Capítulo 3 - O Lago de Vidro

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 A pancada foi certeira, bem no lobo occiptal. Ezequiel caiu de bruços no chão, a tempo de colocar as mãos e evitar a fratura do seu nariz. Muito tonto e desnorteado, fingiu que estava inconsciente. Ouviu a voz de dois homens balbuciarem:

- Será que ele apagou de vez?

- Cala a boca e vê se ele tem dinheiro nos bolsos do casaco!

- Mas, e se ele acordar?

- Não vai acordar, seu idiota! Nem pra roubar você presta! Sabia que não devia ter te trazido comigo...

Sentiu mãos frias pegarem a sua faca e vasculharem os bolsos do trench coat. Os caras eram tão amadores que só olharam nos bolsos do lado de fora.

- Olha que massa esse relógio! - falou o homem que o revistava, a respeito do seu relógio de bolso preso em uma corrente. - Vamos conseguir um bagulho bom com esse daqui!

- Como um cara anda com um relógio desses e sem dinheiro no bolso? - reclamou o outro. - Pelo menos alguns cigarros ele vai nos dar!

E começaram a rir. Ezequiel, lentamente, recobrava a sua plena consciência, e começou a sentir a raiva ferver no seu sangue.

"Quem esses dois vagabundos pensam que são?" Pensou em silêncio. Ele era frio e calculista, iria esperar o momento certo para agir.

- O que vamos fazer com ele, chefe?

- Vamos jogá-lo no Lago de Vidro. Até amanhã, pelo menos, ninguém vai sentir falta dele! - respondeu a voz, dando uma risada arrastada e sinistra.

Mãos frias o pegaram novamente, dessa vez pelas pernas. Arrastaram-no pra fora do passeio de terra, por cima do gramado. Foram até a beira do Lago de Vidro, a uma centena de metros dali. O lago tinha este nome porque, há muitos anos, suas águas eram transparentes feito vidro. Com a sujeira e as fezes das carpas que foram introduzidas posteriormente, o corpo d'água não passava de um grande açude lamacento. Nem a equipe de resgate encontraria um cadáver no meio de tanta sujeira e matéria orgânica.

Quando os homens o soltaram na beira do lago, pararam por um momento para acender um dos cigarros furtados. Aquela era a deixa que Ezequiel precisava. Num salto, ele puxou duas adagas que estavam por dentro do casaco e atirou uma delas nas costas do primeiro homem, perfurando o seu pulmão e fazendo-o cair de barriga dentro do lago. O segundo, tão apavorado que derrubou o cigarro da boca, foi friamente degolado com o outro punhal, tão afiado quanto o primeiro. Caiu de joelhos e de cara no chão.

- Amadores! - bufou Ezequiel, limpando o casaco com as mãos e recolhendo de volta os seus pertences. - Não aprenderam que é perigoso andar por aí à noite, em Campos Negros!

Viu que tinha sobrado apenas um cigarro dentro da carteira, e acendeu-o, tragando a fumaça num longo suspiro. Pegou o corpo do segundo homem e o atirou no lago em uma parte mais profunda, ao lado do pier. Até que o corpo boiasse em decomposição, ninguém perceberia o ocorrido naquela noite.

Prendeu a corrente do relógio na passadeira do cinto da calça e olhou as horas: era meia-noite de sexta para sábado. Dizem os entendidos sobre as artes das trevas que é neste momento que os portões do inferno se abrem.

"Coisa de gente supersticiosa!" Pensou consigo mesmo. "No fim das contas, todo mundo vai pro mesmo buraco: pra baixo da terra!" Ficou imaginando a cena, amargurado.

Até que um barulho chamou-lhe a atenção para dentro do pequeno bosque do parque. Um som que lhe despertou os sentidos, o humor e também a obsessão. Era um miado. Mas não qualquer miado comum. Era um miado grosso, robusto, de um grande gato.

Ezequiel viu sair do meio dos arbustos, em direção ao gramado, a criatura negra como o céu noturno. Era maior que um gambá e tinha os olhos amarelos, com as pupilas dilatadas. Sua cabeça grande carregava bigodes compridos, e a cauda erguia-se ereta. Era o macho alfa. 


669 palavras

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Olá, leitores do Wattpad! Neste capítulo, conhecemos as habilidades de Ezequiel e seu tão esperado encontro com o gato alfa.

O que vai acontecer?

Será que ele vai conseguir cumprir seu intuito macabro e cruel?

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O Último GatoWhere stories live. Discover now