A Margarida

57 5 3
                                    

Ela se viu encharcada
Machucada pela chuva
Apontou sua espada de bronze para o céu
E fez o arco-íris
Que semeou uma margarida
No solo quase infértil

Na praia ela brincou
Castelos ela não montou
Muito menos queria ser sereia
E o mar se alegrou
Quando, pela primeira vez,
Alguém o acariciou

Levou doçura por onde andou
Mas nunca entenderia
O quão perigoso isso seria
Já que as formigas
A rainha logo mandaria

Conheceu, de um novo jeito, Saturno
Que a envolveu em seus anéis viburnos
Disse que nenhum asteróide a faria mal
Se ela possuísse uma Lua
Sem saber que já havia uma em sua órbita
Impedindo o universo de lhe dar um golpe fatal

Em casa ela apagou as luzes
Queria reaprender a enxergar
As lumes há muito mortas
E a viu finalmente
Em Lua cheia
Puxou a maré de dentro dos olhos
Enquanto recebia todos os impactos nas costas

E ela finalmente viu seu universo expandir
Lentamente, seu sonho tomou forma
Pedaço por pedaço

Ela temeu perder o balanço
Respire fundo
Solte o ar
É como uma montanha
Que se sedimenta
Mas as rochas se transformam
E retornam mais belas

Mas uma trilha de doces
Haveria de atrair formigas

Ela chorou, ela esperneiou
Mas tudo desmoronou
A Lua, apenas a protegia do exterior
Saturno, já estava longe
Plutão, nada poderia fazer
Vênus, chorou amargurada
E Marte apenas a consolou

Mas ela não esperava que
Uma margarida seria tão astuta
A ponto de, mesmo ferida
Trazer a chuva
Que sereniza os sentidos
E ensina a vida a reviver

A chuva
Limpou-a inteira
E trouxe seus sonhos de volta
Na enchurrada corporal
Que levou todas as formigas
De volta ao curral

E com sua espada de bronze em mãos
Nada mais chegou perto dela
E nem do seu coração.

IdílicoOnde histórias criam vida. Descubra agora