- De nada querido. tudo por você.
- Até mais.
- Até.

Entro no banheiro, quando me olho no espelho e me ardem os olhos, eu sinto que aquele não é o meu corpo, e que o meu eu verdadeiro estava lá dentro, bem no fundo. Tudo que eu queria era pelo menos ter um cabelo curto, e não penso duas vezes, pego a tesoura e começo a cortar sem olhar muito ao espelho.
Quando termino eu entro em baixo do chuveiro e tomo um banho.
Ao sair do banheiro me olho no espelho e não acredito no que vejo, meu cabelo estava realmente curto, e como meus amigos dizem, "você tá um homão da porra", e eu realmente estava.
Pego o celular e ligo para meu pai por vídeo.
Com a câmera tampada digo:

- Pai, feche os olhos.
- Estão fechados.
-Pode abrir.
(Silêncio por 5 segundos)
- Caraca.
- O quê?
- Você está lindo.
- Obrigado.
- Sua mãe já viu?
- Ainda não, você acha que ela vai me proibir de ir a viagem por conta disso?
- Não, eu falei com ela ontem e não importa o que aconteça, ela não vai arruinar nossa viagem.
- Okay.
- Vou desligar, até
- Até.

Descendo as escadas eu vou a cozinha sem ninguém me ver e pego uma maçã e uma garrafa d'água, quando de repente minha mãe entra pelos fundos, aonde era o jardim dela.

- O que raios você fez no cabelo? - diz ela parada na porta me encarando. - eu não digo mais nada para você.
- Cabelo cresce, Sra. Amanda.
- Espero que cresça logo, não sei aonde eu errei.
- Eu gostaria de saber. - retruco.
- Vá se arrumar, vamos na sua vó. - diz ela subindo para o quarto dela.

Minha vó era a típica vó estereotipada, vazia crochê, cadeira de balanço, essas coisas, mas o que eu mais gostava era da casa dela, uma fazenda. Quando eu era criança meu avô, Trevor, ele construiu um balanço para mim nas férias de verão quando eu estava no ensino fundamental.
Indo para lá, no carro fico olhando para o campo e minha mãe começa a falar.

- Então seu pai finalmente vai levar você a aquela viagem.
- Sim. - Digo tentando cortar a conversa.
- Ele já viu seu cabelo?
- Sim. (droga ela não vai parar?)
- O que ele disse?
- Disse que fiquei bonita (bonito*). - Ao contrário de você que não disse nada.
- Não ficou tão ruim...
- Porque está puxando meu saco agora?
- Não quero que você fique magoada, mas matriculei você em um colégio interno, chama Academia Bullworth.
- PERA, COMO ASSIM?
- Não aguento mais você agindo como rebelde.
- Você não pode fazer isso.
- Eu posso, eu sou sua mãe.
- Você poderia ter falado antes!
- Você vai depois da sua viagem.

O silêncio predomina o carro quando chegamos nos meus avós. Eu realmente gostaria que acontecesse algo de interessante naquela tarde com meus avós, mas é sempre a mesma coisa, eu chego lá "como você tá, saudades" e bla bla bla, depois daquela notícia eu apenas gostaria de poder me despedir de Caroline e Paul, que era meu único amigo, e que me ajudou a descobrir a pessoa que eu sou hoje.
Voltando para casa aviso Paul e Caroline que eles precisam vir a minha casa imediatamente.
Quando são 03:00 da manhã eles jogam uma pedrinha na minha janela, eu desço e digo para eles sentarem em uns tocos de árvore que haviam no fundo de casa.

- Tá, o que tá acontecendo. - diz Paul soltando um suspiro ao sentar.
- Olha eu não queria falar isso para vocês e muito menos queria estar fazendo isso agora, mas depois da minha viagem com meu pai, eu vou para um colégio interno.
- Como assim, quando você decidiu isso? - Diz Caroline se agachando em minha frente.
- Não, você não pode fazer isso.
- Eu não, mas minha mãe pode.
- Desde quando ela decidiu isso? - Diz Paul me olhando com uma cara de estar segurando as lágrimas e segurando minha mão.
- Por favor, nós diga que isso é mais uma das suas brincadeiras estúpidas. Diz Caroline passando a mão em minha nuca.

A luz do quarto da minha mãe acende e olho no fundo dos olhos deles e digo.
"Eu amo vocês, nunca esqueçam suas origens e quem vocês são."

Eles vão e eu entro dentro de casa e subo para meu quarto.
Ao amanhecer eu levanto e vou a cozinha, minha família por parte paterna estavam lá e um clima tenso dominou o ar.
Eles me olham e de repente uma lágrima escorre pelo olho de minha avó.

Tatiana, sente aqui. - foi o que minha mãe disse.

Ao ouvir aquele tom de voz, sabia que algo realmente ruim havia acontecido. Me sento na cadeira e meus avós seguram minha mão.

- Tati seja forte. Diz meu avô.
- Meu Deus, o que está acontecendo? - Digo com um turbilhão de coisas em minha cabeça.
- Seu pai estava dirigindo de madrugada quando um caminhão pegou na lateral do carro dele e ele não acabou resistindo.
Nessa hora o meu chão caiu, a única pessoa da família que correu atrás de meus sonhos comigo, a única pessoa que me apoiou em tudo, que correu atrás de minhas vontades ele havia falecido, e eu não pude fazer nada.

- O velório dele será hoje a tarde. - Diz meu avô.

Eu realmente não quero dar detalhes sobre o velório, porque foi algo realmente triste.
Depois disso meus avós e minha mãe foram a uma cafeteria comer algo.

- Filha, não fique assim. - Diz minha mãe indo com a mão em meu cabelo.
- CALA A BOCA VOCÊ NUNCA DEU A MÍNIMA PARA ELE, PARE DE FAZER ESSE SEU DRAMA PERTO DOS MEUS AVÓS, VOCÊ É UMA HIPÓCRITA.
- Tatiana Watson se sente. - diz ela se levantando.
- Ficaram sabendo vovó e vovô que ela vai me colocar em um colégio interno?
- Por causa de sua rebeldia.
- CALA A BOCA. - Se você me desse o amor que meu pai me deu, talvez seriamos uma família normal. - Dou de costas e saio da cafeteria.

Depois disso se passou uma semana e vim para a Bullworth, e posso dizer que aqui, até que tenho uma vida ideal.

(Tempos atuais)

- Tá vou tentar não me comover diz Gustav. - Agora é minha vez.

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