O corpo de Ezequiel caiu de mau jeito, fazendo todo o peso do corpo projetar-se sobre a perna direita. O osso da canela se partiu, causando uma dor insuportável, que espalhou-se pelo fêmur até os ossos da bacia. Sua agonia era tanta que não conseguia balbuciar nada além de gemidos de dor e frustração.
O grande gato preto, que com maestria caiu da árvore sobre as quatro patas, caminhou lentamente até sentar-se de frente para o rosto do seu fracassado predador. Com desdém, começou a lamber a pata, num ato aparente de vitória e tranquilidade. O animal, que deveria ser o último sacrifício de vingança, tornara-se o arauto do seu fracasso. Ele jamais conseguiria viver com aquilo. Não admitia perder a briga para um mísero gato.
Ezequiel ficou com muita raiva. Tanta raiva que, num ato reflexo, ignorou a dor que sentia e agarrou o pescoço do gato preto com as duas mãos, no intuito de sufocá-lo. Os olhos esbugalhados do felino o fitaram de maneira tão profunda que pareceu atingi-lo por dentro. Mas o homem não desistiria agora. Seria ele ou o gato.
Juntando todas as suas forças, o macho alfa gritou um miado tão alto, diante do ataque repentino, que o som ecoou por todo o parque, como um chamado para a guerra. O grito estridente do bicho retumbou pelos troncos das árvores, espalhando-se por todas as direções e além.
Em instantes, das sombras, surgiram centenas de outros gatos de todos os tamanhos e cores, machos e fêmeas, vira-latas e de raça. Era como se todos os felinos da vizinhança tivessem ouvido e atendido ao chamado do alfa, como uma convocação para a emboscada final.
Os gatos atacaram o corpo de Ezequiel por todos os lados, como um enxame de abelhas mortais, com unhas e dentes afiados. Feito uma nuvem, eles cobriram o caçador assassino como uma manta amorfa e mortal. O homem gritou por pouco tempo, pois teve o som de sua garganta abafado pela montanha de pelos e caudas que se formou sobre si mesmo.
Tão rápido quanto apareceu, a nuvem de gatos se dispersou pelas ruelas e árvores do parque central, como se nunca tivesse existido. O corpo do caçador de gatos jazia ali, no chão do gramado, irreconhecível pelos ferimentos em carne viva. Ele nunca, jamais imaginara que, de predador, iria se tornar em presa indefensável e seria abatido como tal. Encontrou seu destino sendo morto de modo horrível por aqueles a quem, por 13 anos, também infligira dor e morte cruel.
O grande gato preto de olhos amarelos o fitou de longe, por entre as árvores do bosque urbano. Ele parecia sorrir, exibindo um relance de seus dentes afiados à mostra. Virando-se de costas e seguindo para a escuridão, pode, finalmente, voltar para o lugar de onde veio. Ele havia concluído com sucesso a sua vingança, redimindo a todos os gatos sacrificados que vieram antes dele. Sua jornada de redenção estava completa.
489 palavras
A história completa, com títulos e subtítulos, tem 3082 palavras.
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E assim, Ezequiel - o matador de gatos - encontrou seu destino.
Espero que tenham gostado deste suspense de sexta-feira 13! Se curtiram, votem e comentem, pois seu feedbak é importante para o aprimoramento do trabalho literário.
Até a próxima história! Obrigada. ;-)
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O Último Gato
Gizem / GerilimMenção Honrosa no concurso Suspense LP Ezequiel, um homem desfigurado na juventude pelo ataque de um gato preto, sacia sua fúria e obsessão sacrificando felinos em toda noite de sexta-feira 13. No décimo terceiro aniversário de sua vingança mal res...