Capítulo 1 - Ao Cair da Noite

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O crepúsculo anunciava mais uma noite sinistra. A lua, timidamente, despontava no céu escuro ocultada em parte por pequenos fachos de nuvens cinzentas. As primeiras estrelas brilhavam denunciando o cair da noite.

Era uma sexta-feira 13 de outono, e coisas bizarras costumavam acontecer nas desertas ruas de Campos Negros. Assassinatos, violência e assombrações faziam parte da rotina desta data fatídica, principalmente, após a meia-noite. Coisas que nem mesmo os mais valentes ousavam enfrentar.

Ezequiel não era um homem valente, mas sim obstinado em sua obsessão. Vestindo um trench coat cinza escuro e uma boina de feltro, acendeu um cigarro na esquina do parque central. Tragou-o lentamente, como se preparasse para algo que lhe exigia calma e precisão. A fumaça desceu pela garganta enchendo os pulmões, saindo em seguida pela boca e narinas. Observou atentamente a rua que se encontrava deserta, a não ser pelos ratos e seus exímios caçadores noturnos: os gatos.

Em toda a sua vida, o homem, já na casa dos trinta anos, nutria um fascínio sádico por aquelas habilidosas criaturas da noite. Um misto ambíguo de admiração e ódio, paixão e vingança faziam parte do caldeirão de sentimentos que brotavam em seu íntimo. Cada pequeno mamífero de bigodes era um novo desafio para a sua criatividade macabra.

Mas nem sempre fora assim. Tudo começou quando o gato negro de sua madrasta não aceitou suas investidas adolescentes e desfigurou seu rosto num ataque de fúria, rasgando-lhe a carne e vazando o seu olho com a unha afiada. Todo o terror que vivera naquela situação e seus próprios gritos histéricos de dor ainda ressoavam em seus ouvidos. Sua malvadeza juvenil se transformara no pior pesadelo da sua vida, daqueles que nunca mais se pode acordar. Dali em diante, ficara com a face deformada, feito um daqueles mortos vivos de filmes de terror. Toda vez que olhava para a própria imagem no espelho, sentia-se uma aberração. Aquilo corroía-lhe o orgulho e a alma.

Mas o que despertou sua obsessão por perseguir felinos, em toda sexta-feira 13, foi o decorrente sacrifício do animal que o ferira no passado. Seu pai o matou com as próprias mãos, na sua frente, num misto de horror e sensação de vingança mal resolvida. Aquela agonia e o grunhido de morte do gato preto mantinham-se na sua memória como uma tatuagem permanente.

Aquela noite específica seria emblemática. Era o décimo terceiro ano depois que Ezequiel teve seu olho perfurado e o maldito gato sacrificado. Seria como um aniversário especial, e ele planejara caçar o grande gato alfa que vivia no centro do parque. As pessoas costumavam abandonar filhotes na grande área verde, no centro da metrópole, imaginando que talvez lá eles se criassem sozinhos e buscassem alimento nos restos de lixo e nas ratazanas que emergiam dos bueiros de esgoto. O parque central tornou-se num verdadeiro território de gatos, e o grande macho alfa era o seu alvo master. Seria como um prêmio de caça, o último felino que estancaria seu desejo por vingança.

O cigarro queimou até o filtro e Ezequiel deixou que caísse no chão, pisando com seu sapato de couro desbotado em cima. Caminhou até os antigos portões enferrujados do parque, que se mantinham abertos. Uma brisa gelada e sinistra soprou de dentro da área verde, seguida do piado sinistro de uma coruja. Em cima de uma velha árvore, a ave de rapina o fitava com olhos arregalados, como se o vigiasse.

Sem medo e sem pudor, Ezequiel entrou pela trilha do parque central, em busca do último gato para saciar o seu desejo macabro de vingança.

594 palavras

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Caros leitores! Este é o início de um conto de suspense que envolve o tema Sexta-Feira 13. Espero que curtam a história e, se gostaram, comentem e votem na estrelinha para valorizar a obra na plataforma! ;-)

O Último GatoWhere stories live. Discover now