6. Boatos

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Folhas batiam em seu braço conforme ele andava procurando um destino, não conseguia enxergar nada com nitidez, somente vultos que poderiam ser de animais. Um clarão surge no céu. ​Talvez seja um sinal. Ele desvencilha-se de uns galhos e segue na direção do disparo. Assim que sai da mata, ele avista Leroy sentado na fachada da casa, admirando o céu. Agora tudo parecia familiar, ele sabia exatamente onde estava. Ver Leroy ali lhe fazia sentir arrepios, naquele mesmo lugar, naquela mesma casa, aquele rosto quadrado, aqueles mesmos olhos pequenos e verdes; fitava o céu como a lua o mar. Octavio tirou algumas folhas do cabelo, e ainda meio confuso, caminhou na direção da casa.

— Fantástico! Não acha? — diz Leroy, assim que Octávio chega e senta-se ao seu lado.

— Sim, muito lindo — diz ele, notando cada expressão de felicidade estampada no rosto de Leroy.

— Mais lindo está agora com você aqui. — O olhar dele ergueu-se de encontro ao de Octávio, e assim permaneceu.

Uma vontade estranha invade o peito de Octávio, no mesmo momento em que ele olha fundo nos olhos de Leroy se aproximando mais dele. Leroy solta um pequeno sorriso provocador, enquanto Octávio posiciona sua mão por entre seus cabelos loiros. Na medida em que a distância entre os seus rostos foi diminuindo, mais rápido o coração de Octávio batia, assim que os seus lábios se tocaram, Octávio abre os olhos e o teto branco do seu quarto é tudo o que ele vê.

Uma mistura de alívio e decepção invade sua mente, ele esfrega os olhos com os dedos, com a imagem do rosto de Leroy ainda forte em sua mente. Ele olha para o despertador e percebe que vai se atrasar pra aula — o que não era uma novidade — Ele se levanta bruscamente da cama, logo percebe um volume estranho no seu calção, ele corre para o banheiro, liga o chuveiro e toma um banho bem gelado. Após se arrumar, ele desce as escadas e ouve o irmão dizer tchau ao seu pai, em seguida, o som da batida da porta ao se fechar.

— Bom dia pai — diz ele, assim que chega á cozinha, onde o pai tomava café da manhã.

— Bom dia! Você não acha que está atrasado para aula?

— Estou sim, vou só tomar um pouco de café e já vou indo.

— Eu também vou indo, hoje o prefeito tem um discurso. Não pode ficar sem o seu guarda pessoal né!

— Vai lá, pai. Bom trabalho.

— Tchau, te amo filho. — diz ele pegando a chave do carro, se apressando para fora de casa.

A hora do dia que ele mais via o pai era pela manhã, Ele sempre tentou ser próximo do pai, todavia, eles nunca pareciam ter muito tempo um para o outro. Ele jamais se abriu a respeito dos abusos do irmão mais velho. Para ele fazer isso só iria piorar a situação, e, ele não queria ser o motivo da destruição da própria família ou do que restou dela, desde a morte da sua mãe.

Ele, como Leroy disse, Teria que ser forte, esse era o caminho não havia outro.

Assim que ele terminou o café, já foi pegando sua mochila, trancando a porta e correndo até a parada de ônibus. No caminho, ele tentava lembrar-se do sonho. Dizem que os sonhos são uma mistura de sentimentos de desejo e realidade. Como tudo pareceu ser tão real, aquela conversa poderia ter sido realmente daquele jeito como a mente dele queria, no entanto, mais do que ninguém, ele sabia que havia sido totalmente diferente.

A faculdade ficava no centro da cidade, não demoraria muito e já estaria lá. Havia uns boatos rolando pelos corredores, um escândalo a respeito de um aluno expulso da instituição, coisas que a direção não pôde mais negar depois que tudo veio a público.

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