O anúncio feito à mão em um post-it verde neon ainda tem cola no verso e letras falhas pela caneta com pouca tinta, as pontas estão amassadas e a escrita é corrida, quase um grito silencioso de desespero. Respiro fundo, mirando-o escondido no meio do capítulo de Direito Financeiro. Eu ainda consigo ouvir Sorn, minha colega de quarto e melhor amiga, dizer "o único problema é que o número de celular é de Busan" quando me entregou o pedaço de papel ontem à noite. E eu não sei exatamente no que me preocupar mais, no fato de Sorn achar que o único problema no anúncio completamente duvidoso e furreca é o interurbano ou eu estar tentada a aceitar essa ideia absurda.
Fecho o livro com rapidez quando um grupo de calouros passa pela minha mesa e solto, em seguida, um palavrão sôfrego de susto. Enquanto eu os observo caminhar por entre as cadeiras da biblioteca e desaparecer por um dos milhares de corredores daqui, eu penso se essa decisão me levará ao fundo do poço de vez.
Ou mais ao fundo ainda, levando em consideração que eu já me considero lá.
Sucumbo sobre a cadeira, cansada de tentar arranjar soluções para um problema tão idiota. Tão idiota. Ex-namorados deveriam desaparecer do mundo no momento em que nos desligamos deles, não colar em nossas vidas como sanguessugas cretinas. Ainda mais colar em nossas vidas como sanguessugas cretinas trazendo a atual namorada junto. Namorada há duas semanas.
Duas semanas.
Isso é ridículo.
Passo meus olhos pela biblioteca vagarosamente, mas não existe ninguém mais aqui além de mim e os recém-chegados estudantes já desaparecidos. Trago então o livro para a beirada da mesa e o abro novamente no exato capítulo onde o miserável anúncio descansa. Quem quer que seja esse cara, escolheu a cor do post-it mais sem graça dos blocos padrões. E tem uma letra horrorosa também. Além de não ser nada caprichoso na hora de manusear o papel. E algo no fato dele não perceber que o escrito está de cabeça para baixo, considerando que a cola no verso está embaixo e não em cima como deveria estar, me deixa realmente incomodada.
Mas em momentos difíceis como esse, eu não sou capaz de julgar alguém, não é?
Quando meus olhos sobem para o saguão outra vez, eles captam uma Sorn extremamente agitada vindo em minha direção, os cabelos curtos presos com várias presilhas para livrar seu rosto dos fios. Nós marcamos de nos encontrar aqui logo após o almoço, antes de suas aulas da tarde começarem. Mas enquanto eu a vejo com as dezenas de livros que ela costuma sempre carregar consigo, além de uma mochila esfarrapada e óculos de grau pendendo na ponta do nariz, eu me pergunto se realmente foi uma boa ideia a chatear com essa história outra vez, ainda mais na semana de entrega de trabalhos.
— Eu acho que eu vou enlouquecer até o fim desse semestre. — É a primeira coisa que ela fala quando afasta a cadeira em minha frente com um dos pés e joga as coisas que carrega em cima da mesa, ignorando por completo toda a política de silêncio do lugar. — É sério.
Franzo o cenho consideravelmente assim que ela solta um suspiro sofrido e se senta, no canto de sua boca ainda resta um pouco do açúcar de confeiteiro do possível donut que comeu de sobremesa. E, pelo meu olhar estar fixado no lugar, ela se olha no reflexo do celular. Durante o tempo em que a manga de seu suéter é responsável pela limpeza, eu miro mais uma vez o post-it ainda escondido.
Será mesmo que não existe outra opção nesse mundo? Eu ainda tenho tempo para encontrar algo melhor do que um anúncio feito em um post-it, não é? Quer dizer, talvez até lá eu consiga arranjar um namorado, ou um encontro qualquer, certo? Até porque o aniversário de Eubin é só daqui há... 22 de abril é... Espera, é daqui três dias?
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Acompanhante de Aluguel • Jungkook
Romance[CONCLUÍDA] Jeon Jungkook não era nada do que dizia o anúncio. Se Yerin precisasse o descrever em poucas palavras, usaria logo: universitário ferrado, mal-humorado e caro. Mas com as cobranças matrimoniais da mãe, o histórico de um término de namoro...