Capítulo 4 - Perseguição

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A adrenalina estava no auge. O coração lhe batia nos ouvidos, e sentiu o sangue ferver pelas veias do pescoço. Era o encontro derradeiro entre a caça e o caçador. Não podia falhar. O gato preto parecia encarnar seu desafeto do passado, aquele horrível felino que desfigurara seu rosto, transformando-o no monstro que era agora. Aquele ser maldito iria pagar o preço de uma vez por todas.

Lentamente, limpou o sangue de uma das adagas com um lenço de bolso. Não queria matá-lo de primeira. Ele queria aleijá-lo aos poucos, fazendo-o sofrer, como há muitos anos Ezequiel sofrera como uma aberração em vida.

Mirou a adaga em direção ao grande felino e a lançou com força e precisão. O gato percebeu seu intuito e correu habilmente de volta para o bosque, errando a queda da lâmina afiada no meio do gramado.

- Maldito! - vociferou.

Caminhou até o cabo do punhal e arrancou-o com raiva do chão, correndo agitado em direção ao bosque. Ele não o deixaria escapar da próxima vez.

Passando pelas árvores e arbustos, voltou para a trilha de terra semi-iluminada. Olhou para os dois lados, e viu que o macho alfa estava sentado em frente a um dos bancos de concreto.

Ezequiel parou e ficou encarando o seu oponente, enquanto escolhia a forma de atacá-lo com maior sucesso. Pegou a faca com cabo de osso, e continuou em direção ao animal, a passos firmes, na ânsia de derrubar o seu alvo. Aproximando-se cada vez mais, parou bem à sua frente, ofegante, com a lâmina preparada para o bote.

Num movimento rápido, investiu uma estocada lateral no intuito de degolar o gato. Porém, este foi mais ligeiro. Ele pulou sobre o banco e, logo em seguida, saltou sobre o seu rosto, arranhando-lhe a face desfigurada. Ao aterrissar com as quatro patas no chão, o macho alfa emitiu um chiado. Havia deixado dois cortes longos sobre as bochechas de seu caçador.

Enquanto o grande gato preto fugia pela trilha, Ezequiel sentiu seu rosto arder. Colocou a mão sobre o ferimento e viu sangue na ponta dos dedos.

- Gato dos infernos! Eu vou acabar com você! - o homem grunhiu possuído pela ira.

Estava acostumado a capturar gatos como moscas, mas este, em especial, dava mais trabalho do que o esperado. Correu pelas curvas da trilha seguindo sua caça, que estava sempre à frente e com a cauda erguida, como se debochasse de suas habilidades de predador.

O animal subiu num jacarandá, e Ezequiel sorriu pela aparente estupidez do bicho. Em sua mente, já sentia o sangue quente do animal correndo em suas mãos.

- Agora eu vou te pegar! Você não tem mais pra onde correr, bichano tolo!

Segurou a lâmina afiada da faca entre os dentes, e começou a subir na árvore em busca do seu prêmio. O gato preto estava encurralado na ponta de um galho grosso, a alguns metros do solo. O seu perseguidor chegou perto e sentou-se no tronco, pegando a faca com uma das mãos. Não tinha mais como o gato escapar.

- Vem aqui, bichano! - falou com um sorriso macabro. - Não tem escapatória!

O animal emitiu um miado grave, baixando as orelhas, seguido de um chiado agressivo. Os bigodes estavam projetados para a frente, e as pupilas dilatadas pareciam negras como duas jabuticabas. À luz do poste, brilhavam douradas como lanternas.

Sem muita paciência, Ezequiel deu uma estocada rápida em direção ao grande felino, que se defendeu ferozmente arranhando sua mão com um corte profundo. Mal deu tempo de o homem o amaldiçoar, e o robusto gato preto encolheu seu corpo, projetando-se num bote agressivo em direção ao rosto surpreso de seu caçador.

O macho alfa agarrou-lhe a cabeça com força descomunal, cravando-lhe as unhas afiadas das quatro patas na carne de seu algoz. Com o próprio abdome, cobriu a boca e as narinas do homem, que tentou arrancar o corpo peludo da sua face, mas foi em vão.

Debatendo-se desesperado, Ezequiel perdeu o equilíbrio e caiu da árvore.

669 palavras

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Quem é a caça e quem é o caçador?

Acompanhe o próximo capítulo e descubra o final deste suspense!

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O Último GatoWhere stories live. Discover now