Capítulo 2 - Parque Central

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 A trilha de entrada do parque central era pouco iluminada, dando um toque sinistro ao lugar. O passeio estendia-se em curvas sinuosas de chão batido, com árvores altas e arbustos de ambos os lados. A coruja gritou estridente mais uma vez, e voou logo à sua frente. Era como se o pássaro noturno lhe indicasse o caminho.

Os postes em estilo barroco estavam, em sua maioria, com as lâmpadas queimadas. Era um ambiente intimidador para qualquer um que ousasse atravessar a pequena floresta urbana. A luz fraca tremeluzia nos troncos e folhagens, formando sombras assustadoras. Ezequiel não era um homem supersticioso, mas até ele sentia-se receoso com tal aventura.

Avançando algumas dezenas de metros, chegou a uma bifurcação. Havia um antigo orelhão e uma lixeira com a forma de um palhaço, a abertura na boca. Era triste, de certa forma, ver uma imagem que deveria inspirar alegria tendo o papel de devorar o lixo dos visitantes. Ezequiel não gostava de palhaços.

Mais à frente, um som chamou-lhe a atenção. Ouviu um barulho vindo de baixo de um arbusto, perto de uma árvore tortuosa, como se algum animal se mexesse entre as folhas. Decidiu averiguar.

Ezequiel abriu seu trench coat e retirou uma faca que estava estrategicamente guardada em um bolso interno. O cabo da lâmina era ricamente adornado em chifre de boi, e o fio brilhava, refletindo a perfeição de sua afiação. Poderia decepar a cabeça do macho alfa com uma única estocada. Ele teria que ser silencioso e rápido para que o maldito felino não escapasse.

Aproximando-se do arbusto, fazendo o menor ruído, o homem levantou as folhas com uma das mãos, enquanto preparava a faca com a outra para um certeiro golpe mortal. Viu pequenos olhos aflitos e uma boca miúda entreaberta com dois pequenos dentes afiados. Para sua surpresa, não era um gato, mas um gambá fêmea cheio de filhotes agarrados em suas costas.

O animal correu desengonçado para o outro lado da trilha, na ânsia de sobreviver e salvar a sua cria.

- Não foi dessa vez! - disse para si mesmo, sorrindo com os dentes amarelos da nicotina. - Ainda vou te achar nessa noite, nem que seja a última coisa que eu faça!

Aquela pequena possibilidade de encontrar o macho alfa elevou um pouco a adrenalina em seu sangue. Sentindo uma certa agitação e calor, tirou a boina de feltro da cabeça. Os cabelos castanhos e curtos estavam começando a ficar suados. Teve vontade de dar mais uma tragada.

Sentou-se num banco de cimento, que havia na lateral do passeio, um tanto descascado pelo tempo. Pegou mais um cigarro de filtro vermelho e acendeu a ponta com a chama de um Zippo. Respirou fundo enquanto a fumaça lhe preenchia o ser, amortecendo aos poucos a ligeira ansiedade que sentia.

"Não posso vacilar..." pensou. "Devo ser frio e calculista."

Enquanto relaxava por um momento, avistou a sombra de um vulto correndo por entre as árvores logo à sua frente. Seu estado de alerta elevou-se novamente, e ficou imóvel, atento aos sons da área verde e deserta.

O vento que soprava gelado farfalhava as folhas em uma dança sombria naquela semiescuridão. De olhos arregalados, segurou firme a faca em posição de defesa. Levantou-se alerta a qualquer sinal de som ou movimento. Antes, na posição de caçador, agora, parecia estar ele mesmo sob iminente ameaça.

Pensou ter ouvido passos, como um quebrar de gravetos na serrapilheira. O barulho vinha por trás. Ficou confuso, virando-se de um lado para o outro com a faca na mão. Seu coração acelerou e a respiração ficou ofegante. Era possível ver o vapor que saía do meio dos lábios e não era do cigarro.

Percebeu o vulto a se mover mais uma vez, um pouco à frente e, quando tentou ver com mais precisão, sentiu uma coronhada por trás da cabeça. 

639 palavras

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Quem atacou Ezequiel na calada da noite?

Como ele vai escapar desta emboscada?

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O Último GatoWhere stories live. Discover now