Cap 3 ★

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[s/n] fechou os olhos e respirou bem fundo quando, finalmente, pôs os pés em terra firme. Brad segurava sua bolsa vermelha, como um cavalheiro, mas precisou de muita insistência para tanto. A garota estava acostumada a cuidar de si mesma e ficava desconfortável em tais situações. Porém, deixou-se levar pela gentileza.

Os primeiros três hotéis que visitaram estavam cheios, pela alta temporada e pela série de conferências internacionais que tomariam espaço na cidade. Além disso, quanto mais próximo do centro, mais cheio. Nesse ritmo, foi obrigada a andar cansativamente por vários quarteirões, levando consigo seu novo amigo californiano, na esperança de achar um quarto vago.

Enquanto caminhavam, Brad contava um pouco de si e [s/n] um pouco sobre ela. De todo jeito, ela estava meio distraída. Não sabia se era o cansaço, a vontade crescente de se estabelecer de uma vez por todas ou aquela sensação estranha de que conhecia São Francisco. Era bem incomum, na verdade, que se sentisse assim. Afinal, ia sempre de uma cidade nova para a outra e, quando repetia, sabia muito bem que já estivera ali. Mas a Califórnia? Não lembrava nem de sequer ter posto os pés lá.

Sua cabeça doía quando tentava puxar da memória.

Tentou sufocar, sem muito sucesso, a tensão dentro de si, escutando com mais atenção ao papo de Brad.

Ele era um advogado recém-formado, trabalhava para uma grande empresa e a poucos períodos do fim da faculdade, mudou-se definitivamente para fora da casa dos pais. A verdade é que, no início, resolveu morar nos dormitórios da universidade e trabalhar em bicos e estágios para conseguir apartamento próprio, mas, bem perto do fim, a grana foi mais do que o suficiente e ele não esperou nem um segundo para ir embora.

Queria morar sozinho e ponto. Ter seu próprio espaço, suas próprias coisas, queria poder ter momentos seus e não precisar sair para beber todos os dias quando havia uma festa, pois seu colega de quarto o obrigava. Gostava da farra, mas, mais do que isso, gostava da própria privacidade.

- De vez em quando eu chamo meus próprios convidados para minha casa. Sem que, simplesmente, entrem no meu quarto e comecem a gritar e me perguntar quem é. Ou que eu passe pelo constrangimento de estar com uma menina e ter que dispensá-la porque o outro dono do quarto chegou bêbado. Essas coisas foram cansando com o tempo. Você morava em dormitório também, não é?

- Sim. - concordei e mordi os lábios - Na época, minha família pagava a minha faculdade e eu era emancipada. Foi um pedido que fiz a eles, então precisava ficar nesses lugares.

- Você sempre foi uma menina desapegada, não é? - Brad perguntou e ela respondeu com um sorriso entristecido. Era difícil, mas era verdade. De todo jeito, não havia um dia que não ligasse ou mandasse um e-mail para seus antigos pais para avisar como estava. De todas as casas em que fora obrigada a ficar, a deles era, definitivamente, a única que conseguira chamar de lar. E, mesmo assim, a hora de ir embora chegou eventualmente.

Queria ficar, sinceramente, mas aos poucos a necessidade de ir embora foi sufocando-a. Junto a uma ansiedade desconhecida, como a sensação de procurar por algo que não se sabe o que é.

- Qual o seu sobrenome mesmo? - perguntou Brad, parando-os no meio do caminho. Subiam uma ruazinha residencial pequena e agradável. A garota puxava com menos dificuldade a mala de rodinhas pelo asfalto liso, mas ainda sentia o peso irritante da bagagem doer-lhe a mão.

- Não que eu tenha dito antes, mas... É [s/sobrenome].

Ele sorriu daquele jeito que o deixava ainda mais bonito, fazendo [s/n] se perguntar como um homem desses poderia viver escondido em um lugar como São Francisco.

- Então, senhorita [s/sobrenome], já que, coincidentemente, chegamos na porta da minha casa, por que a gente não sobe e você descansa um pouco?

A house is not a homeOnde histórias criam vida. Descubra agora