O Despertar da Sombra

A luz da escuridão III

III

O homem levantou-se, irado. Uma força opressiva atingiu Ronn, travando-o no lugar. Ele sentiu medo apoderando-se dele, enquanto o homem andava em sua direção, pedras e objetos se ergueram do chão.

MOVA-SE, gritava para o seu corpo, a desordem havia chegado em seu auge naquele local e quando sua garganta se fechou pelo medo, não permitindo a Ronn sequer gritar, sua mente foi invadida por todos os pensamentos de todas as pessoas da cidade, arregalou os olhos em choque, não conseguiu distinguir o próprio pensamento em meio a todos os outros.

Meramente sentiu que caia de joelhos, a boca permanecia aberta, o olhar vidrado nos olhos do homem, o negro ultrapassando suas pupilas, Ronn sentiu dor física com cada palavra, cada rosto, ele estava diante dos pensamentos de todas aquelas pessoas corrompidas pela desordem de uma única vez. Saliva escorreu pelo seu queixo, sangue deslizava de seus olhos e nariz, sentia como se sua cabeça fosse explodir.

Havia um demônio na lareira cavalos eu preciso de cavalos ela não me ama mais merece morrer não posso andar se o chão está no teto não é minha filha não deve doer muito se o corte for fundo eles querem matar você mate-os primeiro tem moedas na sopa saia de perto de mim não consigo alcançar os insetos de baixo da minha pele você sempre foi um fracassado todos riem de você pelas suas costas um batata dois pedra três patos sangue e flores...

Ronn sentira essas pessoas morrendo como se ele próprio estivesse morrendo, era demais, vozes demais, imagens demais, sensações demais. Todas as vozes continuaram uma e outra vez por horas, até que uma familiar chamou a atenção de Ronn no meio de todas as outras. "ele foi meu único amigo e eu o trai, mereço sangrar em meu estúpido vestido vermelho, até pagar por tê-lo traído".

Ronn franziu o cenho e desesperadamente tentou focar naquela voz acima de todas as outras. "sinto tanto, não queria que tivessem feito o que lhe fizeram, eu senti muita dor nas núpcias, ele não era bom, você havia me alertado, o único que havia me alertado". Em choque Ronn percebeu que os pensamentos pertenciam à Katarine.

"Fiquei com tanta raiva de você pelo casamento que disse a Rurik que você deveria ser encerrado na montanha dos exilados como o bastardo que é, peço desculpas por ter sido uma tola, irei fugir e salva-lo, nem que para isso perca minha vida ou seja exilada, por favor, apenas sobreviva!"

Ronn sentiu o horror que ela sentiu ao ver Rurik em cima dela com as mãos em seu pescoço, sufocando-a, a última coisa que ela pensou antes que ouvisse seu próprio pescoço estralando, foi que não poderia morrer sem antes salva-lo, o pensamento marcou a alma de Ronn.

Como semideus, Rurik tirou a vida de Katarine antes de cumprir com seu destino. Após a injustiça de Katarine, todas as outras imagens e pensamentos foram se convertendo em sua mente, injustiça após injustiça ele foi testemunhando, a cada uma delas, um só culpado. Rurik.

Sua boca finalmente se fechou e cerrou seus dentes, Ronn exigiu julgamento e imediatamente sentiu um peso quente em sua mão direita, imediatamente foi liberto da prisão mental de Rurik. Olhou aos céus em um silêncio bem vindo, já era fim de tarde, passara horas, ou talvez dias preso. O homem estava em um trono feito de pedra e o olhou em um misto de surpresa, confusão e por fim, medo.

Ronn olhou para sua mão, nela descansava um enorme machado duplo dourado, a arma possuía uma luz própria e vibrava na sua mão, era uma coisa viva, entalhes em toda a lâmina e cabo mudavam periodicamente, dizendo palavras de ordem ou mostrando os padrões mais belos que alguma vez vira na vida.

Apesar de ser quase do tamanho de Ronn, não pesava mais que um galho nas mãos. Ergueu-se e o experimentou, girando pelo ar, tinha certa habilidade com machados, uma vez que ele próprio era quem cortava a lenha para a taberna, mas a arma ajustava-se a seus movimentos como se fosse uma continuidade de seus membros, poder estalava por ela, que zunia a cada cortada, deixando um rastro dourado no ar corrompido pela desordem.