Epílogo.
Minhas mãos tremiam e a minha respiração estava descompassada. Meus olhos observavam todas as pessoas concentradas em mim e isso fazia com que o papel em minhas mãos tremesse ainda mais. Eu havia atingindo o ponto ápice do nervosismo existente.
Louis estava no meio de todas aquelas pessoas e isso me acalmava um pouco — mas não o suficiente para cessar o meu tremor que havia começado há um bom tempo. Todos estavam trajados em roupas pretas e o meu coração fisgou quando eu me lembrei do motivo do uso de tais vestes.
Eu queria vomitar de tão nervoso que estava.
Respirei fundo, tentando tomar fôlego para finalmente começar a ler. Escrever um elogio fúnebre nunca esteve em minha lista de desejos — ou pelo menos não estaria, se eu tivesse uma. De qualquer forma, não fui capaz de negar quando Johannah pediu para que eu criasse um.
Olhei para Louis mais uma vez antes de ler. Seus olhos, tão azuis quanto pedras de safira, estavam marejados e em sua boca havia uma tentativa de sorriso. Meu coração se aqueceu um pouco com a visão e eu finalmente comecei a reproduzir em alto e bom som as palavras que eu havia escrito no papel.
"Todos nós sabemos que o mundo, hoje em dia, está cheio. A metáfora mais ridiculamente realista que podemos usar é: moramos em uma enorme caixa redonda azul com tantas coisas dentro, que parece que estar prestes a explodir. É como se não tivéssemos mais espaço para tantos corpos, oxigênio para tantos pares de pulmões, alimentos para tantas bocas, nem casas para tantos habitantes. É como se não tivéssemos mais nada. Como se nosso estoque estivesse totalmente vazio — e a nossa necessidade cada vez maior.
Inúmeros sorrisos falsos dançam e passeiam pelas ruas da cidade. Debaixo de uma garoa final e um céu escurecido por nuvens cinzas, existe muita tristeza escondida por sorrisos felizes simpáticos, mas não somos capazes de perceber. Nossa percepção esporádica não existe porque as pessoas são muito boas em esconder seus sentimentos, mas sim porque estávamos ocupados demais nos preocupando com nós mesmos.
As pessoas sempre querem parecer fortes, mesmo conscientes de que o ser humano é extremamente parecido com uma taça de vinho: lindo e deslumbrante, porém, frágil e quebradiço.
De onde tais pessoas vêm, nós não sabemos. Para onde elas vão, também não. A única certeza que temos é que um dia elas nasceram e que, em outro, morrerão.
É assim que a vida funciona, afinal — e quão estranho pode ser o fato de que, ironicamente, a morte faz parte da vida?
É um ciclo infinito. Ao mesmo tempo em que inúmeras pessoas morrem, centenas de outros seres humanos nascem. No mesmo momento em que uma nova vida nasce e se torna fonte de esperanças contínuas para alguma família do mundo, alguém, independentemente da idade, perde a vida — em um acidente de carro, ou atingido por algo fatal, por uma doença terminal, ou apenas farto de dias. E elas simplesmente se vão, nos deixando para trás.
Assim, o ciclo é constante: nascemos e morremos. E então tudo de novo.
É perceptível que existem muitas pessoas que não aprenderam — ou talvez sequer foram ensinadas — a lidar com isso. Certamente não é fácil, mas não é impossível. Quando perdemos alguém importante, a dor que sentimos é extremamente parecida com a dor que sentimos quando perdemos alguma parte extremamente necessária do nosso organismo. E é exatamente por esse motivo que, gradativamente, a dor parece estar diminuindo. O ser humano nasceu para estar completo e, por isso, se regenera.
Podemos perceber que as coisas não são vistas com tanta simplicidade pelos olhos alheios. O ser humano é errante o suficiente para prestar condolências por tempo indeterminado. É claro que devemos respeitar a morte de alguém, mas isso não significa que devemos parar de viver porque alguém morreu. Afinal, faz sentido desperdiçar o nosso tempo por alguém que teve o seu próprio esgotado.
O tempo é uma dádiva cuja nós todos temos direito. Alguns são presenteados com um tempo mais longo e outros são escolhidos para ter um menor período. Entretanto, a questão não é quanto tempo temos, mas sim o que fazemos enquanto temos tempo."
Eu não sabia se as pessoas haviam gostado do que eu havia acabado de ler, mas isso não me importava; estava nervoso demais para me preocupar com qualquer coisa. Algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu pude ver, mesmo embaçado, algumas escorrendo pelo rosto de Louis também. Mesmo assim, ao ver que eu o estava observando, sorriu orgulhoso e acenou levemente com a cabeça, em um elogio silencioso.
O que eu faria, se não o tivesse?
Eu sabia que as coisas teriam sido muito diferentes se eu não o tivesse conhecido. E, para falar a verdade, talvez eu tivesse descoberto o motivo de tudo aquilo ter acontecido: Louis era a minha razão.
— Passei boa parte da minha vida me questionando o porquê de coisas ruins acontecerem. — eu disse alto e trêmulo, olhando para todos à minha volta. — Sempre ouvi minha mãe dizer para as pessoas que tudo acontece por algum motivo e eu precisava saber qual era esse motivo. Quando eu comecei a trabalhar no hospital, o questionamento se tornou ainda mais intenso e, ao me aproximar de Daisy, eu já estava quase desistindo de obter uma resposta e me conformando com a hipótese de a vida ser injusta com aqueles que são bons. Entretanto, em uma segunda-feira qualquer, eu conheci o irmão mais velho dela, Louis Tomlinson, que me disse algo que eu nunca mais tirei de minha mente: tudo na vida acontece por algum motivo, mas nem sempre nos convém saber qual é.
Eu vi Louis sorrir. Era reconfortante saber que ele se lembrava.
— Daisy se foi muito jovem, ainda na infância, e é natural que nos perguntemos o porquê de isso ter acontecido. Talvez exista um motivo. Talvez seja porque algo muito pior aconteceria com ela no futuro. Talvez seja porque ela já fez tudo o que precisava fazer aqui. E talvez o motivo apenas não nos convenha. Eu amo Daisy de todo o meu coração, meu sentimento por ela é imensurável e, por ser muito próximo dela, sei que seu desejo não era causar dor e sofrimento para as pessoas ao seu redor. Ela só queria partir, porque não aguentava mais ficar aqui. Daisy era boa demais para o mundo e talvez seja por isso que já não está mais nele.
Parei um pouco, respirando fundo. Eu amava Daisy de todo meu coração e pensar que nunca mais a veria me trazia uma sensação de vazio — ela havia se tornado uma parte de mim, afinal; eu realmente estava incompleto.
— Tudo acontece por uma razão, mas nem sempre nos convém saber qual é. — eu repeti. — Talvez essa razão seja relativa: pode ser que, para cada pessoa, cada acontecimento tenha um significado diferente. Independentemente disso, que nunca esqueçamos: sempre há uma razão.
***
Em homenagem a todos aqueles que lutam ou lutaram contra o câncer — independentemente de terem vencido ou não.
Lembre-se sempre: tudo acontece por alguma razão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SAMSON [hes + lwt/ short-fic].
FanficEstudante de Fotografia na Universidade da Califórnia, Harry Styles era voluntário em um hospital que tratava especialmente crianças com câncer. Neste hospital, haviam muitas crianças, entretanto, apenas uma delas pareceu criar uma verdadeira ligaç...