Eita, Clarinha, minha luz. Como poderia eu te esquecer? Nunca, em todos esses anos, aquele seu rosto de menina escapou da minha mente. Roberto Carlos fala por mim:
"Você foi
O caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez"
Ah, Clarinha. Minha Clarinha. Como pude não te reconhecer? Você está tão... Maravilhosa. Como pode a vida nos colocar agora nessa encruzilhada? Você me sentiu ali tão perto de ti e, por receio, não se arriscou a conversar comigo. Clarinha, que saudades da sua timidez, da sua paz. Você não mudou nada, sinto isso por essa carta. As mudanças apresentadas aos meus olhos não te transformam noutra pessoa, meu bem. Entre cada linha, cada letra da tua carta, te sinto e te reconheço.
Durante quanto tempo da minha palestra você prestou mais atenção em mim do que no que eu dizia? Como alguém que não me ver há tantos anos possa saber tanto de mim? Só sendo você, minha Clara. Lembra que era assim que eu te chamava? De 'minha', minha Clara, minha Clarinha, minha luz. E pode crer que, durante esses anos passados, você era luz de esperança no fim do túnel da minha vida. Sempre, secretamente, acreditei que te reencontraria. E sabe mais?! Sonhava em casar contigo, mesmo que não tenhamos sido nada mais que amigos. Mas você não era qualquer amiga. Era A AMIGA, a melhor, a minha Clara que me completava. Era você quem descruzava meus braços e me abraçava sem pedir permissão, era você que alisava meus cotovelos porque sabia das minhas cócegas e agonias, era você que mexia nos meus cabelos como se eu fosse alguma das suas bonecas. Sempre foi você, Maria Clara! Nunca houve outra.
Mas agora te reencontrei e, que carta foi essa? Você diz que tem saudades, e eu também tenho muita. A minha vida sem ti foi saudade dia-a-dia, mas nunca entendi porque você me deixou te esperando. Você sabia que eu partiria e não foi me ver. Você sabia do nosso trato, sabia do meu amor. Você sabia de cada lágrima que eu derramei por você, de cada discussão que eu tive que enfrentar, de cada vez que sua família bateu a porta na minha cara por não aceitar a nossa amizade tão pura. O que aconteceu, Maria Clara? Porque não foi me ver partir, nem de longe acenar só para eu guardar seu último sorriso na memória?
A vida está tranquila pra mim. Tenho vivido muito bem depois que voltei do exterior. Passei por uns percalços da vida, mas agora estou aqui, vivo, bem. Dei a volta por cima mesmo, sabe? E eu queria muito que você tivesse estado comigo em cada derrota e em cada glória. E na verdade nunca deixou de estar, porque sempre te tive dentro do coração. Meio que eu sempre tive a curiosidade de saber qual seria o nosso fim se você tivesse ido despedir-se de mim. Seria que teríamos continuado nossa amizade? Será que nos veríamos aos finais de semana no shopping? Você já tinha 13 anos! Passei a vida com um vazio no peito, com a esperança desse reencontro.
Que bom esse reencontro, não é?!
Não é não. É tudo na hora errada. Demorei demais, você não me esperou. A minha solidão, de certa forma, foi meu maior motivo para tanta dedicação profissional. E por mera armadilha do destino, foi justamente na minha vida profissional que nos reencontramos. Só que a vida nos pregou uma peça. Você casou cedo enquanto eu não tive pressa. Fiquei muito feliz com sua carta e, com certeza estar com ela em mãos, lendo enquanto bebia uma xícara de leite quente na varanda da minha casa, foi a melhor sensação que senti nos últimos 15 anos.
Sim, eu te atendia e te entendia. Só não percebia que você percebia isso. Sempre fui de te esperar em tudo, pra tudo. E você sempre foi de perceber. Depois de tantos anos, o meu olhar você consegue ler. Sim, é verdade que agora meu olhar está forte. Está assim desde que te perdi. Meus olhos andam vagando à tua procura como se não fizessem parte do meu corpo. Foi você, Maria Clara, que escorreu como pó pelos meus dedos. Sinto dizer que agora é minha hora de escorrer.
Finalizo dizendo-te que eu sou eu mesmo, e sempre serei, esse ser estranho e sozinho. Teu Gui, teu amigo, teu companheiro. Sou tão eu, tão contrário a ti, tão cheio da coragem que te falta, da ousadia que você não tem, que vim em tua porta mesmo depois do que li ao finalizar a leitura da tua carta.
Clara, estive aqui às 20hs só pra deixar essa carta na tua porta com essa caixa de Diamante Negro, mas não posso ficar mais. E você não pode mais me esperar, se não teria esperado há anos. Não teria casado com outro que não fosse eu, que não fosse o teu Gui. Então, minha Clara, vou partindo por aí assim sem rumo. Não me procura mais, viva feliz como sempre viveu, com essa alegria que contagia e emana dos seus poros. Seja livre, como agora serei. Nosso reencontro escrito me devolveu a liberdade emocional.
Seja feliz!
Com eterno amor,
João Guilherme.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Outra Vez (degustação)
RomansaMaria Clara parece ser tão enigmática quanto Jéssica, protagonista no livro Sexta às Oito, onde Clara aparece como uma das personagens principais. Apega-se a cuidar de Jéssica, mas não conta nada do seu passado, e talvez seja por isso que tem empati...